segunda-feira, 18 de maio de 2015

Saques expressam o desespero das vítimas no Nepal.
Rita Rai, de 65 anos, ainda não recebeu ajuda de emergência na aldeia de Mahadevsthan, 100 quilômetros ao sul de Katmandu. Foto: Naresh Newar/IPS.
Por Naresh Newar, da IPS – 

Kavre, Nepal, 11/5/2015 – Mais de um milhão de famílias vítimas do terremoto de magnitude 7,8 que sacudiu o Nepal no dia 25 de abril começam a tentar seguir adiante com suas vidas, mas as devastadoras sequelas que esse país do sul da Ásia sofreu complicam seus esforços de recuperação.

A entrega da ajuda humanitária e dos suprimentos básicos de emergência continua sendo muito lenta, o que provocou alguns incidentes de saques por pessoas desesperadas pela espera. As fortes chuvas de monção que ocorrem anualmente em cada verão boreal estão à espreita na esquina, e em algumas partes do país já começaram as precipitações.

Até o momento foram confirmadas 8.413 mortes em 30 distritos, metade delas na capital Katmandu e seu vizinho distrito de Sindupalchok, e 17.576 feridos, segundo a Sociedade da Cruz Vermelha do Nepal (SCRN), a maior organização não governamental humanitária do país. Mais de 1,1 milhão de famílias foram afetadas ou deslocadas em 35 distritos, enquanto mais de 460 mil moradias foram completamente destruídas, acrescenta a SCRN.

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que o desastre natural afetou cerca de oito milhões dos 27 milhões de habitantes do Nepal. Destes, aproximadamente 3,5 milhões necessitam de ajuda alimentar. O Programa Mundial de Alimentos fez um pedido urgente de US 116,5 milhões para entregar a ajuda aos 1,4 milhões de pessoas mais necessitadas nos próximos três meses.

Por outro lado, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura se preocupa com a complicada situação da colheita de trigo neste país. A agência previa uma produção de 1,8 milhão de toneladas este ano, mas já se considera que essa previsão cairá bastante porque os produtores têm dificuldades de acesso aos campos arrasados, enquanto os sistemas de drenagem e canais de irrigação ficaram severamente danificados.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) anunciou no dia 5 deste mês que começara a transportar por via aérea 80 toneladas de ajuda humanitária para as zonas mais afetadas com “suprimentos para saneamento e higiene, materiais de cloração, kits contra diarreia e cólera, bem como sacos de água para fornecer água potável diante do temor de focos de doenças transmitidas pela água”. O Unicef também entregará “kits sanitários e lonas, já que muitas famílias fugiram para a intempérie devido à ameaça de réplicas do terremoto”.

“Já deixamos de chorar de medo porque temos que seguir em frente e sermos valentes”, disse à IPS a adolescente Sunita Tamang, de 13 anos, abraçada à sua melhor amiga, Manju Tamang, de 12. Ambas são oriundas da aldeia de Ghumarchowk, a 80 quilômetros de Katmandu. O terremoto as deixou sem suas famílias e suas casas, gado e reservas de alimentos. Sua escola está em ruínas e embora ambas estejam ansiosas para reiniciar as aulas terão que esperar terminar o mês obrigatório de fechamento das escolas declarado determinado pelo governo, diante da possibilidade de mais tremores.
Este povoado do distrito de Kavre foi um dos mais danificados pelo terremoto de 25 de abril. Foto: Naresh Newar/IPS.

Neste povoado, ao qual se chega após uma íngreme caminhada de três horas pela montanha, a maioria das 500 moradias está danificada ou é insegura, o que é um sério obstáculo para as famílias que estão cansadas de dormir à intempérie em suas plantações de batatas e abóboras. Agora residem em tendas de campanha improvisadas e só uma fina lâmina de plástico cobre suas cabeças. As chuvas torrenciais que afetam o povoado deixam o solo muito lamacento para se dormir. “Prefiro voltar para casa e correr o risco”, afirmou à IPS o assistente social Bikash Tamang.

Dibya Paudel, chefe de comunicações da Sociedade Nacional de Tecnologia Sísmica-Nepal (NSET), cujo objetivo é criar “comunidades a prova de terremotos no Nepal até 2020”, começou a avaliar o dano sofrido pelas principais áreas de escritórios e residenciais em todo o país, para garantir que os órgãos estatais, bem como os setores médico e de comunicações, tenham acesso aos mais necessitados. Porém, a destruição é tamanha que uma avaliação integral levará tempo.

Os habitantes das zonas afetadas recebem a ajuda esporádica de engenheiros nepaleses que oferece seus serviços voluntariamente para avaliar os danos e a segurança das estruturas. “Estes engenheiros estão nos ajudando gratuitamente, e estou muito agradecido a eles”, disse Shankar Biswakarma, oriundo do bairro de Bagdol, em Katmandu. Mas, a caridade não será suficiente para remediar a situação.

O número de moradores em Tunkikhel, a maior zona de acampamento para os deslocados de Katmandu, foi reduzido pela metade nos últimos dias. As famílias que restam são em grande parte trabalhadores migrantes, disse à IPS Manisha Lama, uma mãe de 25 anos. “Muitos que têm familiares e amigos para ajudá-los partiram. Os que ficaram aqui nos acampamentos são aqueles que não são de Katmandu”, explicou.

Sua casa está na remota aldeia de Deupur, em Kavre, um dos distritos mais afetados, cerca de 100 quilômetros ao sul da capital. Kavre também tem o maior número de casas destruídas, com cerca de 30 mil perdidas pelo sismo, segundo a SCRN. “As necessidades das famílias mais afetadas são cruciais e a resposta está sendo um enorme desafio”, ressaltou Paudel.

Ele assegura que as vítimas estão extremamente frustradas pela ajuda de emergência que chega a passo de tartaruga, e acrescentou que o governo e seus órgãos estão saturados pelos pedidos de assistência e pela pressão de atender as necessidades humanitárias de milhões de pessoas.

Até o dia 2 deste mês a comunidade internacional havia se comprometido a destinar US$ 68 milhões à ajuda de emergência, quantia bem abaixo dos US$ 415 milhões necessários para a recuperação do país, segundo o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.

E, o que é pior, as agências humanitárias denunciam incidentes de saques das provisões de socorro antes que estas cheguem aos seus destinatários. A longa espera da ajuda pelas vias formais faz com que as famílias se desesperem, afirmam testemunhas dessa situação.

“Continuamos esperando a ajuda, mas soube que o governo e as agências têm medo de vir por causa dos saques”, disse Sachen Lama, morador de Bajarayogini, aldeia a 10 quilômetros de Katmandu. Ele e outros moradores pedem calma à comunidade para quando chegarem os suprimentos, assim os trabalhadores humanitários poderão realizar seu trabalho, sem obstrução no processo de distribuição. 

“Mas, há dois dias algumas pessoas desesperadas provocaram saques, e as provisões da ajuda nunca chegaram até nós”, lembrou Lama.


Fonte: ENVOLVERDE

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