Pesquisadores desenvolvem feijão
mais resistente à seca.
por Elton
Alisson, da Agência Fapesp
Planta é capaz de se desenvolver com volume de água
até 30% menor do que o usual; pesquisadores tentam identificar genes que
confiram à cana-de-açúcar tolerância ao estresse hídrico. Foto: Arquivo IAC.
Agência Fapesp – Os produtores de feijão-carioca em
diferentes regiões do Brasil começaram a cultivar, nas safras de 2013 e deste
ano, uma variedade do feijoeiro Phaseolus vulgaris L. mais resistente à
diminuição da disponibilidade de água durante o período de crescimento da
planta.
Trata-se de uma cultivar desenvolvida por
pequisadores do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio de um projeto
realizado com apoio da FAPESP.
Batizada de IAC Imperador, a cultivar é capaz de se
desenvolver com volume de água até 30% menor do que o usual, afirmam os
pesquisadores da instituição.
“A IAC Imperador já está em todas as regiões do
Brasil e hoje há 28 empresas fazendo a multiplicação dessa cultivar”, disse à Agência
FAPESP Alisson Fernando Chiorato, pesquisador e diretor do Centro de Grãos e
Fibras do IAC e coordenador do projeto.
“Os testes que realizamos com essa planta
demonstraram que ela tolera a redução de até 30% do volume de água durante o
cultivo. Com isso, além de diminuir o uso de água, o agricultor utiliza menos
energia elétrica em seu sistema de irrigação”, avaliou Chiorato.
A IAC Imperador tem um ciclo de cultivo mais curto
em relação a outras variedades de feijão. A cultivar completa seu ciclo de crescimento
em 75 dias, ante 95 dias do ciclo normal. A raiz da planta também cresce mais
rápido e é mais robusta em comparação com outras.
Com essas características, a planta extrai mais
água e nutrientes do solo, em maiores profundidades, permanece menos tempo no
campo e sofre menos com a falta de água.
“A redução do ciclo de cultivo e a raiz mais
robusta conferem à planta um sistema mais agressivo para a aquisição de água e
a fazem mais tolerante a situações de estresse hídrico”, disse Chiorato.
“A produtividade é menor do que a de uma planta que
não sofreu estresse hídrico, mas mantém a qualidade do grão para ser
comercializado pelo produtor”, disse.
Cruzamentos de linhagens
A IAC Imperador foi obtida a partir do intercâmbio
de materiais do banco de germoplasma do IAC e do Centro Internacional de
Agricultura Tropical (Ciat), em Cali, na Colômbia.
Por meio de uma colaboração iniciada em 2009, os
pesquisadores do IAC importaram 420 linhagens genéticas de feijoeiro da
instituição de pesquisa colombiana, que já trabalhava no desenvolvimento de
cultivares tolerantes ao déficit hídrico, visando transferi-las para países
africanos.
Ao avaliar 250 dessas 420 linhagens genéticas, os
pesquisadores brasileiros identificaram duas como mais promissoras e iniciaram
os cruzamentos delas com as cultivares do IAC. A Imperador é resultado desses
cruzamentos.
“Ao todo, fizemos mais de 500 hibridações
[cruzamentos genéticos] entre cultivares de feijoeiro, que resultaram em cerca
de 2,5 mil linhagens, das quais selecionamos 76 que estão agora em avaliação”,
disse Chiorato.
“Estamos tentando identificar uma ainda melhor que
a IAC Imperador, capaz de produzir feijão com redução de disponibilidade de
água entre 32% e 35%”, disse.
Os pesquisadores da instituição selecionam
linhagens que sofrem menos com a redução da disponibilidade de água durante a
fase vegetativa – o estágio mais sensível do desenvolvimento da planta, que
antecede o florescimento.
Para isso, eles cultivam as plantas em uma estufa
coberta, onde são irrigadas pelo prazo máximo de até dez dias após a
germinação, e avaliam a perda de produtividade de cada uma das diferentes
cultivares.
As linhagens que sofrem menos com o estresse
hídrico são selecionadas e recombinadas com outras. Segundo Chioratto, o
feijoeiro Phaseolus vulgaris L. é uma planta muito sensível à falta de água e
pode suportar uma redução de disponibilidade hídrica para completar seu ciclo
de cultivo de até 40%. “Ela produz menos, mas consegue fechar o ciclo até esse
limite de disponibilidade de água”, disse.
No entanto, a planta produz grãos de feijão
murchos, pequenos e mais duros, impróprios para comercialização e consumo, e
pode até mesmo morrer. A nova cultivar garante a qualidade do grão, mesmo que o
rendimento seja um pouco menor.
A proposta do programa de melhoramento genético de
cultivares de feijoeiro tolerantes ao estresse hídrico do IAC é identificar e
usar linhagens mais resistentes ao déficit hídrico em regiões em que o veranico
tem sido superior a 30 dias sem chuva.
“Estamos minimizando a sensibilidade das plantas em
período de veranicos, em que é comum ficar de 15 a 35 dias sem chuva”, estimou.
Cana
Por meio de um projeto também realizado com apoio
da FAPESP, outro grupo de pesquisadores da instituição tenta identificar genes
de cana-de-açúcar (Saccharum sp) que confiram à planta tolerância ao estresse
hídrico.
Os pesquisadores já identificaram 10 potenciais
genes da cana relacionados ao estresse hídrico e irão realizar agora testes de
sua função usando inicialmente arroz (Oryza sativa) como planta-modelo.
“O arroz é uma planta bastante próxima da
cana-de-açúcar. Ela tem um ciclo rápido de crescimento, que possibilita avançar
entre três e quatro gerações por ano”, explicou Silvana Creste, pesquisadora do
IAC e coordenadora do projeto.
Mas, além do arroz, os pesquisadores colocam os
genes já identificados em variedades comerciais de cana para fazer uma
avaliação funcional.
“Estamos realizando esses testes inicialmente em
casa de vegetação para depois podermos avaliar se os genes são alvos interessantes
para o desenvolvimento de uma variedade de cana comercial transgênica”, disse
Creste à Agência FAPESP.
Fonte: Agência Fapesp
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