Saques
expressam o desespero das vítimas no Nepal.
Rita Rai, de 65 anos, ainda não recebeu ajuda de
emergência na aldeia de Mahadevsthan, 100 quilômetros ao sul de Katmandu. Foto:
Naresh Newar/IPS.
Por Naresh Newar, da IPS –
Kavre, Nepal, 11/5/2015 – Mais de um milhão de
famílias vítimas do terremoto de magnitude 7,8 que sacudiu o Nepal no dia 25 de
abril começam a tentar seguir adiante com suas vidas, mas as devastadoras
sequelas que esse país do sul da Ásia sofreu complicam seus esforços de
recuperação.
A entrega da ajuda humanitária e dos suprimentos básicos
de emergência continua sendo muito lenta, o que provocou alguns incidentes de
saques por pessoas desesperadas pela espera. As fortes chuvas de monção que
ocorrem anualmente em cada verão boreal estão à espreita na esquina, e em
algumas partes do país já começaram as precipitações.
Até o momento foram confirmadas 8.413 mortes em 30
distritos, metade delas na capital Katmandu e seu vizinho distrito de
Sindupalchok, e 17.576 feridos, segundo a Sociedade da Cruz Vermelha do Nepal
(SCRN), a maior organização não governamental humanitária do país. Mais de 1,1
milhão de famílias foram afetadas ou deslocadas em 35 distritos, enquanto mais
de 460 mil moradias foram completamente destruídas, acrescenta a SCRN.
A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que o
desastre natural afetou cerca de oito milhões dos 27 milhões de habitantes do
Nepal. Destes, aproximadamente 3,5 milhões necessitam de ajuda alimentar. O
Programa Mundial de Alimentos fez um pedido urgente de US 116,5 milhões para
entregar a ajuda aos 1,4 milhões de pessoas mais necessitadas nos próximos três
meses.
Por outro lado, a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura se preocupa com a complicada situação da
colheita de trigo neste país. A agência previa uma produção de 1,8 milhão de
toneladas este ano, mas já se considera que essa previsão cairá bastante porque
os produtores têm dificuldades de acesso aos campos arrasados, enquanto os
sistemas de drenagem e canais de irrigação ficaram severamente danificados.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
anunciou no dia 5 deste mês que começara a transportar por via aérea 80
toneladas de ajuda humanitária para as zonas mais afetadas com “suprimentos
para saneamento e higiene, materiais de cloração, kits contra diarreia e cólera,
bem como sacos de água para fornecer água potável diante do temor de focos de
doenças transmitidas pela água”. O Unicef também entregará “kits sanitários e
lonas, já que muitas famílias fugiram para a intempérie devido à ameaça de
réplicas do terremoto”.
“Já deixamos de chorar de medo porque temos que
seguir em frente e sermos valentes”, disse à IPS a adolescente Sunita Tamang,
de 13 anos, abraçada à sua melhor amiga, Manju Tamang, de 12. Ambas são
oriundas da aldeia de Ghumarchowk, a 80 quilômetros de Katmandu. O terremoto as
deixou sem suas famílias e suas casas, gado e reservas de alimentos. Sua escola
está em ruínas e embora ambas estejam ansiosas para reiniciar as aulas terão
que esperar terminar o mês obrigatório de fechamento das escolas declarado
determinado pelo governo, diante da possibilidade de mais tremores.
Este povoado do distrito de Kavre foi um dos mais
danificados pelo terremoto de 25 de abril. Foto: Naresh Newar/IPS.
Neste povoado, ao qual se chega após uma íngreme
caminhada de três horas pela montanha, a maioria das 500 moradias está
danificada ou é insegura, o que é um sério obstáculo para as famílias que estão
cansadas de dormir à intempérie em suas plantações de batatas e abóboras. Agora
residem em tendas de campanha improvisadas e só uma fina lâmina de plástico
cobre suas cabeças. As chuvas torrenciais que afetam o povoado deixam o solo
muito lamacento para se dormir. “Prefiro voltar para casa e correr o risco”,
afirmou à IPS o assistente social Bikash Tamang.
Dibya Paudel, chefe de comunicações da Sociedade
Nacional de Tecnologia Sísmica-Nepal (NSET), cujo objetivo é criar “comunidades
a prova de terremotos no Nepal até 2020”, começou a avaliar o dano sofrido
pelas principais áreas de escritórios e residenciais em todo o país, para
garantir que os órgãos estatais, bem como os setores médico e de comunicações,
tenham acesso aos mais necessitados. Porém, a destruição é tamanha que uma
avaliação integral levará tempo.
Os habitantes das zonas afetadas recebem a ajuda
esporádica de engenheiros nepaleses que oferece seus serviços voluntariamente
para avaliar os danos e a segurança das estruturas. “Estes engenheiros estão
nos ajudando gratuitamente, e estou muito agradecido a eles”, disse Shankar
Biswakarma, oriundo do bairro de Bagdol, em Katmandu. Mas, a caridade não será
suficiente para remediar a situação.
O número de moradores em Tunkikhel, a maior zona de
acampamento para os deslocados de Katmandu, foi reduzido pela metade nos
últimos dias. As famílias que restam são em grande parte trabalhadores
migrantes, disse à IPS Manisha Lama, uma mãe de 25 anos. “Muitos que têm
familiares e amigos para ajudá-los partiram. Os que ficaram aqui nos
acampamentos são aqueles que não são de Katmandu”, explicou.
Sua casa está na remota aldeia de Deupur, em Kavre,
um dos distritos mais afetados, cerca de 100 quilômetros ao sul da capital.
Kavre também tem o maior número de casas destruídas, com cerca de 30 mil
perdidas pelo sismo, segundo a SCRN. “As necessidades das famílias mais
afetadas são cruciais e a resposta está sendo um enorme desafio”, ressaltou
Paudel.
Ele assegura que as vítimas estão extremamente
frustradas pela ajuda de emergência que chega a passo de tartaruga, e
acrescentou que o governo e seus órgãos estão saturados pelos pedidos de
assistência e pela pressão de atender as necessidades humanitárias de milhões
de pessoas.
Até o dia 2 deste mês a comunidade internacional
havia se comprometido a destinar US$ 68 milhões à ajuda de emergência, quantia
bem abaixo dos US$ 415 milhões necessários para a recuperação do país, segundo
o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
E, o que é pior, as agências humanitárias denunciam
incidentes de saques das provisões de socorro antes que estas cheguem aos seus
destinatários. A longa espera da ajuda pelas vias formais faz com que as
famílias se desesperem, afirmam testemunhas dessa situação.
“Continuamos esperando a ajuda, mas soube que o
governo e as agências têm medo de vir por causa dos saques”, disse Sachen Lama,
morador de Bajarayogini, aldeia a 10 quilômetros de Katmandu. Ele e outros
moradores pedem calma à comunidade para quando chegarem os suprimentos, assim
os trabalhadores humanitários poderão realizar seu trabalho, sem obstrução no
processo de distribuição.
“Mas, há dois dias algumas pessoas desesperadas
provocaram saques, e as provisões da ajuda nunca chegaram até nós”, lembrou
Lama.
Fonte: ENVOLVERDE
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