O sumiço
das abelhas.
Rainhas da biodiversidade, abelhas correm perigo. Foto: Shutterstock
Por Patricia Fachin, do IHU
Online –
Monoculturas e agrotóxicos são as causas do sumiço
das abelhas. “Estamos olhando só para abelhas sociais, que são criadas em
colmeias, que têm foco na criação de mel ou mais recentemente na polinização.
Não estamos olhando para as abelhas nativas da fauna silvestre, que estão
prestando um serviço de polinização para manutenção dos ecossistemas ou mesmo
contribuindo para o aumento de produção agrícola”, adverte a bióloga Betina
Blochtein.
Ainda é cedo para relacionar o sumiço das abelhas
com o cultivo de espécies transgênicas, mas entre os fatores que explicam esse
fenômeno mundial destacam-se o crescimento das monoculturas e o uso constante
de agrotóxicos. “Nesse caso, há perda de habitats, e, havendo perdas na
paisagem, acabamos eliminando os locais onde as abelhas normalmente constroem
seus ninhos. Muitas vezes elas constroem ninhos em ocos de árvores e abelhas
sociais constroem também ninhos no solo. Assim, no momento em que há grandes
plantios de eucalipto, ocorre a perda de áreas, que gera um impacto forte sobre
a biodiversidade como um todo”, explica Betina Blochtein em entrevista
concedida à IHU On-Line por telefone. A professora pontua ainda que as
monoculturas “acabam eliminando a dieta das abelhas ao longo do ano” e geram
uma “dieta monofloral”, o que causa carência nutricional nos animais.
Segundo ela, os estudos que avaliam os impactos dos
agrotóxicos nas colmeias têm apontado para a ação dos neonicotinoides, uma
classe de inseticidas sistêmicos derivados da nicotina, “que se espalham na
planta, porque são usados na semente e permanecem na planta depois, quando ela
cresce e quando as flores se desenvolvem. Esses produtos são detectados até no
néctar e no pólen que as abelhas irão coletar, e acabam trazendo prejuízos”.
Ela frisa que os impactos às abelhas são “diretos”, quando ocasionam a morte
dos animais, e “indiretos”, quando causam “prejuízos no sistema imune, na
comunicação ou na organização social das abelhas”.
Entre os novos fatores que têm afetado as mais de
20 mil espécies nominadas, Betina chama atenção para as mudanças climáticas. “À
medida que as mudanças vão ocorrendo, a vegetação desses ambientes vai mudando
e a fauna associada também”, destaca.
Betina Blochtein é graduada em Ciências Biológicas,
mestre em Zoologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul –
PUCRS e doutora em Biologia pela Universidade de Tübingen, na Alemanha. É
diretora do Instituto do Meio Ambiente e professora na Faculdade de Biociências
da PUCRS, com atuação na graduação em Ciências Biológicas e no Programa de
Pós-Graduação em Zoologia.
Foto: eventize.com.br
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais são os impactos do eucalipto e
do eucalipto transgênico sobre o desenvolvimento de abelhas nativas
brasileiras? O que os estudos demonstram sobre a relação de eucalipto e abelha?
Betina Blochtein – A pergunta é muito adequada
porque o eucalipto em si é uma planta altamente procurada pelas abelhas. Se
examinarmos amostras, por exemplo, de mel, pólen no mel ou pólen em colmeias de
abelhas, verificamos que geralmente existe um alto percentual de pólen de
eucalipto quando existem árvores da espécie nas áreas de acesso às abelhas.
Uma orientanda minha demonstrou o uso de pólen de
eucaliptos por abelhas nativas da espécie melipona – popularmente conhecida
como manduri – e também o uso de pólen de apis mellifera, abelhas domésticas. A
pesquisa demonstrou que em dois locais, em Riozinho e Rolante, no Rio Grande do
Sul, onde existem áreas com maior e menor impacto antrópico, onde o eucalipto
das duas áreas é em torno de 3% a 4% da cobertura, a representatividade desse
pólen nas colmeias é muito elevada.
