Prefeitos
pedem recursos para combater mudança climática.
Foto: Solange Souza/Frente Nacional de Prefeitos
Por Cíntya Feitosa, do OC –
Governantes de municípios de todo o mundo discutem
ações locais para combater mudanças climáticas e pedem acordo ambicioso em
Paris.
A militância do papa Francisco na agenda do clima
não se encerrou com a Laudato Si. A convite do pontífice, 60 prefeitos de todo
o mundo estiveram reunidos nesta terça e quarta-feira no Vaticano, no workshop
“Escravidão Moderna e Mudanças Climáticas: o Compromisso das Cidades”. Em
sintonia com a encíclica papal, a comitiva brasileira divulgou carta cobrando
compromisso ambicioso dos governos de todo o mundo na COP 21, mas também
reconhecendo o papel dos governos locais em contribuir na agenda climática.
Na declaração, os prefeitos brasileiros destacam que
os efeitos das mudanças no clima atingirão especialmente populações mais pobres
e pedem transferência de recursos de países mais ricos para os países em
desenvolvimento e transferência direta para as cidades.
Em sua apresentação no evento, o prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad, afirmou que os prefeitos estão envolvidos diretamente
na “salvação do planeta”, em especial na construção de políticas públicas
eficazes em mobilidade, redução de emissão de gases, destinação de resíduos
sólidos e até iluminação pública. “As nossas cidades se transformaram em ilhas
de calor. Se quisermos garantir qualidade de vida aos nossos cidadãos, temos
que enfrentar a agenda ambiental em primeiro lugar.” O prefeito destacou ações
na cidade de São Paulo, como a construção de ciclovias e a instalação de
lâmpadas mais econômicas.
Haddad também cobrou atenção às demandas sociais,
em especial porque questões ambientais como o aquecimento do planeta devem
atingir de maneira mais drástica os mais pobres. “Em geral, os discursos colocam
em oposição a agenda social e a ambiental. E a agenda ambiental leva uma
vantagem, por afetar pobres e ricos.”
Além de Haddad, assinam a carta os prefeitos Marcio
Lacerda (Belo Horizonte), Eduardo Paes (Rio de Janeiro), ACM Neto (Salvador),
Gustavo Fruet (Curitiba), José Fortunati (Porto Alegre) e Paulo Garcia
(Goiânia).
Declaração global
A carta brasileira está em consonância com a
declaração final de todos prefeitos reunidos no Vaticano, também assinada pelo
papa Francisco. O texto destaca que as agendas social e ambiental não se opõem.
“Hoje, a humanidade tem os instrumentos tecnológicos, os recursos financeiros e
o know-how para reverter a mudança climática e ao mesmo tempo acabar com a
pobreza extrema, através da aplicação de soluções de desenvolvimento
sustentável, incluindo a adopção de sistemas de energia de baixo carbono
suportados pelas tecnologias de informação e comunicação”, diz a declaração.
Os prefeitos pedem um acordo efetivo em Paris e
compromisso dos países ricos em auxiliar os países em desenvolvimento. “Os
países de alta renda devem ajudar a financiar os custos da atenuação das
alterações climáticas em países de baixa renda, como têm prometido fazer.” A
declaração pode ser lida na página do Vaticano, em
inglês.
Leia, abaixo, a carta brasileira.
“Declaração dos prefeitos brasileiros.
A dificuldade na construção de um acordo
internacional entre os chefes de Estado que contemple diretrizes mais
audaciosas e efetivas no enfrentamento às mudanças climáticas já tem reflexos
na piora da qualidade de vida das pessoas, em especial dos mais pobres. Essa
situação coloca em risco os avanços conquistados no enfrentamento da miséria e
das desigualdades nas ultimas décadas, refletindo-se no dia-a-dia das cidades
que governamos.
Em sintonia com a Encíclica “Laudato Si”,
reconhecemos a urgência de atender as necessidades dos mais pobres. Para
enfrentar esse injusto cenário de desigualdades os 5.570 prefeitos brasileiros
estão empreendendo esforços para que os excluídos possam superar a situação de
vulnerabilidade. São políticas públicas estratégicas de inclusão social
abrangendo educação, saúde, habitação, saneamento, transporte público, geração
de renda, emprego, empreendedorismo e cooperativismo.
Reconhecemos também a responsabilidade dos governos
locais em contribuir com a reversão da atual crise climática global. Há
prefeitos brasileiros adotando metas para desatrelar o desenvolvimento das
cidades do aumento de emissões de Gases de Efeito Estufa em seus territórios e
nos padrões de produção e consumo. E, sabendo que esses esforços iniciais ainda
são insuficientes, trabalharemos para incorporar a visão do desenvolvimento
urbano de baixo carbono e resiliente às mudanças climáticas nos planejamentos
das cidades brasileiras.
Cientes de que as mudanças climáticas são um
desafio global, pleiteamos que os governos nacionais, e em especial o governo
brasileiro, envide esforços na construção de acordos na cúpula do clima em
Paris no final deste ano (COP21) que mantenham o aquecimento global induzido
pelo homem abaixo de 2ºC, e tenham como objetivo avançar para níveis mais
seguros.
Globalmente, como estratégia para enfrentar esse
cenário desastroso, propomos a transferência de recursos e tecnologias dos
países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, em especial aos mais
pobres, e diretamente às cidades, visto que os primeiros são os que
historicamente mais consomem recursos naturais e contribuem para o agravamento
das mudanças climáticas.
Diante disso, reivindicamos ainda o reconhecimento,
pela Organização das Nações Unidas (ONU), dos governos locais como atores
fundamentais na promoção da sustentabilidade global e do desenvolvimento
humano.
Roma, 20 de julho de 2015
Marcio Lacerda – Prefeito de Belo Horizonte (MG) e
Presidente da FNP
Fernando Haddad – Prefeito de São Paulo (SP)
Eduardo Paes – Prefeito do Rio de Janeiro (RJ)
ACM Neto – Prefeito de Salvador (BA)
Gustavo Fruet – Prefeito de Curitiba (PR)
José Fortunati – Porto Alegre (RS)
Paulo Garcia – Prefeito de Goiânia (GO)”
(Observatório do Clima/ #Envolverde)
Fonte: Observatório do Clima
Nenhum comentário:
Postar um comentário