segunda-feira, 11 de maio de 2015

A educação pode salvar o mundo.
Por Danilo Mekari –
Indicado ao Nobel da Paz 2015 defende que “Somente a educação pode salvar o mundo”. A frase tem ares de clichê, a ideia parece batida e, certamente, aqueles que se preocupam com os rumos do planeta já pensaram nisso. No entanto, a substituição da palavra ‘transformar’ por ‘salvar’ é o toque de mestre do psiquiatra chileno Claudio Naranjo.

Do alto de sua experiência, balizada por uma intensa trajetória acadêmica que relacionou a psicologia com a espiritualidade, Naranjo sabe que o nosso modo de vida não precisa apenas ser transformado: é apenas a salvação que nos faria viver plenamente como seres humanos livres e felizes. E a educação é a chave para esse movimento, desde que seja radicalmente revista.

Aos 82 anos e indicado ao Prêmio Nobel da Paz 2015, o chileno participou nesta terça-feira (5/5) de uma conferência realizada no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, onde expôs sua visão de mundo e demonstrou grande conhecimento em educação.

Sem prazer

“Guardo comigo a convicção de que nada é mais esperançoso a respeito da revolução social do que o fomento coletivo à sabedoria”, acredita Naranjo. Para ele, o modelo de ensino atual não estimula o desenvolvimento pessoal, tampouco a evolução social.

Ao resgatar memórias, o psiquiatra afirmou que sua experiência escolar foi uma grande perda de tempo. “Uma parte considerável da minha infância não fiz outra coisa que não caminhar em círculos em uma escola cinza, castigado por falar castelhano ao invés de inglês e fazer coisas proibidas”, relembra. Ele confessa que essa vivência o fez despertar tarde para o mundo real. “Vivia muito fechado, absorto em mim mesmo e pouco sensível aos outros.”
Retrato de Claudio Naranjo, de Arturo Espinosa. Foto: Arturo Espinosa.

Acariciando a longa barba cor de neve, Naranjo ratifica: a escola castra o prazer da vida. “Não temos um mundo em que os valores femininos, masculinos, infantis, lúdicos e o valor do prazer estejam em equilíbrio. Vivemos um mundo castrado, domesticado – para a criança, a educação imperceptivelmente criminaliza o prazer, tratando-o como uma coisa má.”

Viver em plenitude

O chileno lamenta que o modelo atual educativo trate os aprendizes como força de trabalho, preparando-os para o mercado global, além de considerar o currículo muito anacrônico. “A educação parece inocente, mas atualmente é perversa. Não é por ignorância que ela não é transformada – é sim um propósito das autoridades mundiais, uma fraude. É a educação que vai fazer as pessoas aceitarem os males da civilização sem pensar muito. A consciência pessoal e a qualidade humana são pouco valorizadas.”

O chileno finalizou seu discurso revelando sua maior ambição: ser uma pessoa completa. “Não quero viver apenas um quarto do que desejo interiormente. Pessoas jovens aprendem mais facilmente do que os adultos e estão mais abertos a mudanças do que nós. Por isso, deveríamos aprender com as crianças, ao invés de pretender ensiná-las tanto. A mudança da educação poderia contribuir para uma humanidade de seres integrados, felizes, conscientes e criativos.”

Inspirado pela conferência do chileno, o Colégio Dante Alighieri promove o encontro de educadores “Da queixa à criatividade”, entre 7 e 9/8.


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