Esse é um evento local que podemos utilizar para
ilustrar como os eucaliptos são importantes para as abelhas mesmo em áreas
conservadas. Riozinho é um dos hotspots da mata atlântica brasileira, é uma das
áreas mais bem conservadas e, no entanto, as pequenas manchas de eucaliptos que
existem na paisagem, que representam, por exemplo, de 3% a 4% da cobertura do
solo, se repercutem em uma entrada de pólen bastante elevada. Isso demonstra o
quanto os eucaliptos podem ser importantes para as abelhas. Além disso, são
plantas que fornecem pólen e néctar, que são os principais alimentos das
abelhas e, portanto, podem ser importantes principalmente em épocas de escassez
de outras floradas.
Impactos da monocultura
Agora, quando falamos em impactos de eucaliptos nas
paisagens, tudo depende da escala da qual estamos falando. Se pensarmos em
plantio de eucaliptos de larga escala, verificaremos, por exemplo, que se há
agricultura em larga escala, existem perdas de ecossistemas. Nesse caso, há
perda de habitats, e, havendo perdas na paisagem, acabamos eliminando os locais
onde as abelhas normalmente constroem seus ninhos. Muitas vezes elas constroem
ninhos em ocos de árvores e abelhas sociais constroem também ninhos no solo.
Assim, no momento em que há grandes plantios de eucalipto, ocorre a perda de
áreas, que gera um impacto forte sobre a biodiversidade como um todo, não só
nas abelhas. Da mesma forma, se existe uma área muito grande de eucaliptos, as
abelhas remanescentes dessa área, por exemplo, que precisam de alimento ao
longo de todo ano, enfrentam problemas de carência de alimentos no momento em
que os eucaliptos não estão florescidos.
Além do mais, uma dieta monofloral é uma dieta
pobre. Assim como nós, os animais precisam de dietas bem diversificadas para se
nutrirem adequadamente. Então, uma dieta monofloral para abelhas de modo geral
não é positiva. Tanto que os apicultores que colocam, principalmente no Uruguai
e na Argentina, as colmeias de abelhas melíferas para produzir mel de
eucaliptos em locais onde temos grandes plantios de eucaliptos e silvicultura
em larga escala, geralmente precisam fazer uma complementação nutricional para
que as abelhas não sofram por causa de carências nutricionais.
IHU On-Line – O que os estudos demonstram sobre o
impacto dos eucaliptos e dos eucaliptos transgênicos em relação à qualidade do
mel? Há diferenças?
Betina Blochtein – Os nossos estudos sobre esse
eucalipto transgênico que está em questão abrange três espécies: a apis
mellifera, que é abelha doméstica, e duas espécies de abelhas sociais nativas,
a Scaptotrigona bipunctata, conhecida popularmente como tubuna, e uma segunda,
que também é muito conhecida pela população em geral, que é a tetragonisca
angustula, popularmente chamada de jataí, e que produz um mel bem saboroso,
assim como a tubuna.
Fizemos experimentos relacionados ao
desenvolvimento dos indivíduos, a padrões de postura da rainha e também
experimentos relacionados à longevidade dessas abelhas. Em todos os
experimentos, sem diferença nenhuma, sempre usamos o eucalipto transgênico
comparado com a isolínea não transgênica, para comparar um eucalipto com a
forma da isolínea não-GM. Quando fizemos testes de laboratório, não vimos
diferença nenhuma nas respostas dos diferentes testes realizados.
O que acontece é o seguinte: o mel é composto, na
sua maior parte, de açúcares de vários tipos, predominantemente glicose e
frutose, e a parte do mel que é integrada por pólen é bem pequena. Na verdade,
a parte do mel que poderíamos chamar de transgênica seria a parte relativa ao
pólen, porque os transgênicos se manifestam e aparecem através das proteínas.
Nessa condição, considerando que o mel é predominantemente açúcar, a parte que
teria eventualmente substâncias transgênicas seriam as proteínas relacionadas
ao pólen, que está em pequena parte. A via de exposição dos transgênicos seria
através de proteínas transgênicas que estão relacionadas ao pólen, não ao
néctar, não aos açúcares.
Mas nesse transgênico não conseguimos detectar
proteínas transgênicas. É tão ínfima a quantidade de proteínas transgênicas,
que elas não são possíveis de detecção. Conseguimos detectar que elas estão
presentes, mas a quantificação é muito baixa e, considerando ainda que o mel
tem menos de 1% de proteínas, não podemos precisar mais informações sobre os
transgênicos no mel, porque isso varia de amostra para amostra, mas certamente
a quantidade de transgênico no mel é bem baixa.
IHU On-Line – Então o eucalipto transgênico não é
prejudicial às abelhas? O impacto se dá somente por conta da plantação em
grande escala?
Betina Blochtein – O impacto em relação a
plantações de grande escala, seja na agricultura, seja na silvicultura, existe
independentemente de as culturas serem transgênicas ou não. Se usar um milho
crioulo em larga escala, o impacto para as abelhas será igual ao plantio de
eucalipto não transgênico em larga escala ou de eucalipto transgênico. No caso
do eucalipto, porque ele fornece pólen e néctar para as abelhas, talvez o
impacto seja até menor se comparado com outras culturas, como a soja. O impacto
está muito mais relacionado à questão da escala de agricultura, porque ela é
claramente mais danosa para as abelhas do que o fato de a cultura ser
transgênica ou não. Ainda é difícil dizer se os transgênicos podem ou não
trazer algum impacto à fauna. Talvez daqui a alguns anos possamos ter alguma
resposta mais evidente. Por enquanto, questões que favorecem a perda de habitat
e causam impacto sobre a biodiversidade são infinitamente mais danosos para as
abelhas.
Nos testes que realizamos, ainda não conseguimos
detectar efeito negativo. Agora, se você for para uma área onde existe
agricultura em larga escala, seja qual for a cultura, praticamente toda a
biodiversidade que havia naquela área foi perdida. A agricultura de larga
escala acaba eliminando a dieta das abelhas ao longo do ano. O ideal, nesses
casos, como não vivemos mais sem a agricultura, dada a população mundial e a
distribuição das pessoas no mundo, é pensar em agricultura sustentável,
pensando, por exemplo, em várias práticas amigáveis, como a proteção de Áreas
de Preservação Permanente – APP, o respeito de áreas de reserva legal e margens
de rios. Se tomarmos os cuidados para essas medidas ambientais que a lei já
indica e aponta, só isso já seria bastante favorável.
Eu temo que às vezes nos apegamos a discutir pontos
delicados, que são questionados e certamente não podem ser ignorados, como a
questão dos transgênicos, que obviamente devem ser muito estudados e discutidos
pela sociedade antes de uma liberação, mas há fatos que ocorrem diariamente e
que causam um impacto enorme, como o desmatamento da Amazônia e a falta de
cuidados com as áreas que são legalmente protegidas. Esses, sim, são impactos
que estamos vendo no dia a dia e que talvez sejam mais graves que os
transgênicos, embora não devemos misturar as coisas, porque esses são assuntos
diferentes.
IHU On-Line – Hoje, há uma preocupação mundial com
a diminuição das abelhas em várias partes do mundo. Quais são as evidências de
que as colmeias são menores hoje e de que a quantidade de abelhas tem
diminuído? É possível saber as razões da diminuição das abelhas?
Betina Blochtein – A perda, a diminuição e o
desaparecimento de polinizadores, em especial das abelhas, de fato, é uma
notícia global. Quando falamos de abelha, temos de lembrar que estamos falando
de um universo de não menos que 20 mil espécies nominadas. Embora sejam poucas
as espécies de importância comercial mundial, temos de lembrar que o maior
serviço das abelhas é o da polinização, muito mais do que a produção de mel.
No mundo inteiro existem muitas situações em que as
abelhas estão diminuindo ou desaparecendo e são várias as situações que podemos
citar. Por exemplo, se formos olhar na lista vermelha das espécies em extinção
da fauna brasileira, vamos encontrar abelhas na lista, se formos à lista do Rio
Grande do Sul, também vamos encontrar espécies de abelha na lista.
