Sol,
terra, ar: energia pouco aproveitada.
A cooperativa Coopesantos instalou em 2011 um
parque eólico nas montanhas de La Paz e Casamata, cerca de 50 quilômetros a
sudeste da capital da Costa Rica. Com capacidade instalada de 12,7 megawatts e
15 torres eólicas, a instalação abastece 120 comunidades vinculadas à
cooperativa. Foto: Diego Arguedas Ortiz/IPS.
Por Diego Arguedas Ortiz, da IPS –
São José, Costa Rica, 28/7/2015 – Com localização
privilegiada pelas correntes aéreas e pela radiação solar, a América Central
continua presa à geração de energia térmica e hidrelétrica em grande escala e
desperdiça a possibilidade de incluir as comunidades em projetos menos
invasivos e mais limpos. Embora há anos tente avançar na geração de energia
renovável, a região tem, em média, 36% de eletricidade produzida a partir de
enormes usinas que consomem carvão e derivados de petróleo.
Os tomadores de decisão da América Central ainda
desprezam o enorme potencial eólico e solar que poderia reduzir suas emissões
de carbono e, principalmente, empoderar comunidades vulneráveis, em especial em
áreas distantes, facilitando seu acesso à eletricidade.
“De maneira geral, a região não está aproveitando
todo o seu potencial, principalmente porque não escolheu as rotas de inversão”,
observou à IPS Javier Mejía, oficial de energias renováveis do não
governamental Centro Humboltd, da Nicarágua. Ao contrário dos megaprojetos do
passado, “os solares e eólicos poderiam ter mais lugar em zonas isoladas e
atender pequenos grupos populacionais onde for complicado chegar o sistema
interligado”, explicou.
Uma análise do próximo Estado da Região, produzido
pelo Conselho Nacional de Reatores, da Costa Rica, concluiu que a América
Central utiliza apenas 1% de seu potencial eólico. Além disso, esse informe,
que será publicado em 2016 e ao qual um grupo de jornalistas teve acesso,
aponta que os países da região possuem entre duas e três vezes mais radiação
solar anual do que a Alemanha, a líder mundial no aproveitamento dessa fonte. O
estudo utiliza dados de Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua
e Panamá, que em conjunto contam com 45 milhões de habitantes.
Parte das comportas da usina hidrelétrica de Cachí,
construída na década de 1960 no centro da Costa Rica, cuja ampliação, entre
2014 e 2015, elevou sua capacidade de 103 para 150 megawatts. Foto: Diego
Arguedas Ortiz/IPS.
Durante décadas, os países centro-americanos
apostaram em produzir eletricidade com a força dos rios e enormes usinas que
consomem derivados de petróleo ou carvão, apoiados em um sistema que descarrega
a maior parte dos investimentos em corporações privadas. Em 2014, as
hidrelétricas forneceram 45% da eletricidade final da região e os combustíveis
fósseis 36%, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(Cepal).
Segundo Mejía, uma debilidade da região é que
“muitos países dependem do investimento estrangeiro, que muitas vezes é
destinado a megaprojetos que por si só não resolvem a problemática energética e
acarretam uma série de danos sociais e ambientais”.
Um estudo do não governamental Observatório de
Multinacionais na América Latina (Omal), publicado em 2014, revela que 11
empresas privadas (apenas três delas centro-americanas) controlam 40% da
produção elétrica da América Central. Segundo o Omal, a participação estatal
gira em torno dos 35,7%.
A situação da presença de energias limpas na região
varia de país a país. Enquanto a Costa Rica espera fechar 2015 com 97% de sua
eletricidade fornecida por fontes renováveis, Nicarágua e Honduras ainda
abastecem mais da metade de sua demanda com carvão e derivados de petróleo. O
Panamá aumentou sua dependência dos combustíveis fósseis entre 2000 e 2013,
enquanto El Salvador apostou fortemente no potencial geotérmico, uma fonte
abundante no país. A Guatemala se destaca por ter a maior presença relativa de
carvão, a fonte energética mais suja.
