O
brasileiro e a mudança do clima.
Por Redação do Observatório do Clima –
Para 95% da população, impactos já estão
sendo sentidos, como crise de água e energia; 84% afirmam que o poder público
age de forma insuficiente ou não age para enfrentar o problema.
Uma nova pesquisa do Datafolha mostra que o
brasileiro está muito preocupado com as mudanças climáticas e acha que o
governo não compartilha dessa preocupação.
Segundo o levantamento, encomendado pelo Observatório do Clima e pelo
Greenpeace Brasil, 95% dos cidadãos acham que as mudanças climáticas já estão
afetando o Brasil. Para nove em cada dez entrevistados, as crises da água e
energia têm relação direta com o tema, sendo que para 74% há muita relação entre
a falta de água e luz e as mudanças climáticas. No entanto, para 84% dos
entrevistados, o governo não faz nada ou faz muito pouco para enfrentar o
problema. O Datafolha ouviu 2.100 pessoas em todas as regiões do país.
“O cidadão médio tem um ótimo nível de
entendimento das causas da mudança climática e de seu impacto sobre o cotidiano
da população e mostra que está insatisfeito com o baixo grau de prioridade dado
pelo governo a esse tema, crucial para o desenvolvimento do país”, destaca
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Os entrevistados também demonstraram vislumbrar
as formas de resolver o problema. Entre as soluções apontadas estão a redução
do desmatamento, melhorias no transporte coletivo e investimentos em energias
renováveis. Mais de 80% dos brasileiros acham que essas ações inclusive trarão
benefícios para a economia do país.
A pesquisa mostrou, ainda, que o brasileiro se
enxerga como parte da solução: 62% dos entrevistados estão dispostos a instalar
um sistema de microgeração de energia solar em casa – equipamentos conhecidos
por 74% da amostra. Diante da hipótese de ter acesso a uma linha de crédito com
juros baixos e a possibilidade de vender o excesso de energia para a rede
elétrica, o percentual de interessados sobe para 71%.
“Há uma percepção bastante clara de que a
microgeração de energia solar beneficia o cidadão e o país”, explica Ricardo
Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. Entre as
principais vantagens citadas pelos entrevistados estão a redução nas despesas
com eletricidade (82%), a redução dos impactos de secas prolongadas (77%), a
segurança e confiabilidade dessa fonte (70%) e o fato de que se trata de uma
alternativa às hidrelétricas (69%). Os moradores das regiões Sudeste e Nordeste
foram os que demonstraram maior entusiasmo com o tema.
Atualmente, a microgeração de energia enfrenta
vários entraves como, por exemplo, a forma como o ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) incide sobre a geração de eletricidade do
cidadão que escolhe produzir sua própria energia. Outras questões, como a
criação de linhas de financiamento com baixos juros, também precisam ser
resolvidas.“Trata-se de uma excelente oportunidade para o governo agir em
sintonia com a vontade da sociedade brasileira”, completa Baitelo.
Para pressionar os governadores a assinarem o
convênio nº 16 do CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária), que
permite aos Estados eliminar o imposto ICMS que incide na geração de
eletricidade por meio de painéis solares, tornando essa energia mais barata e
contribuindo para sua popularização, um abaixo-assinado está no ar desde 6 de
maio.
Sobre a atuação do governo, a pesquisa Datafolha
mostra que o brasileiro tem uma percepção bastante crítica: para 48%, o governo
federal está fazendo menos do que deveria em relação às mudanças climáticas;
para 36%, ele simplesmente não está fazendo nada. Os mais críticos são os
brasileiros das regiões Nordeste e Sudeste. Mas, para dois terços da amostra
(66%), o Brasil deveria assumir uma posição de liderança no enfrentamento do
problema em nível internacional. No Nordeste, esse índice chega a 74%.
A pesquisa também confirma que existe um bom
entendimento das causas das mudanças do clima.
Apresentados a nove possíveis
causas, os entrevistados apontaram com mais frequência desmatamento (95%),
queima de petróleo (93%), atividades industriais (92%), queima de carvão
mineral (90%) e tratamento de lixo (87%). Para efeito de teste, a pesquisa
incluía dois fatores que não têm relação com as mudanças climáticas – ambos
ficaram entre os menos apontados pelos entrevistados (El Niño, com 64%, e
mudanças no comportamento do Sol, com 83%). “Considerando a forte oposição
patrocinada por setores que têm interesse em negar que as mudanças climáticas
sejam causadas pela ação humana, este resultado é extremamente significativo,
pois mostra que o negacionismo do clima não colou no Brasil”, analisa Rittl.
A pesquisa foi realizada entre 11 e 13 de março
de 2015. O Datafolha utilizou metodologia quantitativa, realizando entrevistas
pessoais e individuais em pontos de fluxo populacional de 143 municípios de
pequeno, médio e grande porte com pessoas com mais de 16 anos de idade. A
margem de erro para o total da amostra é de 2,0 pontos percentuais para mais ou
para menos.
Leia a pesquisa do Datafolha aqui.
Fonte: Observatório
do Clima
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