Nível do mar
avança e deve aumentar os custos no cais.
Leopoldo Figueiredo
O aumento do nível do mar previsto
para as próximas décadas aumentará os custos do Porto de Santos, pontualmente
seus gastos com dragagem e a manutenção de sua faixa de cais. Tais impactos
reforçam a tese de que a expansão do complexo marítimo deve ocorrer fora da
área do estuário, na região da costa, alternativa que já está em análise
pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp),a administradora do
porto.
A análise foi apresentada pelo
professor universitário e pesquisador Paolo Alfredini na manhã de quarta-feira
(12), durante sua palestra Adaptação das operações náuticas portuárias às
mudanças climáticas em curso, parte da programação da 6ª edição do Seminário e
Workshop em Engenharia Oceânica (Semengo), realizada em Rio Grande (RS).
Organizado a cada dois anos pela
Universidade Federal de Rio Grande (RS) e considerado um dos principais eventos
do setor, o Semengo tem como tema desta edição Engenharia Costeira e Portuária.
Para debater os avanços e desafios nessas duas áreas, participam pesquisadores,
consultores e empresários de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e de
países como Portugal e Canadá.
Gastos com dragagem e a manutenção da
faixa de cais estão entre os investimentos previstos
SITUAÇÃO CRÍTICA
Doutor em Engenharia Civil e
professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e da
Universidade Católica de Santos (UniSantos), Alfredini disse que o nível do mar
na costa brasileira, inclusive na região de Santos, está aumentando. E a
situação é ainda mais crítica. De acordo com o pesquisador, a taxa desse
crescimento é cada vez maior.
Levantamento realizado por ele e pela
professora Emília Arasaki aponta que o nível médio do mar subiu 25,4
centímetros por século no período de 1952 a 2007. Mas se forem analisados os 37
últimos anos (de 1970 a 2007),essa taxa sobe para 39,1 centímetros por século.
“Percebemos que o nível do mar já
vinha aumentando, mas se nos concentrarmos nos últimos anos, esse aumento é
ainda maior. Conforme os registros bibliográficos, a partir dos anos 70, essa
velocidade tem aumentando no mundo todo”, afirmou o engenheiro.
Para as áreas urbanas da Baixada
Santista, isso significa que cada vez mais, nas próximas décadas, o mar deve
avançar sobre suas “terras baixas”, afetando áreas residenciais e ruas e
avenidas próximas à costa (como no caso do bairro da Ponta da Praia).
No Porto de Santos, o aumento do
nível do mar acaba por aumentar o transporte de sedimentos pelas correntes e
pela costa, intensificando o assoreamento (a deposição de areia, entre outros
materiais, em um leito, tornando-o mais raso) do estuário santista e da região
da barra (onde os navios ficam fundeados, à espera de uma vaga ou do momento de
atracar).
Para contrabalançar esse fenômeno e
manter a profundidade, será necessário reforçar a dragagem na região, ou seja,
um custo a mais para o complexo marítimo.
MANUTENÇÃO
Outro reflexo destacado por Alfredini
é o maior gasto com as obras de manutenção da infraestrutura portuária,
pontualmente com a faixa de cais. Isso ocorrerá pois um maior nível do mar
amplia a altura das ondas e consequentemente sua energia – de acordo com o
professor, a energia de uma onda é proporcional ao quadrado de sua altura.
Nesse cenário, ondas mais altas vão se chocar com uma força ainda maior contra
o cais, tendo mais chances de danificá-lo e reduzindo sua vida útil.
“E custo com manutenção é custo para
a vida toda”, enfatizou. Segundo o pesquisador, recentemente o Governo Federal
decidiu acompanhar os efeitos do aumento do nível do mar na costa brasileira.
Os dados apresentados ontem integram um trabalho que Paolo Alfredini realiza
para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
SANTOSVLAKTE É A SAÍDA PARA EXPANSÃO
Ao comentar o aumento do assoreamento
do canal do Porto e a necessidade cada vez maior de dragá-lo, o pesquisador
Paolo Alfredini lembrou que “a dragagem de Santos está em um nível crítico,
tanto que é cada vez mais difícil e trabalhoso manter a cota de ao menos 15
metros de profundidade”.
Por isso, para ele, a expansão do
complexo marítimo deve ocorrer fora da área do estuário. Alfredini explica que
a profundidade natural do canal (se nunca tivesse sido dragado) seria de 8 ou 9
metros. Em seus 122 anos de história como porto organizado, o complexo ampliou
essa medida, chegando hoje a valores entre 13 e 15 metros em toda a sua
extensão.
Ecada vez que há um aprofundamento,
sua manutenção envolve maiores esforços. Para o engenheiro, esse fato e os
reflexos previstos com o aumento do nível do mar mostram que a expansão do
complexo marítimo deve ocorrer fora da área do estuário. E citou que a Codesp
já estuda ampliar o porto com a construção de terminais offshore. “Nesse sentido,
Santos terá de seguir o caminho de Roterdã e Le Havre e crescer para o mar”,
afirmou, referindo-se aos projetos de Maasvlaktee Port 2000.
No primeiro, o Porto de Roterdã, na
Holanda, aterrou uma área do Mar do Norte para a construção de novas instalações.
No segundo, a Autoridade Portuária de Le Havre, na França, utilizou espaços
aterrados na foz do Rio Sena.
Conforme reportagem exclusiva
publicada em A Tribuna em 14 de setembro passado, a Codesp estuda ampliar as
instalações do complexo santista com a implantação de terminais na costa.
Essa pesquisa, iniciada no último ano e que está em seu estágio inicial, é
desenvolvida em parceria com o Instituto de Oceanografia da USP. Devido à
semelhança com a iniciativa holandesa, o projeto foi batizado como Santosvlakte.
Fonte: A
Tribuna
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