Combate
ao Desmatamento: dá pra fazer mais.
Desmatamento da Amazônia. Foto: Wilson Dias/
Agência Brasil (21/07/2014).ç
Por André Trigueiro –
Zerar o desmatamento ilegal continua sendo um tema
espinhoso para o governo brasileiro. Ao incluir esse assunto na declaração
conjunta com o presidente Obama (há pouco mais de 10 dias), a presidente Dilma
se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2030. Por vias indiretas,
avalizou o desmatamento ilegal por mais 15 anos ou pelo menos deixou claro que
o governo não tem interesse em combater a ilegalidade num período de tempo mais
curto ou não se julga em condições de fazê-lo.
Acrescente-se na lista de hipóteses a que parece
ser a mais provável: um governo fraco politicamente não ousaria contrariar os
interesses da bancada ruralista – cuja principal liderança encontra-se hoje no
exercício da função de ministra da agricultura – que construiu historicamente o
discurso de que não há como produzir mais alimentos sem expandir a fronteira
agrícola na direção das florestas.
Anunciou-se também, para 2030, a meta de restaurar
e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas (120 mil km²), o que pode ser
entendido como um objetivo conservador se confrontado com o Código Florestal.
Alguns estudos indicam que se o Código for cumprido à risca, e os proprietários
rurais recuperarem nos termos da lei o que foi desmatado, será possível
revegetar aproximadamente o dobro da área anunciada hoje. Será que o próprio
governo reconhece problemas no cumprimento da lei?
2030 também foi o prazo estimado para que a nossa
matriz energética seja composta de 28% a 33% por fontes limpas e renováveis
além da geração hidráulica. De acordo com o Observatório do Clima, o Brasil
conta hoje com aproximadamente 29% de fontes limpas e renováveis além da
hidroeletricidade, o que significa um avanço tímido, bastante conservador. A
energia eólica (que em poucos anos de investimentos já responde por 5% da
matriz) continua em franca expansão a um custo baixo, enquanto a energia solar
atraiu 382 projetos para o leilão da EPE (Empresa de Pesquisa Energética)
marcado para o próximo mês de agosto, quando serão ofertados 12.528 megawatts
(MW), valor superior ao que deve ser gerado pela usina hidrelétrica de Belo
Monte, no Pará, com capacidade instalada de 11.000 MW.
Parece que estamos com o pé no freio. Que as
excelentes oportunidades de negócio da economia de baixo carbono ainda causam
alguma desconfiança no atual governo. Ou que ainda não nos sentimos preparados
– embora tenhamos todos os recursos ao nosso alcance – para sermos
protagonistas e não coadjuvantes dessa história.
* André Trigueiro é jornalista com
pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a
disciplina geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo
Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia
para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos
livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal
Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela Editora FEB, em 2009. É
apresentador do Jornal das Dez e editor chefe do programa Cidades e Soluções,
da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da
Rádio Rio de Janeiro.
Fonte: Mundo Sustentável
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