Recorde
histórico de CO2.
Por Claudio Angelo, do OC –
A notícia correu o mundo nesta semana: a
concentração de dióxido de carbono na atmosfera ultrapassou em março a marca
simbólica de 400 partes por milhão, segundo anunciou a Noaa (Agência Nacional
de Oceanos e Atmosfera dos EUA). É a primeira vez que isso acontece desde que a
agência começou a medir esse gás em 40 pontos diferentes do planeta, na década
de 1980.
Da última vez que houve tanto CO2 na atmosfera, provavelmente
3,5 milhões de anos atrás, não existiam seres humanos, nem gelo no polo Norte.
A temperatura média global era de cerca de 3oC mais alta do que no período
pré-industrial. O nível do mar era 4 a 5 metros mais alto do que hoje.
O anúncio foi tratado pela imprensa internacional
como um “alerta vermelho” no ano da conferência do clima de Paris, que deveria
(mas tem gente que acha que não vai) apontar o início da solução do problema do
aquecimento global. Embora o recorde seja em si importante, o problema real é a
tendência que ele indica.
Quatrocentas partes por milhão, ou ppm, é um número
pequeno. Significa que, em cada milhão de moléculas de ar, há 400 de gás
carbônico (lembre-se de que a atmosfera é composta quase totalmente de
nitrogênio e oxigênio; o CO2 é um dos “gases-traço”, daqueles que juntos formam
1% da composição do ar).
Acontece que o gás carbônico faz o melhor estilo
“chiquitito, pero cumplidor”: ele é extremamente eficiente em reter na
atmosfera o calor que a Terra irradia em forma de radiação infravermelha. Não
satisfeito, ele ajuda a elevar, por evaporação, os níveis atmosféricos de outro
gás-estufa muito potente: o vapor d’água. Isso mesmo: como sua mãe já deve ter
dito, até água em excesso faz mal.
As medições da concentração de CO2 na atmosfera
começaram a ser feitas em 1958 pelo americano Charles Keeling no alto do vulcão
Mauna Loa, no Havaí. O local foi escolhido por estar bem longe de fontes de
poluição que pudessem enviesar as amostras de ar. O Mauna Loa, a 4.000 metros
de altitude e no meio do Oceano Pacífico, representa bem como o CO2 está
misturado à atmosfera global.
Quando as medições de Keeling começaram, a
concentração de CO2 no ar estava em 315 ppm. Em 2013 elas ultrapassaram 400 ppm
no Mauna Loa pela primeira vez, para caírem em seguida e fecharem o ano em 393
ppm. Os dados da Noaa mostram que o mesmo sinal foi detectado não apenas em um
ponto, mas em dezenas de lugares diferentes mundo afora.
Assim como aconteceu em 2013, o valor vai cair nos
próximos meses e fechar o ano abaixo de 400 ppm. A oscilação acontece porque no
final do inverno no hemisfério Norte, onde está a maior parte das terras
(portanto, da vegetação) do mundo, há muito carbono no ar. Ele vem da da
decomposição das folhas que caíram no outono. Na primavera, a rebrota sequestra
esse CO2 e a concentração cai novamente.
O problema, claro, é que essa concentração vem
subindo de forma acelerada ano após ano. Em todo o período pré-industrial, a
concentração de CO2 na atmosfera jamais ultrapassou 280 ppm. Do surgimento da
espécie humana até o ano em que Keeling começou a fazer suas medições, o
aumento foi de 12,5%, no máximo. Da primeira vitória do Brasil numa Copa do
Mundo até hoje, o aumento já foi de outros 27%. A velocidade anual de
crescimento dobrou entre 2000 e 2010 em relação a 1960-1970. Metade do aumento
verificado desde a aurora da humanidade aconteceu depois de 1980.
A chamada “curva de Keeling”, com o crescimento das
concentrações de CO2 desde a década de 1950.
Nesse ritmo, o CO2 terá dobrado em relação à era
pré-industrial antes do final do século. Os modelos climáticos apontam que, com
duas vezes mais CO2 no ar, o aumento da temperatura da Terra seria de cerca de
3oC, valor muito superior ao limite considerado “seguro” (e, para alguns, já
inatingível) de 2oC acima da média pré-industrial. Segundo o IPCC, o painel do
clima da ONU, para ter uma chance de 50% de atingir os 2oC, os níveis de CO2
precisariam estacionar em 450 ppm e depois cair.
Os 400 ppm são um número bizantino, mas importante
por isso: apenas 50 ppm separam a humanidade de entrar em um território
climático nunca antes explorado – e, ao que tudo indica, de forma alguma
agradável.
Fonte: Observatório do Clima
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