Rumo a
Paris e à energia renovável.
Paris sediará em dezembro deste ano a 21ª
Conferência das Partes (COP 21) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima. Foto: Shutterstock.
Por Jed Alegado*
Manila, Filipinas, 12/8/2015 – Muitos no mundo
consideram que a energia renovável é uma solução de desenvolvimento rentável,
tanto para as nações industrializadas como para as que não o são. Os países se
dão conta lentamente de que o uso de carvão, e a enorme quantidade de emissões
contaminantes que gera, prejudica o ambiente e tem impacto sobre nossas
atividades econômicas.
De fato, segundo Christine Lins,
secretária-executiva da Rede de Energia Renovável para o Século 21, “no ano
passado, pela primeira vez em 40 anos, o crescimento econômico foi dissociado
das emissões” contaminantes. “Há dez anos, as energias renováveis representavam
3% da energia mundial, e agora fornecem 22%, ou seja, realmente dispararam”,
pontuou Lins.
Este fenômeno está liderado, de maneira óbvia, por
países como o Uruguai, que pretende gerar 90% de sua eletricidade com fontes
renováveis a partir de 2015, e a Costa Rica, que manteve 100% de geração com
energias renováveis durante os primeiros cem dias deste ano. Essas nações não
estão sozinhas e rapidamente se tornam a norma em lugar da alternativa.
Inclusive pequenos Estados em desenvolvimento, como Burundi, Quênia e Jordânia,
lideram os investimentos mundiais em energias renováveis, ao medi-las pela
porcentagem de seu produto interno bruto.
Em 2008, as Filipinas aprovaram uma Lei de Energia
Renovável para aumentar sua utilização, “institucionalizando o desenvolvimento
de capacidades nacionais e locais no uso do sistema de energia renovável e para
reduzir a dependência do país dos combustíveis fósseis”. Mas, sete anos depois
de sua implantação, as Filipinas ainda não maximizaram totalmente o uso de
energias renováveis, segundo a Defensores da Ciência e Tecnologia para o Povo,
uma organização não governamental que promove o uso das práticas locais em
ciência e tecnologia.
Nos últimos tempos, o governo filipino deu sua
aprovação para a construção de 21 projetos alimentados a carvão, apesar da
promessa que o presidente Benigno Aquino III fez em 2011, durante o lançamento
do Plano Nacional de Energia Renovável para “quase triplicar a capacidade do
país baseada em fontes renováveis, de aproximadamente 5.400 megawatts (MW), em
2010, para 15.300 MW em 2030”.
Nos próximos cinco anos, as novas centrais a carvão
previstas para serem construídas são a de 300 MW da Aboitiz, subsidiária da
Therma South Inc., em Davao (2016); a expansão de 400 MW da usina de Pagbilao,
da Team Energy, em Quezon (2017), a usina de 600 MW da Redondo Península Energy
Inc., em Subic (2018), a de 300 MW de San Miguel Corp. Global, em Davao (2017),
e a de 600 MW em Bataan (2016).
Embora o governo subsidie as empresas para usarem
energias renováveis, o setor privado não se entusiasma com a ideia por causa
dos ganhos gerados pelo carvão. Além disso, têm a vista posta nos lucros de
curto prazo: é relativamente mais barato aproveitar a chamada “energia suja”.
O informe Empoderar-se Contra a Pobreza: Porque
a Energia Renovável é o Futuro, apresentado no dia 28 de julho pela Oxfam,
indica que, para os pobres dos países em desenvolvimento, é mais barata a
energia renovável do que o carvão. O documento afirma que, devido à mutante
paisagem energética mundial, à redução do preço das energias renováveis e à
frequentemente remota localização da maioria das pessoas que não têm acesso à
eletricidade, essas fontes podem ser mais confiáveis e efetivas.
Além disso, segundo o estudo, “quatro em cada cinco
pessoas sem eletricidade vivem em áreas rurais que costumam não estar
conectadas à rede central de energia, por isso as soluções locais de energia
renovável oferecem uma solução muito mais barata, prática e saudável do que o
carvão”.
O informe acrescenta que, “além de não melhorar o
acesso à energia para os mais pobres do mundo, queimar carvão contribui com
centenas de milhares de mortes prematuras a cada ano devido à contaminação
aérea, e é o maior contribuinte individual à mudança climática”.
Isso confirma declarações feitas este ano pelo
Banco Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo ex-secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, que argumentaram que as fontes renováveis, e não os
combustíveis fósseis, são a chave para melhorar o acesso à energia e reduzir a
desigualdade, especialmente nos países em desenvolvimento.
Se as Filipinas querem mostrar ao mundo que são o
ponto de encontro contra a mudança climática, especialmente na 21ª Conferência
das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança
Climática (CMNUCC), que acontecerá de 30 de novembro a 11 de dezembro em Paris,
nosso governo terá que dar o exemplo em matéria de energia renovável.
Jed Alegado
De fato, as práticas de adaptação climática não são
suficientes. Precisamos mostrar a outros países e liderar o caminho para a
mitigação climática, liderando o caminho para o desenvolvimento sustentável e o
uso de energia renovável.
De modo semelhante, na capital francesa os países
que integram a CMNUCC devem chegar a um acordo justo e legalmente vinculante.
Não podemos nos dar o luxo de as negociações climáticas fracassarem novamente,
como aconteceu em 2009 em Copenhague.
* Jed Alegado é ativista climático residente
nas Filipinas, tem mestrado em gerenciamento público pela Ateneo School of
Government, e é um dos que realizam o acompanhamento da campanha #Call4Climate
da Adopte um Negociador.
Fonte: ENVOLVERDE
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