Eventos climáticos extremos vão aumentar.
O Brasil é o segundo país no mundo em volume de
tornados e São Paulo é o maior detentor destas ocorrências.
Por Júlio Ottoboni –
Os eventos extremos provocados pelas mudanças
climáticas continuará a castigar o Estado de São Paulo ainda mais,
principalmente as áreas conurbadas como as regiões metropolitanas da capital,
do Vale do Paraíba e de Campinas. A grande concentração urbana em faixas
contínuas ocupando imensas áreas tem provocado episódios potencializados das
alterações nos microclimas regionais.
Eventos como secas prolongadas intercaladas com
grandes tempestades e a presença de fenômenos com alto poder destrutivo como os
tornados serão cada vez mais frequentes. Os invernos deverão ser mais curtos,
os verões ainda mais quentes e as tempestades substituirão de vez as chuvas
brandas e prolongadas. Assim como epidemias agravadas pelo desequilíbrio
ambiental, como dengue e malária. O cenário é dos piores.
O alerta vem dos principais centros de pesquisas do
país, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden),
ambos de São José dos Campos, além de estudos de diversas universidades
como da Unicamp e da USP entre outras, inclusive do exterior.
No último dia 20 um tornado F3 na escala Fujita
atingiu em cheio a cidade Xanxerê, Santa Catarina, e outros 33 povoados em seu
caminhado. No seguinte, foi a vez da cidade de Ponte Serrada ser devastada pelo
fenômeno. O Brasil é o segundo país no mundo em volume de tornados e São Paulo
é o maior detentor destas ocorrências. O Vale do Paraíba registra casos
significativos quanto ao fenômeno, como os ocorridos em São José dos Campos,
Cachoeira Paulista, Guaratinguetá, Taubaté entre outras cidades paulistas. No
trecho fluminense, Volta Redonda e Resende já registraram o surgimento de
tornados.
Há 20 anos, esse fenômeno formado a partir de
nuvens de cumulonimbus, nome técnico às formações de tempestades, sequer era
reconhecido pelos meteorologistas brasileiros que diziam ser inexistente esse
tipo de ocorrência em território nacional.
Catástofre em Teresópolis
De acordo com uma pesquisa publicada nesta semana
pela revista científica britânica Nature feita pelo Instituto de Ciências
Atmosféricas e Climáticas da universidade ETH Zurique, cerca de 75% de altas
temperaturas extremas registradas no planeta estão ligadas diretamente ao
aquecimento global. E 18% das precipitações extremas também têm a mesma origem
e são decorrentes de ações antrópicas.
O pesquisador do Centro de Ciência do Sistema
Terrestre, Antonio Donato Nobre, é um dos cientistas que tem alertado para a
necessidade de se preparar para o novo modelo de clima na região e sobre a
necessidade urgente de ações mitigadoras.
“Existe uma vasta literatura sobre o assunto, os
eventos extremos vão aumentar de frequência e intensidade com as mudanças
climáticas globais. Temos pelo menos 20 anos de alertas dados. Agora, no
caso de alertas sobre tornados individuais, precisamos ter uma rede de radares
doppler e mesmo assim o melhor que se consegue de antecedência é alguns poucos
minutos. Não era mais fácil termos cuidado do clima planetário, termos
preservado nossas florestas, termos replantado o que foi destruído?”,
questionou o cientista.
Para do Cemaden e criador do Centro de Previsão do
Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), Carlos Nobre, a situação é grave e merece
uma atenção redobrada por parte de todos.
“Só para dar uma ideia, de outubro de 2013 a março
de 2014, choveu cerca de 50% do que deveria ter chovido nesses seis meses. De
outubro de 2014 ao final de março de 2015 choveu 75% do que seria esperado e
ficou 25% abaixo da média ainda, o que é bem seco, mas muito diferente da mega
seca que foi há um ano”, observou.
Para Nobre, as mudanças climáticas vão diminuir o
espaçamento entre as recorrências. Inexiste no momento como saber qual será
essa diminuição.
“Podemos dizer que eventos dessa natureza, que eram
muito raros, vão acontecer com mais frequência e em seus extremos. A mudança
climática cria essa situação, onde havia uma certa variabilidade de fenômenos
extremos raros começam a ficar mais frequentes”.
No caso das áreas conurbadas a tendência é que se
tornem cada vez mais quentes e com isso, propícias as grandes tempestades e
secas mais rigorosas. E a ilha de calor já mudou o ciclo das chuvas em São
Paulo e continuará a alterar nas faixas de aglomerados urbanos. Atualmente, na
capital paulista chove de 30% a 35% a mais do que há 80 anos.
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, pós
graduado em jornalismo científico. tem 30 anos de profissão, atuou na AE,
Estadão, GZM, JB entre outros veiculos. Tem diversos cursos na área de meio
ambiente, tema ao qual de dedica.
Fonte: ENVOLVERDE
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