sábado, 2 de maio de 2015

Desastre nuclear de Chernobyl completa 29 anos.
por Redação do Greenpeace Brasil
Ativistas brasileiros protestam contra a usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro. Foto: ©Ivo Gonzalez/Greenpeace.

Pior acidente nuclear da história completa quase três décadas. Usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, expôs ao mundo os problemas relacionados à energia nuclear.

Há 29 anos um dos reatores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e matou dois trabalhadores. Material radioativo foi liberado no ambiente e grandes áreas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia foram contaminadas. Nos quatro meses seguintes, 28 trabalhadores da usina, de um total de 600, morreram em decorrência da radiação recebida, e outros 106 foram contaminados. Mesmo quase três décadas depois deste emblemático acidente – e de outros desastres nucleares como o de Fukushima – o Brasil dá sinais de que quer voltar a investir em energia nuclear.

A explosão que ocorreu por uma combinação de falha no projeto – mais especificamente no desenho técnico – erros operacionais e segurança inadequada, causou um desastre de dimensões enormes. Para se ter uma ideia, uma área de 30 quilômetros ao redor da usina teve acesso proibido e mais de 330 mil pessoas tiveram que ser evacuadas de suas casas, sem nunca poder voltar. Até hoje, já foram detectados cerca de 6 mil casos de câncer de tireoide relacionados ao acidente, e o número segue aumentando.

Os trabalhos de contenção também foram hercúleos. Cerca de 600 mil trabalhadores e bilhões de dólares foram colocados nos trabalhos de limpeza. Na época, um edifício de contenção, conhecido como “sarcófago”, foi construído ao redor da usina para limitar o escape de radiação. Mas esse “sarcófago” já passou do seu prazo de validade e um novo está sendo construído, a um custo de US$ 3 bilhões, e só deve ficar pronto em 2017 após sucessivos atrasos.

O pior desastre nuclear da história colocam em xeque os argumentos de que energia nuclear é segura e limpa. Seus defensores dizem que é bastante segura e que um acidente como o de Fukushima acontece somente uma vez a cada 250 anos. No entanto, nos últimos 70 anos, Fukushima, Chernobyl e os acidentes de Three Mile Island e Fermi 1, ambos nos Estados Unidos, provam o contrário.

Para piorar, um recente estudo publicado pela revista de tecnologia MIT Tech Review afirma que existe 50% de probabilidade que outro evento como Chernobyl aconteça nos próximos 27 anos, um evento como o de Fukushima aconteça nos próximos 50 e um como o de Three Mile Island, nos próximos 10 anos. Ainda há o agravante de que não existe solução permanente para todo o lixo atômico produzido.

Apesar de todos os problemas, custos e riscos da energia nuclear, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, declarou na última semana que o Brasil terá mais quatro usinas nucleares até 2030 e outras oito até 2050. “Braga afirmou que precisamos da energia nuclear para garantir a segurança energética do país, no entanto, isso não é verdade. A segurança brasileira pode ser alcançada com mais investimentos em energias renováveis, como solar e eólica”, diz Thiago Almeida, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

A energia eólica já é hoje a segunda mais barata no país e a perspectiva é de que a energia solar se torne a mais barata em um horizonte de cinco anos. Já o custo de uma usina nuclear é sempre crescente e nele não está incluído o custo de descomissionamento, em torno de US$ 1 bilhão por usina.

Em relação ao tempo de construção, o de usinas eólicas e fotovoltaicas é igual ou inferior a dois anos, enquanto um reator nuclear tem levado mais de dez anos para ser construído de acordo com médias globais. Vale lembrar que Angra 2 demorou quase 20 anos para entrar em operação e Angra 3, cujas obras começaram em 1984 e foram retomadas em 2010, foi prometida para 2012 a um custo de R$ 7 bilhões. No ano passado, o custo foi revisto para R$ 14,9 bilhões e sua entrega ficou para 2018 – por enquanto.

Sobre a confiabilidade de eólica e solar, a experiência internacional recente mostra que as redes de transmissão se adequam facilmente a fontes dinâmicas enquanto a energia nuclear segue como opção de resposta lenta para o despacho do sistema. Angra 1 segue com seu apelido de “vagalume“ devido à intermitência do fornecimento de energia.

“Energia nuclear não é 100% segura, além de ser muito mais cara do que se divulga. Também não é a fonte do futuro, basta olhar dados de 2014 mostrando que foram instalados em todo o mundo 95 GW de energia solar, contra 5 GW de nuclear”, continua Almeida. “Já passou da hora dos governantes abandonarem essa energia perigosa e investirem nas energias do século XXI. Solar e eólica são a melhor solução para uma matriz energética mais limpa e segura.” 


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