Peru dá
exemplo em plano de ação climática.
Moradora de Combayo, no Peru. A participação da
cidadania é fundamental para que o país realize seus ambiciosos planos de ação
climática. Foto: Cortesia La República/IPS.
Por Chris Wright, da IPS –
Bonn, Alemanha, 21/7/2015 – O Peru se converteu no
primeiro país sul-americano a anunciar publicamente seu plano de ação climática
para reduzir a emissão de gases-estufa que provocam o aquecimento global. Na
América Latina, o México foi o primeiro a apresentar as chamadas contribuições
previstas e determinadas em nível nacional (INDC), que todos os países devem
apresentar à Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática
(CMNUCC).
O estabelecimento das INDC foi acordado na 19ª
Conferência das Partes (COP 19), realizada em 2013, em Varsóvia, na qual se
decidiu que cada Estado tem prazo até outubro deste ano para comunicar essas
contribuições, a fim de serem analisadas na COP 21, que acontecerá em dezembro,
em Paris.
O plano do Peru, elaborado após 12 anos de
planejamento coletivo para desenvolver um conjunto de estratégias regionais e
nacionais em resposta à mudança climática, propõe uma ambiciosa redução de 31%
em suas emissões. No caso do México, que apresentou as INDC em março, o
compromisso é diminuir em 25% suas emissões totais até 2030, em relação às
registradas em 2013.
O mapa do caminho cuidadosamente elaborado para
atingir esse objetivo revela a autêntica “liderança” do plano peruano, segundo
Tania Guillén, da Climate Action Network Latino-Americana. Para ela, que também
pertence à rede de organizações Suswatch, o projeto de plano de ação é “um
exemplo para outros países latino-americanos que ainda estão desenvolvendo ou
nem começaram seus processos de planejamento nacional”.
A meta de 31% de redução nas emissões do Peru está
apoiada por 58 projetos de mitigação que incluem energia, transporte,
agricultura, silvicultura e gestão de resíduos. Embora dois desses projetos
impliquem a passagem do carvão para o gás natural, e não para uma fonte de
energia renovável, cada uma das opções foi cuidadosamente identificada, bem
como quantificado seu potencial de redução de emissões.
Isso facilitará o pedido de ajuda de Lima aos
países industrializados para melhorar seus compromissos. De fato, o governo
também descreveu a maneira como pode aumentar a redução de emissões em até 42%,
com a incorporação de 18 projetos adicionais.
Marcela Jaramillo, da organização E3G, acredita que
este é um aspecto fundamental da proposta peruana que outros países devem
imitar. É necessário que as INDC estejam “refletidas em planos de investimento
que sejam atraentes para os recursos nacionais e internacionais”. Tais recursos
“vão gerar ação sobre o terreno por parte do governo e do setor privado, e tudo
isso com o apoio fundamental da participação ativa da cidadania”, destacou.
O compromisso da cidadania pode ser fundamental
para que o Peru concretize seus planos. Mas sua mais recente promessa também
torna o país vulnerável. Alguns temem que, devido à sua deficiente aplicação no
passado, o governo se exponha ao fracasso.
Em 2014, organizações não governamentais reunidas
na COP 20, realizada em Lima, criticaram a lei 30.230 porque “desvincula a
proteção ambiental do crescimento econômico”, segundo afirmaram. A preocupação
é que os órgãos que supervisionam o ambiente no Peru tenham a faculdade de “regular
e supervisionar a atividade econômica como se fosse o desenvolvimento de
energia e infraestrutura”.
Outras preocupações se referem às projeções de
Lima. Após anos de instabilidade política e conflitos na década de 1980, o Peru
se transformou em um dos 20 países com maior liberdade econômica, além de ter
um crescimento relativamente constante de 5,5% ao ano, segundo o informe anual
de 2014 da organização Liberdade Econômica Mundial. Mas esse crescimento sofreu
uma desaceleração nos últimos 12 meses, o que não está representado nas
projeções das emissões apresentadas por Lima, baseadas em sua taxa de
crescimento até 2013.
Se o país não modificar sua atividade econômica,
suas emissões anuais aumentarão para 216 milhões de toneladas de dióxido de
carbono, as quais chegariam a 243 milhões em 2025 e a 269 milhões em 2030. Como
apontou Guillén, “os processos de consulta includentes e participativos são
cruciais para a definição das INDC no Peru, e também em todos os países da
América Latina e do Caribe”.
Bitia Chávez, da organização Generacion+1, afirmou
que é fundamental os peruanos estarem “conscientes e plenamente comprometidos
nesse processo para contribuir positivamente para o ambiente”. Entretanto, os
peruanos não terão que decidir apenas sobre essa promessa de mitigação nas
INDC, mas também sobre um amplo pacote de adaptação que Lima desenvolveu e que
se concentra na redução da vulnerabilidade de sua população majoritariamente
agrária, que inclusive tem indicadores diferentes para a forma de cumprir as metas.
Isso inclui setores, objetivos e indicadores específicos de adaptação.
Considerando que vários países em desenvolvimento
propõem que o acordo de Paris inclua um objetivo global de adaptação, a
inclusão de metas de adaptação que possam ser quantificadas dentro das INDC
peruanas poderia ser um passo que outros países poderiam aplicar. É possível
que esse seja um dos objetivos do Peru, como indicou a ativista argentina Tais
Gadea Lara. As INDC peruanas podem ser uma chamada de atenção para alguns dos
países vizinhos que “ainda não se deram conta do poder que têm em suas mãos
para participar ativamente com a entrega de INDC ambiciosas”.
No caso da Argentina, há uma defasagem entre a
firme postura que apresenta nas negociações e a falta de ação em nível nacional,
ressaltou Lara. Ela espera que “Argentina, Peru, Brasil e todos os países da
região possam começar a fazer história com ambiciosos e quantificados planos de
ação climática, que demonstrem a liderança do continente em matéria de mudança
climática”.
Fonte: ENVOLVERDE
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