A América Central aumentou sua produção eólica e
geotérmica, mas ainda depende em grande parte dos derivados de petróleo e das
hidrelétricas, segundo dados da Cepal. Foto: Diego Arguedas Ortiz/IPS.
O intergovernamental Sistema de Integração
Centro-Americana (Sica) controla o mercado elétrico entre os países do istmo e,
teoricamente, opera como bloco de negociação nas cúpulas climáticas, mas nos
momentos decisivos cada país vota por sua conta. Em uma reunião em Antiga, em
junho, os governantes centro-americanos, junto com os de México e Colômbia, se
comprometeram a manter uma posição conjunta durante a 21ª Conferência das
Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática,
que acontecerá em Paris no mês de dezembro.
As emissões centro-americanas de gases que elevam o
aquecimento global somam apenas 0,8% do total mundial, mas a necessidade de
fazer a mudança para uma matriz energética mais limpa é urgente. O último
informe da Comissão Global sobre Economia e Clima afirma que cerca de 96% das
emissões contaminantes devem ser reduzidas até 2030, se a intenção é manter o
aumento da temperatura global abaixo dos dois graus centígrados, o teto que por
anos foi recomendado pelos cientistas para evitar mudanças irreversíveis no
planeta.
“Apesar de não sermos a origem das principais
emissões de gases-estufa, existe um fator de vulnerabilidade no abastecimento
futuro”, pontuou à IPS o coordenador do informe Estado da Região, Alberto Mora,
que alertou para os efeitos nocivos de uma matriz energética suja nas economias
da região. Entre 2000 e 2013, o peso da fatura petroleira no produto interno
bruto da região passou de 3,5% para 8,5%.
Onze companhias controlam 40% da produção elétrica
na América Central, segundo o Observatório de Multinacionais na América Latina
(Omal). Foto: Cortesia do Omal.
A pesquisa também mostra que os centro-americanos
usam somente 15% de seu potencial geotérmico, a energia mais limpa e mais
estável, embora uma parte importante esteja em áreas protegidas da região.
Porém, Mora recordou que a infraestrutura necessária para aproveitar a energia
armazenada dentro da terra, como ocorre com a hidroeletricidade, costuma ser
mais custosa e mais invasiva do que aquela destinada a usar o potencial das
fontes fotovoltaica e eólica. “Isso deveria nos motivar a diversificar a matriz
energética e a buscar fontes renováveis e locais”, afirmou Mora.
Há passos que a América Central está dando em
direção a essas energias renováveis. Assim reconhece Sonia Wheelock,
coordenadora de incidência e energia para a Nicarágua do holandês Instituto
Humanista de Cooperação com Países em Desenvolvimento (Hivos). “Houve um avanço
bem grande nos últimos 20 anos, mais acentuado na última década, rumo à energia
renovável e principalmente para as não tradicionais”, afirmou à IPS.
Este aumento permitiu a incursão na produção
geotérmica e eólica, que juntas agora somam 12% do total regional, contra 8% há
uma década. Lentamente, isso está fechando certas brechas entre as comunidades
mais necessitadas e as cidades com maior desenvolvimento energético. Porém,
Wheelock diz que, “nas condições atuais, se não houver uma mudança de
prioridades, duvido que possamos chegar a avançar muito mais do que avançamos
em energias renováveis”.
Na falta de políticas públicas claras, a geração
renovável comunitária foi liderada pela Aliança Centro-Americana para a
Sustentabilidade Energética (Accese), formada pela sociedade civil para
impulsionar o aproveitamento das fontes de energia renováveis de baixa potência
e a eficiência energética.
“As energias renováveis resolvem o problema dos
sistemas de combustíveis fósseis que estão baseados em matérias-primas importadas
e contaminantes, e ao mesmo tempo facilitam o acesso à energia para as pessoas
que não a têm”, ressaltou à IPS a coordenadora da Accese, Melina Campo.
Para
ela, há um amplo potencial que permite aproveitar tanto “o caráter ambiental da
energia renovável quanto o caráter humano. Creio que este é o o cerne da questão”,
acrescentou.
Fonte: ENVOLVERDE
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