Ciência,
igreja e Estado se unem para pedir ambição no clima.
Foto: ONU/Mark Garten
Por Cíntya Feitosa, do Observatório do Clima.
Em evento organizado pelo Vaticano, líderes
religiosos, políticos e cientistas afirmam que acordo é oportunidade de
desenvolvimento mais igualitário.
As preocupações e orações dos líderes religiosos em
todo o mundo estão em sintonia com os alertas dos cientistas: a mudança
climática global é real e pode comprometer a justiça social e a paz. Esses dois
magistérios, que geralmente não se bicam, afirmaram nesta terça-feira, durante
um seminário no Vaticano, que a conferência do clima de Paris é provavelmente a
última oportunidade de frear o aumento de temperatura da Terra.
O evento, aberto pelo secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon, foi organizado por um conjunto de instituições religiosas, como a
Pontifícia Academia de Ciências e a Pontifícia Academia das Ciências Sociais,
teve participação de acadêmicos, políticos e líderes religiosos.
A “Declaração de Líderes Religiosos,
líderes políticos, líderes empresariais, cientistas e profissionais de
desenvolvimento” mostrou especial preocupação com comunidades mais
pobres e mais vulneráveis ao aumento da frequência de secas, tempestades
extremas, ondas de calor e elevação do nível do mar. O documento reforça a
necessidade de um acordo ambicioso em Paris.
“O mundo tem ao seu alcance tecnologia, meios
financeiros e know-how para mitigar a mudança climática e ao mesmo tempo acabar
com a pobreza extrema, por meio da aplicação de soluções de desenvolvimento
sustentável, incluindo a adoção de sistemas de energia de baixo carbono
apoiados pelas tecnologias da informação e da comunicação”, diz um trecho da
declaração.
Os signatários pedem, ainda, que os países
desenvolvidos auxiliem e financiem os países pobres e mais vulneráveis e
sugerem “a mudança do financiamento público de gastos militares para
investimentos urgentes para desenvolvimento sustentável”.
Santa aliança
Em seu discurso, Ban pediu aos líderes religiosos
que ajudem a aumentar a consciência sobre o clima. “Ciência e religião não
estão em desacordo sobre mudanças climáticas. Na verdade, estão totalmente
alinhados”, afirmou.
“A erradicação da pobreza extrema e a proteção do
meio ambiente são valores que estão em plena consonância com os ensinamentos
das grandes religiões (…). Somos a primeira geração que pode acabar com a
pobreza em nosso tempo de vida, e a última geração para combater a mudança
climática antes que seja tarde demais.”
O secretário-geral da ONU reuniu-se durante cerca
de meia hora com o Papa Francisco, que afirmou que sua encíclica sobre mudança
climática já está em tradução e deve ser publicada em junho. “Ela irá transmitir
ao mundo que proteger o nosso ambiente é um imperativo moral urgente e um dever
sagrado para todas as pessoas de fé e as pessoas de consciência”, disse Ban.
A teóloga Teresa Berger, da Universidade Yale, nos
EUA, disse ao jornal The Guardian que a encíclica papal deverá trazer uma visão
teológica que considera a exploração sem limites da Terra “um pecado”.
Fonte: Observatório do Clima
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