As grandes ameaças à humanidade.
As graves inundações estão entre os principais
efeitos devastadores da mudança climática, como as que afetaram a ilha caribenha
de Dominica em 2011. Foto: Desmond Brown/IPS.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 21/7/2015 – Pode-se dizer que o
mundo está dividido quanto qual seria a maior ameaça à humanidade, se a
devastação causada pela mudança climática ou o desenfreado terror semeado pelo
Estado Islâmico (EI). De acordo com um estudo do Centro de Pesquisa Pew, que
mediu as percepções das pessoas sobre qual é a maior ameaça internacional, a
mudança climática figura como a “maior preocupação” dos entrevistados em todo o
mundo.
“Porém, os entrevistados norte-americanos, europeus
e do Oriente Médio costumam mencionar com mais frequência o EI como sendo a
maior ameaça de todos os problemas internacionais apresentados, diz o estudo.
Os consultados de 19 países, dos 40 onde a pesquisa
foi realizada, mencionaram a mudança climática como sua maior preocupação, por
isso é o principal problema entre todos os mencionados no estudo. Uma média de
61% dos latino-americanos ouvidos disseram estar muito preocupados com a
mudança climática, a maior proporção em todas as regiões.
O estudo do Centro Pew, que se descreve como
independente, entrevistou 45.435 pessoas em 40 países entre 25 e 27 de março.
Michael Dorsey, membro do Clube de Roma e
especialista em governança global e sustentabilidade, disse à IPS que, “se as
pessoas temem mais a mudança climática do que o terrorismo, temos que repensar
os enfoques coletivos e reguladores para as entidades responsáveis pela
contaminação.
“Se aceitamos o fato de que a contaminação do
carbono é causa de mortalidade e morbidade, de ecossistemas comprometidos e de
ameaça à sociedade, então as instituições e as empresas que contaminam, bem
como os que optam por financiar os contaminadores, são semelhantes aos que
trabalham com entidades vinculadas e/ou que financiam o terrorismo”, opinou
Dorsey.
Por isso não surpreende que em algumas jurisdições
as autoridades avalizem leis que costumam ser aplicadas ao crime organizado
contra os que negam a crise climática em curso, afirmou Dorsey, professor
visitante e conferencista em várias universidades da África e Europa, além de
diretor interino de energia e ambiente do Centro Conjunto para Estudos
Políticos e Econômicos.
“Um senador norte-americano (Sheldon Whitehouse, de
Rhode Island) sugeriu que utilizássemos a lei sobre organizações influenciadas
pela extorsão e corrupção, conhecida como lei Rico (sigla em inglês), contra a
indústria de combustíveis fósseis, suas associações comerciais e os institutos
de política conservadores, que negam abertamente a mudança climática e o
exacerbam”, apontou Dorsey.
A pesquisa indica que a instabilidade econômica
também tem lugar de destaque entre as principais preocupações em vários países,
e é o segundo motivo de preocupação para metade dos consultados. “Por outro
lado, outros assuntos como o programa nuclear do Irã, bem como ciberataques
contra governos, bancos ou corporações, se limitam a alguns poucos países. As
tensões entre Rússia e seus vizinhos e as disputas territoriais na Ásia
continuam sendo, em grande parte, preocupações regionais”, diz o estudo.
Patrícia Lerner, assessora política do Greenpeace
Internacional, afirmou à IPS que não se surpreende pelo fato de quase metade
dos entrevistados dos países estudados mencionarem a mudança climática com sua
maior preocupação. “Os que estão à frente da luta contra a mudança climática e
seus resultados catastróficos costumam ser os primeiros a reconhecer a
verdadeira ameaça que apresenta”, acrescentou.
Para outros pode ser uma ameaça invisível e ainda
não a reconhecem como um risco existencial que exacerbará seus outros temores,
como o terrorismo, as tensões internacionais e a instabilidade econômica,
quando as pessoas são obrigadas a abandonar suas casas por causa de secas,
inundações e/ou aumento do nível do mar, acrescentou Lerner.
Para essa ativista, “o círculo mortal de perfurar o
Ártico em busca de petróleo para queimá-lo e criar dióxido de carbono – que
depois derreterá o Ártico, elevará o nível do mar e deslocará as pessoas que
vivem nas pequenas ilhas – é uma clara demonstração da miopia dos governos e
das empresas que não conseguem reconhecer que a mudança climática é uma ameaça
para todos, vivam onde viverem”.
Doreen Stabinsky, professora de política ambiental
do College of the Atlantic, no Maine, disse à IPS que “o que chama a atenção é
a elevada preocupação que aparece nos países da América Latina e África”. Essas
regiões estão à frente na luta contra a mudança climática, e os riscos nesses
lugares se tornam uma triste realidade de mais tempestades extremas, secas e
colheitas perdidas, acrescentou.
“Espera-se que as grandes preocupações das pessoas
se traduzam em resoluções práticas por parte dos governantes em Paris, em
dezembro, onde será preciso convencer os países ricos responsáveis por essas
consequências a reduzirem seriamente suas emissões contaminantes e oferecerem o
necessário apoio econômico para que as nações em desenvolvimento façam o
mesmo”, afirmou Stabinsky, professora visitante de mudança climática na
Universidade de Uppsala, na Suécia.
Ela se referia à 21ª Conferência das Partes (COP
21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que
acontecerá em dezembro na capital francesa.
Mas o estudo também mostra que um importante número
de entrevistados em 14 países se mostrou preocupados pelas atividades do Estado
Islâmico. Na Europa, uma média de 70% dos consultados disse estar preocupada
pela ameaça que representa o EI, enquanto uma maioria de norte-americanos
(68%), canadenses (58%) e libaneses (84%) também se mostraram preocupados a
esse respeito.
Os entrevistados israelenses foram os únicos que
qualificaram o Irã como sua principal fonte de preocupação entre todos os temas
do âmbito internacional. Os norte-americanos também mencionaram o programa
nuclear iraniano: cerca de seis em cada dez norte-americanos (62%) colocaram o
Irã como segundo tema de maior preocupação entre os apresentados pelo estudo.
A instabilidade econômica foi a maior preocupação
em cinco países e a segunda em outros 20. Na Rússia, 43% dos entrevistados
disseram estar muito preocupados com a economia, o maior motivo de preocupação
de todos os assuntos apresentados.
A ameaça de ciberataques contra governos, bancos ou
corporações não figura entre os principais motivos de preocupação em escala
mundial, embora em alguns lugares apareçam com destaque, como nos Estados
Unidos (59%) e na Coreia do Sul (55%).
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário