Modelo
avalia biomassa de cana para geração de energia.
Biomassa de cana-de-açúcar: alternativa ao
abastecimento e segurança energética. Foto: Divulgação/ Internet.
Por Alicia Nascimento Aguiar, para Agência USP
–
Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq) da USP, em Piracicaba, um estudo teve como objetivo identificar e
quantificar o potencial de biomassas de cana-de-açúcar (bagaço e palha) para
geração de energia e produção de etanol celulósico.
A pesquisadora responsável pela dissertação de
mestrado, Natália de Campos Trombeta, relata em seu estudo que, nacionalmente,
a matriz energética vincula-se majoritariamente à fonte hídrica fazendo com
que, em períodos de escassez pluvial, a segurança energética seja comprometida.
Nesse contexto, conta a pesquisadora, que a energia termelétrica, em especial,
a produzida por meio de biomassa de cana-de-açúcar, mostra-se como uma
alternativa sustentável ao abastecimento e segurança energética do País. “O
setor sucroenergético vem se destacando não somente como o fornecedor do
biocombustível com maior balanço energético, mas também pelos produtos
secundários gerados a partir dos produtos obtidos após a colheita e o
processamento da cana-de-açúcar no processamento da cana-de-açúcar”, afirma
Natália.
Dessa forma, a pesquisadora realizou um mapeamento das unidades produtoras de cana-de-açúcar da região Centro-Sul, utilizando-se de um levantamento de dados para a safra 2013/2014 com 77 usinas para o desenvolvimento de indicadores agronômicos (quantificação da oferta de bagaço e palha de cana-de-açúcar), tecnológicos (potencial de cogeração do setor) e mercadológicos (preços de energia elétrica, participação nos diferentes ambientes de comercialização).
A partir dessas informações foi proposto um modelo
matemático de alocação ótima de oferta de biomassa das mesorregiões produtoras
da região Centro-Sul, com a finalidade de promover a maximização do lucro do
setor canavieiro. “O estudo contribuiu com a divulgação de uma série de
indicadores agronômicos, tecnológicos/industriais e mercadológicos que
possibilitaram o dimensionamento e compreensão da condição tecnológica do setor
sucroenergético e potencial de participação na geração de energia elétrica e
contribuição para a segurança energética nacional”, ressalta a pesquisadora.
De acordo com Natália, o modelo também foi sugerido
para identificar as mesorregiões com maior potencial de fornecimento de
biomassa de cana-de-açúcar para produção de energia e as mesorregiões com maior
potencial de investimento em ampliação do parque cogerador. “Outro resultado
importante foi a identificação da alocação ótima de biomassas de cana entre as
principais regiões produtoras do país, bem como os locais de maior viabilidade
de expansão da capacidade instalada de geração, ampliando o aporte de energia
elétrica à base de biomassa de cana no sistema interligado nacional”, comenta.
Outros dois fatores integraram a proposta do modelo
– entender o “mix” ótimo de escolha na utilização de biomassas de
cana-de-açúcar nas mesorregiões estudadas e, finalmente, interpretar esses
resultados do ponto de vista econômico, sob diferentes cenários setoriais.
“Nesse caso, simulou-se um cenário com parâmetros vinculados à produção de
etanol celulósico e os resultados evidenciaram que essa tecnologia, desde que
competitiva, pode ser incorporada ao setor e coexistir com oferta de energia
elétrica adicional a matriz energética do país”, avalia a pesquisadora.
Resultados finais
Os dados levantados pelo desenvolvimento dessa
pesquisa operacional aplicada proporcionaram a geração de resultados coerentes
e norteados à melhor assertividade do planejamento estratégico da alocação de
biomassa no setor para fins energéticos (eletricidade e etanol). Esses efeitos
foram divulgados de forma média para o Brasil e mesorregiões localizadas na
região Centro-Sul. De modo geral, os indicadores agronômicos para uma usina
média do Brasil apresentam moagem média de 3 milhões de toneladas de cana, 8%
de impureza vegetal e 88% de colheita mecanizada. Tais indicadores proporcionam
uma oferta de bagaço e palha ao sistema de, aproximadamente, 1 milhão de
toneladas de biomassa.
Os indicadores tecnológicos no Brasil evidenciaram
que 39% das caldeiras amostradas apresentaram tecnologia de baixa pressão de
vapor (21 bar), 22% (até 48 bar), 5% (até 65 bar) e 34% (acima de 65 bar). Os
turbogeradores amostrados foram de 69% contrapressão simples, 14% com extração
e 17% condensação.
Nos indicadores mercadológicos verificou-se que, para as usinas que exportaram energia, na safra 2013/2014, a participação de 53% no mercado livre a preços médios de R$ 230,00/MWh e 47% no mercado regulado com precificação de R$ 191,00/MWh. Relativamente aos resultados verificados na modelagem proposta, foi possível avaliar a alocação ótima de biomassa nas mesorregiões e potencial de exportação de energia, etanol celulósico e investimentos de expansão.
“A partir de tais resultados possibilita-se o
direcionamento mais assertivo do planejamento estratégico, de investimentos e
de políticas públicas para o aumento da sustentabilidade do setor canavieiro”,
conclui a pesquisadora.
Destaca-se que esse estudo, desenvolvido no
programa de pós-graduação em Economia Aplicada da ESALQ, sob orientação do
professor José Vicente Caixeta Filho, foi realizado em parceria com o Centro de
Tecnologia Canavieira (CTC), ao longo de 2014, visando ao desenvolvimento de
pesquisa de cunho aplicado e a aproximação das ofertas da Universidade às
demandas da iniciativa privada.
Essa parceria faz parte de mais uma das ações
vinculadas ao Protocolo de Intenções firmado entre a ESALQ e o CTC em 2012, com
a finalidade de promover o incremento e a melhoria contínua do setor
sucroenergético nacional.
Fonte: Agência USP
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