Mais de
80% do desmatamento futuro estarão concentrados em apenas 11 lugares.
Vista aérea de plantação de soja em área de Cerrado
nativo, na região de Ribeiro Gonçalves, Piauí, Brasil.
© Adriano Gambarini/WWF-Brasil
Por Redação do WWF Brasil –
Jacarta, Indonésia – Onze lugares do mundo – dos
quais 10 estão localizados na região tropical – serão responsáveis por mais de
80% da perda mundial de florestas até 2030, de acordo com uma pesquisa
divulgada hoje pela Rede WWF.
Até 170 milhões de hectares de florestas poderão
desaparecer entre 2010 e 2030 nessas “frentes do desmatamento”, caso se
mantenha a tendência atual, segundo as descobertas reveladas no último capítulo
da série Relatório Florestas Vivas, da Rede WWF. Essas frentes estão
localizadas na Amazônia, na Mata Atlântica e no Grande Chaco (Bolívia, Paraguai
e Argentina), em Bornéu, no Cerrado, no Choco-Darien (no Oeste do Equador), na
Bacia do Congo, na África Oriental, no Leste da Austrália, no Grande Mekong, na
Nova Guiné e em Sumatra.
Esses locais possuem uma das maiores riquezas em
termos de vida silvestre, inclusive espécies ameaçadas de extinção. E todos
eles abrigam comunidades indígenas.
“Imagine uma floresta que se estende através da
Alemanha, França, Espanha e Portugal, e que seja destruída em apenas 20 anos”,
exemplifica Rod Taylor, diretor do Programa Mundial de Florestas da Rede WWF.
“Estamos examinando como se pode salvar as comunidades e as culturas que
dependem das florestas e assegurar que as florestas continuem a estocar
carbono, filtrar nossa água, fornecer madeira e servir de habitat para milhões
de espécies”.
O relatório está baseado numa análise anterior
realizada pela Rede WWF, que mostra que mais de 230 milhões de hectares de
florestas irão desaparecer até 2050 se não forem adotadas ações para enfrentar
essa situação e, ainda, que a perda florestal precisa ser reduzida até alcançar
o nível quase zero até 2020, de forma a evitar a ocorrência de mudanças
climáticas perigosas e perdas econômicas.
Soluções em nível de paisagem são vitais para
acabar com o desmatamento
O documento intitulado “Living Forests Report:
Saving Forests at Risk” (Relatório Florestas Vivas: salvar as florestas
ameaçadas” analisa onde é mais provável que ocorra desmatamento em curto prazo,
as principais causas e as soluções para reverter a tendência projetada. Em
termos mundiais, a maior causa do desmatamento é a expansão agrícola –
inclusive a pecuária comercial, a produção de óleo de palma (azeite de dendê) e
a produção da soja, assim como a agricultora de pequena escala. A extração não-sustentável
de madeira e a coleta de lenha podem contribuir para a degradação florestal,
enquanto a mineração, as hidrelétricas e outros projetos de infraestrutura
resultam em novas rodovias que abrem as florestas para os colonos e a
agricultura.
“As ameaças sobre as florestas vão além de uma
empresa ou indústria e muitas vezes atravessam as fronteiras nacionais. Elas
exigem soluções que levem em conta toda a paisagem”, afirma Taylor, que
conclui: “Isso significa uma colaboração na tomada de decisão sobre o uso da
terra, levando em conta as necessidades das empresas, das comunidades e da
natureza”.
A divulgação desse relatório acontece na Cúpula de
Paisagens Tropicais: uma oportunidade de investimento global, uma reunião
internacional de líderes políticos, empresariais e da sociedade civil, que se
realiza em Jacarta, na Indonésia.
“A cúpula é uma oportunidade de se avançar no
investimento verde e desenvolver parcerias público-privadas que sejam
transformadoras”, afirma o diretor geral da Rede WWF, Marco Lambertini, que irá
discursar no evento. “A Indonésia tem uma grande oportunidade de fazer uma
transição para uma economia verde inovadora, que priorize a prosperidade e o
bem-estar dos seres humanos tanto quando um meio ambiente saudável. Escolher
manter as florestas naturais saudáveis para múltiplas finalidades e otimizar a
produtividade das terras adjacentes constituirá um exemplo arrebatador dessa
abordagem. Precisamos um planejamento inteligente do uso da terra, que
reconheça o valor em longo prazo das paisagens florestais saudáveis.”
A Indonésia em foco
Apesar de uma recente desaceleração, o desmatamento
continua sendo uma questão importante na Indonésia. A ilha de Sumatra perdeu
mais da metade de suas florestas naturais devido às plantações para suprir as
indústrias de papel e de óleo de palma (azeite de dendê); e as florestas
remanescentes estão gravemente fragmentadas. Projeções da Rede WWF mostram que
até 2030 a perda florestal atingirá outros 5 milhões de hectares de florestas.
