quinta-feira, 21 de maio de 2015

Compromisso Público da Pecuária.
Área desmatada para criação de gado, no Mato Grosso. Foto: © Chico Batata/Greenpeace.

Estudo lançado nesta terça-feira (12) ressalta a eficácia do Compromisso Público da Pecuária em reduzir o desmatamento na Amazônia.

A produção pecuária brasileira continua sendo a principal causadora do desmatamento da Amazônia. Mas, graças ao Compromisso Público da Pecuária (ou Acordo pelo Desmatamento Zero), assinado em 2009, os maiores frigoríficos do país estão mostrando que é possível sim eliminar o desmatamento de sua cadeia produtiva. Mas é preciso muito mais.

Para que a produção pecuária deixe de ostentar o nefasto status de principal ameaça à preservação da maior floresta tropical do planeta, temos que ampliar a lista de frigoríficos comprometidos com o desmatamento zero, fortalecer o controle sobre as fazendas fornecedoras, de modo que os supermercados tenham controle total sobre a origem da carne que comercializam (dando inclusive transparência pública para estes dados). Além disso, o governo federal precisa aumentar a governança sobre a região para, de um lado ampliar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e, de outro, garantir a rastreabilidade de todas as etapas de produção bovina, do nascimento ao abate.

O caminho está sendo trilhado. Boa parte das conquistas, inclusive, estão sendo reconhecidas em estudos científicos, como o publicado hoje na revista norte-americana Conservation Letters. A publicação destaca que toda a pressão da sociedade civil – liderada pelo Greenpeace – resultou em um Compromisso Público da Pecuária que efetivamente contribuiu para a diminuição do desmatamento. Leia aqui o artigo. Segundo a pesquisa, os acordos de desmatamento zero exigidos pelo mercado têm alterado de modo consistente o comportamento de fazendeiros e frigoríficos.

“Demonstramos que pressões públicas e privadas na cadeia bovina efetivadas de forma concorrente, podem ser decisivas para a mudança do jogo, ajudando, finalmente, a quebrar a ligação entre o desmatamento e a produção de carne,” diz Holly Gibbs, autora do estudo e pesquisadora do Departamento de Geografia e Estudos Ambientais do Centro para Sustentabilidade e o Ambiente Global do Instituto Nelson de Estudos Ambientais da Universidade de Wisconsin, Madison.

Elaborado por pesquisadores da Universidade Wisconsin, em conjunto com a ONG Imazon e a National Wildlife Federation, o estudo foca sua análise na cadeia da empresa JBS (uma das signatárias do Compromisso Público da Pecuária) no Pará, estado responsável por 40% de todo o desmatamento realizado na Amazônia na última década e que possui atualmente o segundo maior rebanho do país – 19,2 milhões de cabeças de gado. Segundo o artigo, em 2009, 36% das propriedades que forneciam carne ou couro para a empresa tinham registros de desmatamentos recentes. Em 2013 este número caiu para 4%.

De acordo com os pesquisadores, o Compromisso motivou muitos fazendeiros a buscarem se regularizar para garantir o fornecimento à JBS. Os pecuaristas que forneciam diretamente para a empresa promoveram uma verdadeira corrida para se inscrever no Cadastro Ambiental Rural (CAR), possibilitando que os frigoríficos bloqueassem de fato compras de fazendas onde ocorreu desmatamento recente.

Consequentemente, o desmatamento caiu significativamente nas fazendas fornecedoras – onde foi cerca de 50% menor que o registrado em fazendas não fornecedoras. Apesar destas conquistas, ainda há muito o que se fazer para eliminar por completo o problema. “Está mais do que na hora de mais frigoríficos aderirem ao Compromisso Público da Pecuária”, alerta Adriana Charoux, da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil.

“Grandes compradores dos frigoríficos, como supermercados, a indústria que usa couro, alimentícia e também restaurantes que compram grandes estoques, têm um papel determinante para pressionar seus fornecedores a se comprometerem de uma vez por todas com o desmatamento zero”.

Adriana ressalta que, na Amazônia, a palavra-chave é transparência. “Sem ela, não há controle social. Sem controle da sociedade, não há como garantir que a carne que chega aos nossos pratos está livre de desmatamento e demais crimes sociais e ambientais”, conclui.


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