São diferentes fatores que levam à extinção desses
grupos que são citados nas listas vermelhas. Essas são espécies sociais que
estão relacionadas à coleta predatória de abelhas, porque no passado, por
exemplo, as pessoas retiravam as abelhas das árvores para coletar o mel ou para
tentar criá-las, e acabavam exterminando com as colônias. Mais recentemente,
nas últimas décadas, os problemas maiores estão relacionados a perdas ou
alteração de habitat. Então, se as abelhas têm seus ninhos instalados em
árvores e ocorre um desmatamento, elas vão morrer e ponto. As populações são
formadas de um determinado número de colônias, e na medida em que temos perda
de habitat, perda de conectividade de uma população com a outra, perda de fluxo
gênico, as populações vão ficando isoladas e se enfraquecendo. Nesse sentido,
perda ou alteração grave de habitat é o fator número um para a perda de
abelhas.
Impactos dos agrotóxicos
Depois, os demais fatores estão relacionados à
agricultura de forma mais direta. Hoje se fala, no mundo inteiro, na questão
dos inseticidas de modo geral e percebe-se que muitos agrotóxicos causam
prejuízos às abelhas, alguns causam mais, outros menos, e outros não têm tanto
impacto aparente. Há numerosos trabalhos que falam da ação dos neonicotinoides,
que é um grupo de inseticida sistêmico que se espalha na planta, porque são
usados na semente e permanecem na planta depois, quando ela cresce e quando as
flores se desenvolvem. Esses produtos são detectados até no néctar e no pólen
que as abelhas irão coletar, e acabam trazendo prejuízos.
Às vezes os prejuízos podem ser diretos,
ocasionando a morte dos indivíduos, e outras vezes podem resultar em efeitos
que nós chamamos de subletais, ou seja, não chegam a matar diretamente, mas
podem causar outro tipo de prejuízo, como, por exemplo, alguns prejuízos no
sistema imune das abelhas, na comunicação ou na organização social das abelhas
e assim por diante.
Outro ponto que precisamos citar é a questão de um
fenômeno conhecido como “desordem de colapso da colônia” – CCD (sigla em inglês
para colony collapse disorder), que há alguns anos foi detectado nos Estados
Unidos e em várias partes do mundo. Trata-se de uma síndrome do desaparecimento
das abelhas, a qual está atribuída a um fenômeno considerado multifatorial, ou
seja, podem existir vários fatores contribuindo conjuntamente para o
desaparecimento das abelhas, como doenças, ectoparasitas, como é o caso do
Varroa, que é um ácaro parasita de abelhas, que pode ter vários tipos de vírus
associados e outros microrganismos junto com esse fenômeno.
Impactos das mudanças climáticas
Fatores novos também são observados nos trabalhos
dos últimos anos, relacionados às mudanças climáticas. À medida que as mudanças
vão ocorrendo – áreas mais frias vão se tornando mais secas, áreas mais secas
vão se tornando mais úmidas e assim por diante –, a vegetação desses ambientes
vai mudando e a fauna associada também. Essas mudanças climáticas que já
estamos assistindo acontecer também repercute no mundo das abelhas. Assim,
temos vários estudos e trabalhos que mostram uma mudança na distribuição de
determinadas espécies de abelhas, as quais provavelmente vão reduzindo a área
das populações. Hoje ainda existem vários estudos com modelagens e simulações
para tentarmos entender o que irá acontecer com as populações de abelhas nos
próximos 80 anos, a partir dos acompanhamentos e previsões de mudanças
climáticas que seguem as plataformas do IPCC.
IHU On-Line – Como o uso dos agrotóxicos que afetam
as abelhas é discutido no Brasil?
Betina Blochtein – Existem vários trabalhos sobre
isso em nível mundial e também no Brasil. O que verificamos é que esses
inseticidas de modo geral têm uma ação direta sobre as abelhas, seja na
mortalidade ou nos efeitos subletais. Em relação aos inseticidas, da mesma
forma como não podemos mais viver sem agricultura ou silvicultura, há muitas
culturas que são praticamente inviáveis sem o uso de agrotóxicos e inseticida.
Então, nesse sentido, temos que ter cuidado para tentar ter políticas públicas
muito claras, fiscalização e controle para, por exemplo, fazermos uso de produtos
que sejam menos tóxicos às abelhas e aplicar uma série de medidas, as quais
chamamos de “medidas de boas práticas relacionadas aos polinizadores”. Por
exemplo, horários de aplicação de produtos são fundamentais: se aplicarmos os
produtos no final do dia, teremos uma ação de impacto direto sobre as abelhas
muito menor do que se fizermos isso pela manhã. Outro ponto, também bem
importante, é realmente uma avaliação detalhada sobre a real necessidade de uso
de produtos. Hoje existe ainda uma cultura muito presente, que é a cultura da
prevenção, isto é, de usar um inseticida para evitar que aconteça um problema
relacionado à presença desses organismos indesejáveis.
