quarta-feira, 20 de maio de 2015

As grandes lições do terremoto do Nepal.
Os especialistas disseram durante anos que Katmandu é uma cidade de altíssimo risco no caso de atividade sísmica, mesmo assim o terremoto de 25 de abril pegou o Nepal de surpresa. Foto: AmanthaPerera/IPS - Por Amantha Perera, da IPS – 

Colombo, Sri Lanka, 13/5/2015 – Todo o mundo sabia há anos que quando um terremoto sacudisse o Nepal, localizado em uma das zonas sísmicas mais ativas do sul da Ásia, a quantidade de mortos e os danos seriam descomunais. “Estima-se que as perdas humanas, só no vale de Katmandu, no caso de um evento sísmico importante, serão catastróficas”, alertou MahendraBahadurPandey, ministro de Assuntos Exteriores do Nepal, na Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Redução do Risco de Desastres, realizada em março na cidade japonesa de Sendai.

Apenas algumas semanas depois, em 25 de abril, houve o terremoto de 7.8 graus de magnitude. Mais de 8.500 pessoas foram declaradas mortas, enquanto centenas continuam desaparecidas. As autoridades temem que o saldo de mortes aumente nos próximos dias. Mais de 17.500 pessoas estão feridas e 10 hospitais ficaram completamente destruídos, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). Dos 27 milhões de habitantes do país, cerca de oito milhões, principalmente nas regiões ocidental e central, são vítimas do desastre.

As cidades maiores, como Katmandu e Pokjhara, foram muito afetadas. Nas 72 horas após o terremoto mais de meio milhão de pessoas fugiram da capital para zonas periféricas. O Nepal luta para atender as necessidades de uma população assediada e assustada, que resistiu à inúmeras réplicas do sismo na semana posterior ao terremoto.

Centenas de famílias continuam vivendo em barracas de campanha, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) solicitou fundos para a ajuda alimentar de emergência destinada a cerca de 3,5 milhões de pessoas. Os médicos atendem os pacientes na rua. A OMS destinou US$ 1,1 milhão ao pessoal e suprimentos médicos e já tratou de 50 mil pacientes nos 14 distritos mais gravemente afetados.

Mas, há um limite para o que podem fazer as agências de ajuda e os países doadores, e os especialistas consideram que o governo não está preparado para assumir a maior parte dos esforços de recuperação. “Trata-se de uma enorme operação de ajuda, provavelmente a maior que já realizamos na região”, afirmou à IPS Orla Fagan, porta-voz do escritório regional do OCHA em Bancoc, na Tailândia. A reconstrução a longo prazo poderia custar até US$ 5 bilhões, e as agências da ONU informaram nos últimos dias que necessitam de pelo menos US$ 415 milhões para a ajuda imediata e nos próximos três meses.

Fagan explicou que, como a ameaça era conhecida, o Nepal havia alcançado antes do terremoto certo grau de coordenação e preparação em caso de desastres, sobretudo com relação à formação e sensibilização das pessoas. “Houve coordenação entre governo e as agências da ONU, mas em escala muito pequena. Deve-se compreender que esse é um dos países mais pobres do mundo e os recursos são extremamente escassos”, acrescentou a porta-voz.

O Nepal está na lista de países menos adiantados e ocupa o 145º lugar entre 187 países no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Também tem uma dívida superior a US$ 3,8 bilhões com o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Asiático de Desenvolvimento. Em 2014 o governo destinou mais de US$ 217 milhões para o pagamento dessa dívida, alguns recursos teriam sido essenciais para melhorar seus sistemas de preparação e gestão de desastres.

Apesar do risco real de sofrer terremotos, chuvas torrenciais, deslizamentos de terra e transbordamento de lagos glaciais, suas políticas de resposta em caso de desastre continuam sendo regidas pela Lei de Ajuda Diante das Calamidades Naturais de 1982. O parlamento ainda não ratificou um projeto de lei de 2008 que prevê a criação de uma Autoridade Nacional de Gestão de Desastres. “A esperança agora e que com todos os recursos internacionais e a boa vontade recebidos o Nepal possa construir uma política e um mecanismo de preparação para os desastres naturais mais forte”, ressaltouFagan.

“Em primeiro lugar, os fundos devem ser usados para as intervenções de recuperação”, recomendou SI Arambepola, diretor do Centro Asiático de Preparação para os Desastres, em Bancoc. “Mas uma parte dos fundos deve ser empregada para desenvolver um mapa do caminho para um Nepal que seja resistente aos desastres”, acrescentou.

“O documento também identificaria as funções e responsabilidades de diversas agências governamentais na aplicação, assegurando que o governo inicie um plano de longo prazo para a redução do risco de desastres com o apoio da comunidade de desenvolvimento”, disse o especialista à IPS. Esse documento especificaria quais divisões emitiriam os alertas, quais as difundiriam e quais seriam encarregadas das evacuações, por exemplo.

Arambepola acredita que o Nepal poderá aprender com seus vizinhos que também experimentaram desastres naturais. “O Nepal deve seguir o exemplo de outros países do sul da Ásia, como Índia, Paquistão e Sri Lanka, para desenvolver a política, os marcos jurídicos e o marco institucional para a redução do risco de desastre”, apontou.

Sri Lanka, em particular, é um bom exemplo porque em 2004 teve uma crise semelhante, totalmente sem preparação para enfrentar a devastação do tsunami asiático que deixou o saldo de 35 mil mortes, mais de um milhão de pessoas sem lar e um custo de reconstrução superior aos US$ 3 bilhões.

O ex-secretário do Ministério de Gestão de Desastres do Sri Lanka, SM Mohamed, assegurou que o tsunami os obrigou a “despertar” porque desatou os esforços do governo e da sociedade civil para que o país nunca mais estivesse em uma situação de guarda baixa. O caminho para uma gestão melhor e uma preparação mais sólida nem sempre foi tranquilo, mas o Sri Lanka avançou muito desde aquele fatídico dia, e uma das medidas foi a criação do Centro de Gestão de Desastres (CGD).

Este organismo se converteu no principal centro nacional para a preparação em caso de desastres, bem como na agência pública central para a coordenação do socorro e alertas. Conta com escritórios nos 25 distritos do país cujo pessoal está preparado para se deslocar a qualquer momento. Em abril de 2012 o CGD dirigiu a evacuação de mais de um milhão de pessoas da costa, devido a uma ameaça de tsunami.


Fonte: ENVOLVERDE

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