Caso a tendência atual se mantenha, a cobertura florestal na frente do
desmatamento na ilha de Bornéu, inclusive nas partes pertencentes à Malásia e
ao Brunei, poderá, até 2020, ficar reduzida a menos de uma quarta parte de sua
área original. A ilha de Nova Guiné (que inclui uma parte pertencente à
Indonésia e outra que é a Papua Nova Guiné) poderá perder até 7 milhões de
hectares de floresta entre 2010 e 2030, caso os planos de desenvolvimento
agrícola em grande escala sejam concretizados.
“O governo indonésio e os formuladores locais de
políticas podem alterar os planos de desenvolvimento e passar de abordagens com
foco em ganhos de curto prazo para outras que se baseiem no uso da terra,
salvaguardem as florestas e propiciem oportunidades econômicas”, afirma Taylor.
“A moratória sobre novas permissões para conversão florestal significa uma
oportunidade de avaliar o que pode ser feito para deter as frentes de
desmatamento e desenvolver uma economia mais verde e mais inclusiva”.
Três biomas do Brasil aparecem na lista
Os biomas Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado são
três biomas brasileiros mencionados no relatório.
O bioma Amazônia compreende 6.7 milhões de km2, uma
área compartilhada por nove países: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia,
Venezuela, Guiana, Suriname, e Guiana Francesa. Mais de 34 milhões de pessoas
vivem na região Amazônica. Entre elas, incluem-se 385 grupos indígenas, 60 dos
quais vivem em isolamento voluntário. A maior floresta do mundo é também o
local onde são esperadas as maiores perdas. Se for mantida a recente tendência
de desmatamento, até 2030 mais de uma quarta parte da Amazônica ficará sem
árvores.
As principais ameaças provêm dos crescentes
interesses políticos e econômicos e de uma visão de curtíssimo prazo sobre como
devem ser usadas as terras e as riquezas naturais da Amazônia. As ameaças
variam conforme o país e mesmo dentro do mesmo país, mas elas podem ser
caracterizadas como especulação e apropriação ilegal de terra (grilagem),
agricultura mecanizada em grande escala, e a pecuária extensiva, infraestrutura
de transportes e, em menor grau, agricultura de subsistência em pequena escala.
Mais importante do que separar as causas, no entanto, é compreender a relação
geográfica e econômica entre elas, bem como o efeito multiplicador de sua
combinação.
Outro bioma que aparece no relatório é a Mata
Atlântica, que teve sua vegetação reduzida a 11,7% da original, está
distribuída em milhares de fragmentos florestais. Ela é considerada um dos
ecossistemas insubstituíveis do mundo e convive hoje com ambientes intensamente
urbanizados, onde se concentram mais de 120 milhões de brasileiros (75% da
população) e atividades econômicas que respondem por mais de 70% do PIB
nacional, como a agropecuária. Apesar das profundas transformações que sofreu
ao longo da história, o bioma ainda abriga diversas e raras formas de vida,
fornece 60% da água consumida pela população brasileira, opções de lazer,
proteção de encostas e outros serviços ambientais indispensáveis ao
desenvolvimento e à manutenção da qualidade de vida das populações. O bioma
conta com controle cada vez mais restritivo das leis para proteção dos
fragmentos restantes.
O Cerrado brasileiro é o terceiro mais ameaçado. É
a segunda formação vegetal em extensão na América do Sul após a Amazônica. O
Cerrado ocupa ¼ do território brasileiro, o que corresponde a uma área de mais
de 2 milhões de km², ligando nove estados brasileiros. Sua localização diz
muito sobre sua importância, pois ele faz conexão com os com 4 dos 5 biomas do
país – Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal -, por isso compartilha
animais e plantas com estas regiões. Além de abrigar exemplares únicos da
biodiversidade. Ele contém quase 5% de todas as espécies do planeta, mas menos
de 3% (do bioma) está em unidades de conservação de proteção integral.
As principais ameaças do Cerrado estão relacionadas
à expansão de pasto para criação de gado e aos monocultivos de eucaliptos e de
soja que, desde a década de 1970 geram muitos impactos ambientais, acarretando
em grandes desmatamentos e conflitos socioambientais. Também se somam como
fatores de risco para o bioma os incêndios florestais e a ampla demanda por
produção de carvão vegetal para a indústria siderúrgica. O desmatamento e as
queimadas já devastaram 100 milhões de hectares do Cerrado, ou seja, metade do
bioma. Tais práticas de uso do solo são as principais responsáveis pela emissão
de gases de efeito estufa no Brasil.
Fonte: WWF Brasil
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