Cada dia em que temos uma aplicação de inseticidas,
por exemplo, há produtos que repercutem na presença das abelhas por dois ou
três dias, ou até mais tempo. Por isso, temos de tentar, ao máximo, reduzir e
diminuir o uso desses produtos que têm um impacto tão grande sobre as abelhas.
Existem milhares de espécies de abelhas, que muitas vezes não conhecemos nem
sabemos o nome, e quando aplicamos esses produtos e temos impacto por perda ou
alteração de habitat ou qualquer outro fenômeno, estamos olhando só para
abelhas sociais, que são criadas em colmeias, que têm foco na criação de mel ou
mais recentemente na polinização. Não estamos olhando para as abelhas nativas
da fauna silvestre, que estão prestando um serviço de polinização para
manutenção dos ecossistemas ou mesmo contribuindo para o aumento de produção
agrícola. Temos essa perda e nem calculamos isso. Tenho a impressão de que
temos que reavaliar alguns procedimentos da agricultura e tentar otimizar o uso
dos recursos naturais. No momento em que estamos trazendo prejuízo às abelhas,
estamos diminuindo a biodiversidade, diminuindo os serviços ambientais e, sem
dúvida, a polinização.
Polinização
Temos, no Rio Grande do Sul e no Brasil, várias
culturas que têm uma dependência alta e média de polinização por abelhas.
Então, por exemplo, sabemos que a maçã – que é uma das culturas que estudamos
em nosso grupo de pesquisas – depende em 90% da polinização por abelhas; sem
abelhas praticamente não tem maçã. A maçã só vai se desenvolver, ficar com um
formato regular, ter um desenvolvimento adequado de peso, tamanho e sabor, se
tiver a visita de abelhas. No entanto, a fruticultura no Rio Grande do Sul é
ancorada no uso de inseticidas. Por isso precisamos tentar fazer arranjos
melhores para tentar proteger as abelhas e tentar ter mais serviços ambientais
e menos custos com o uso de inseticidas.
Acredito que esses temas são muito importantes e já
temos suficientes informações e subsídios científicos, os quais mostram que
temos de ir nessa direção, que temos de olhar para a proteção dos polinizadores
e, sem dúvida nenhuma, nesse aspecto, temos que voltar talvez ao eucalipto e
falar em análise de risco. No meu entender, temos que fazer uma avaliação do
impacto do eucalipto transgênico para as abelhas.
Impactos da canola
Hoje existem várias publicações relacionados à
canola, e publicamos um livro destinado aos agricultores e técnicos agrícolas,
exatamente alertando sobre o papel das abelhas na agricultura com foco na
canola, que é um caso local no Rio Grande do Sul. O estudo nos alerta sobre
vários pontos que colocam as abelhas em risco e sobre boas práticas que podemos
adotar para proteger os polinizadores. Da mesma forma que o eucalipto, a canola
é uma cultura que é bastante atrativa às abelhas, que traz néctar e pólen de
modo semelhante ao eucalipto, mas as abelhas não podem viver só de uma cultura.
Aí a história começa a se repetir independentemente da cultura.
Essa questão de perda de habitat da agricultura em
larga escala, junto com o uso de inseticidas, é numerosas vezes de maior
impacto às abelhas, à biodiversidade como um todo, do que uma proteína
transgênica que nem conseguimos detectar e que está em baixa escala. Usamos
protocolos internacionais e fizemos testes, fizemos todos nossos trabalhos com
“cego e duplo cego”, ou seja, nem sabemos com qual amostra estamos trabalhando
na hora de desenvolver os testes. Todo o nosso material é codificado para
evitar que tenhamos tendências.
Quando comecei a trabalhar com esse projeto dos
eucaliptos transgênicos, alguém me perguntou: “Você é a favor ou contra os
transgênicos?” Eu rapidamente respondi: “Estou do lado das abelhas”. Creio que
é por aí.
Fonte: IHU On-Line
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