Oceanos
teriam riqueza de US$ 24 trilhões.
Ecossistema de arrecifes coralinos no Refúgio
Nacional de Vida Silvestre do Atol de Palmyra, nos Estados Unidos. Foto: Jim
Maragos/Serviços de Pesca e Vida Silvestre dos Estados Unidos.
Nações Unidas, 29/4/2015 – As riquezas sem
aproveitar dos oceanos teriam um valor aproximado de US$ 24 trilhões,
equivalente a várias das maiores economias do mundo, segundo um informe do
Fundo Mundial para a Natureza (WWF) publicado na segunda quinzena de abril. O
estudo, que descreve os oceanos como potências econômicas, alerta que a
superexploração, o uso indevido e a mudança climática estão solapando
rapidamente os recursos de alto mar.
“O oceano rivaliza com a riqueza dos países mais
ricos do mundo, mas estamos permitindo que se afunde nas profundidades de uma
economia falida”, afirmou Marco Lambertini, diretor-geral da WWF Internacional.
“Como acionistas responsáveis, não podemos esperar com seriedade continuar
extraindo imprudentemente os valiosos bens do oceano sem investir em seu
futuro”, acrescentou.
Se compararmos com as 10 maiores economias do
planeta, os oceanos ocupariam o sétimo lugar, com um valor anual de bens e
serviços de US$ 2,5 trilhões, segundo o informe Reativar a economia oceânica,
elaborado pelo WWF em associação com o Instituto da Mudança Mundial, da Universidade
de Queensland, da Austrália, e a consultoria The Boston Consulting Group.
O valor atual dos oceanos em sua totalidade chegaria a US$ 24 trilhões, calcula
o estudo.
Após nove anos de intensas negociações, um Grupo de
Trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU), integrado pelos 193 Estados
membros, acordou em janeiro convocar uma conferência intergovernamental para
redigir um tratado juridicamente vinculante com a finalidade de conservar a
vida marinha e os recursos genéticos dos oceanos, que agora estão, em grande
parte, fora do alcance da lei.
Palitha Kohona, um dos presidentes do Grupo de
Trabalho, que foi embaixador do Sri Lanka junto à ONU, disse à IPS que os
oceanos são a próxima fronteira para a exploração comercial de grandes
empresas, sobretudo aquelas que buscam desenvolver produtos farmacêuticos
lucrativos a partir de organismos vivos e não vivos que existem em grande
quantidade nas águas de alto mar.
“Os países tecnicamente avançados, que já estão com
seus navios de pesquisa nos oceanos, e alguns dos quais desenvolvem produtos,
incluídos valiosos medicamentos, com base no material biológico extraído de
alto mar, resistem à ideia de regular a exploração deste tipo de material e
compartilhar seus benefícios”, acrescentou Kohona.
Segundo a ONU, as águas de alto mar são aquelas que
ficam fora das zonas de exclusão econômica nacionais, que constituem 64% dos
oceanos, e o leito marinho que está além das plataformas continentais de cada
país. Estas áreas representam quase 50% da superfície da Terra, e incluem
alguns dos ecossistemas mais importantes para o ambiente, criticamente
ameaçados e menos protegidos do planeta.
O tratado internacional proposto, o Acordo sobre
a Biodiversidade em Alto Mar, abordaria o marco legal e institucional
insuficiente, fragmentado e mal implementado que, atualmente, não protege os
mares internacionais das numerosas ameaças que enfrentam no século XXI. Segundo
o informe do WWF, mais de dois terços do valor anual dos oceanos dependem do
estado saudável das águas para manter sua produção econômica.
A pesca minguante, o desmatamento dos mangues, bem
com o desaparecimento dos corais e da vegetação marinha ameaçam a
potencialidade econômica dos oceanos que sustenta os meios de vida de milhões
de pessoas em todo o mundo. O informe também alerta que o oceano está mudando
mais rapidamente do que em qualquer outro momento da história. Ao mesmo tempo,
o crescimento demográfico e a dependência humana do mar fazem com que a
restauração da econômica oceânica e de seus principais recursos seja um assunto
de urgência internacional.
O estudo do WWF especificamente indica a mudança
climática como principal causa da decadência da saúde dos oceanos. No ritmo
atual do aquecimento global, os arrecifes de coral, que proporcionam alimentos,
emprego e proteção contra as tempestades a centenas de milhões de pessoas,
desaparecerão completamente até 2050. Mais do que aquecer as águas, a mudança
climática provoca o aumento da acidez dos oceanos, algo que o meio ambiente
demorará centenas de gerações para remediar.
A superexploração é outra das principais causas da
decadência oceânica, já que 90% da população mundial de peixes foi
superexplorada ou explorada em 100%, afirma o estudo. A população de atum
vermelho do Pacífico diminuiu 96%, segundo o WWF.
“Não é muito tarde para reverter estas tendências
preocupantes e garantir um oceano saudável que beneficie as pessoas, as
empresas e a natureza”, afirma o documento, ao mesmo tempo em que propõe um
plano de ação de oito pontos que restauraria os recursos oceânicos em todo seu
potencial.
Entre as soluções mais urgentes está a incorporação
da recuperação dos oceanos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
que a ONU proporá este ano, a adoção de medidas internacionais contra a mudança
climática e o cumprimento dos compromissos assumidos para proteger as áreas
costeiras marinhas.
“O oceano nos alimenta, nos dá emprego e sustenta
nossa saúde e nosso bem-estar. Mas, estamos permitindo que se desmorone diante
de nossos olhos. Se os relatos cotidianos sobre a má saúde dos oceanos não
inspiram nossos dirigentes, talvez o faça a dura análise econômica”, afirmou
Lambertini. “Temos que trabalhar seriamente para proteger os oceanos, começando
por compromissos mundiais reais sobre o clima e o desenvolvimento sustentável”,
ressaltou.
Fonte: ENVOLVERDE
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