O Planeta tem pressa; não dá para
esperar.
por André
Ferretti*
Foto: http://www.shutterstock.com/
O clima estava morno na primeira semana da 20ª
Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, a COP
20. Essa apatia inicial fez com que alguns participantes antecipassem sua volta
aos seus países de origem, mesmo sabendo que a semana principal do evento
começaria em 08 de dezembro.
Até a delegação oficial brasileira passou boa parte
da primeira semana sem fazer as costumeiras coletivas de imprensa ao final de
cada dia. A primeira só foi realizada na sexta-feira (05), quando foi reforçada
a proposta que o país submeteu à Convenção, conforme já havia sido apresentado
em uma reunião anterior. Chamada de “Círculos Concêntricos”, essa proposta
consiste em classificar os países membros da Convenção em três anéis de uma
mesma esfera: o central, com 37 países desenvolvidos que teriam metas de
redução de emissões e de ajuda financeira aos menos desenvolvidos e aos em
desenvolvimento; a esfera do meio dos países em desenvolvimento, incluindo o
Brasil, que teriam metas de corte de emissões relativas ao Produto Interno
Bruto (PIB), população e projeção de emissões futuras; e, a esfera externa dos
países menos desenvolvidos, que seriam apenas encorajados a reduzir emissões.
No ano passado, o Brasil havia apresentado uma
proposta na COP de Varsóvia no qual defendia que os países apresentassem
compromissos em função da sua responsabilidade histórica pelo aumento da
temperatura, observado desde a Revolução Industrial até hoje; e sugeria que o
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês)
definisse uma metodologia para calcular a taxa a ser utilizada por cada país.
Essa posição é muito similar a que foi apresentada
na COP 6, realizada em Haia, na Holanda, em 2000. Naquele tempo, o Brasil tinha
a posição firme de defender com unhas e dentes o princípio das
responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Esse foi um ponto apresentado
inicialmente pelo Brasil, e que acabou sendo incorporado ao Protocolo de Quioto,
criado em 1997 durante a COP 3.
Depois de duas décadas, o que está sendo
apresentado em Lima é mais do mesmo, insuficiente para provocar as mudanças
necessárias. O Brasil segue com o seu mesmo discurso de que os países do Anexo
1 (os desenvolvidos) do Protocolo de Quioto precisam promover grandes mudanças
para que os demais comecem a fazer alguma coisa. O caminho não é bem por aí.
O Brasil pode fazer muito mais. Pode reduzir o
desmatamento e até zerá-lo em poucos anos. Pode parar de subsidiar o preço dos
combustíveis fósseis e reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
dos automóveis, e passar a investir mais em combustíveis e em energia limpa.
Porém, o que temos visto no país é justamente o contrário, como apontou o SEEG
(Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa), lançado em
novembro pelo Observatório do Clima. O SEEG mostrou que as emissões nacionais
de gases de efeito estufa (GEEs) aumentaram 7,8% de 2012 para 2013. Todos os
setores da economia monitorados tiveram aumento de emissões, sendo que os mais
expressivos foram o desmatamento e o consumo de combustíveis fósseis para
transporte e geração de energia. O pior de tudo é que, apesar do aumento das
emissões, o crescimento do PIB no período foi pífio, o que significa que o país
está poluindo mais do que crescendo, ou seja, está carbonizado seu PIB.
Todo mundo precisa fazer o máximo de esforço
possível para que as mudanças ocorram agora. A Convenção do Clima deveria criar
uma forma de estimular todo e qualquer esforço positivo para a redução das
emissões de gases de efeito estufa. Não dá mais para esperar.
* André Ferretti é gerente de Estratégias de
Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador
geral do Observatório do Clima. Participou de diversas Conferências das Partes
(COPs) da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, como da COP 6 em
Haia, da COP 7 em Marrakesh, da COP 9 em Milão, da COP 10 em Buenos Aires, da
COP 15 em Copenhague, da COP 16 em Cancun, da COP 17 em Durban, da COP 18 em
Doha e da COP 19 em Varsóvia.
Fonte: Plurale
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