sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O que há por trás do acordo entre os EUA e China.
por Alice Tomaselli e Silvia Debiasi*
China e Estados Unidos sãos dois maiores emissores mundiais.

Entrevista com Bonun Li, jovem observador da Climate Action Network na COP20.

A Agência Jovem de Notícias, conversou com Bonun Li, jovem ativista chinês que veio à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Seu papel em Lima é de Observador. 

Bonun faz parte de uma ONG chamada Global Youth Low Carbon Action, ligada à Climate Action Network, uma rede de organizações que tratam principalmente de meio ambiente e alterações climáticas. Nessas duas semanas da Conferência, ele tem realizado reuniões no Pavilhão China, participado de eventos paralelos e criado oportunidades de encontro e troca de ideias e informações sobre o papel da China nas negociações.

Algumas semanas atrás, foi assinado um acordo entre os EUA e a China sobre a redução das emissões. Do que se trata esse acordo? 

– Todos os anos, os membros da Asian Pacific Economic Cooperation (entre os quais 21 estados que fazem fronteira com o Pacífico) se reúnem para falar sobre vários assuntos. Neste ano o local da reunião foi Pequim, o que levou a China a ser mais pró-ativa e aproveitar a oportunidade para promover um acordo com os Estados Unidos. Ainda que a Mudança Climática não tenha sido o principal tema do encontro, foi assinado um acordo sobre a redução das emissões com os Estados Unidos. Estes últimos se comprometeram a reduzir as emissões em 25-28% até 2025. O governo chinês, por sua vez, tem outro plano de ação. A ideia é atingir o pico de emissões em 2030 para, em seguida, começar a sua diminuição. Isso não significa que eles já não estejam estabelecendo políticas para reduzir as emissões. Durante todo esse processo, o crescimento econômico vai continuar o seu desenvolvimento, mas com uma taxa diferente daquela das emissões (taxa que se tornará depois inversa, quando em 2030 a economia deve crescer e deverão diminuir as emissões).

O que você acha disso?

– Temos recebido críticas, por exemplo, da Austrália, cética sobre como será alcançado esse pico máximo e sobre por que devemos esperar ainda 15 anos. Mas estou confiante e acho que já na primeira parte de 2015 o governo chinês terá um plano detalhado. Desde já ele está incentivando o uso de tecnologias para reduzir as emissões. O carvão, por exemplo, é muito utilizado, mas estão buscando mudar a estrutura na direção de fontes renováveis. Nós, chineses, estamos muito satisfeitos por se estar falando desses temas. A questão da poluição é realmente muito sentida. 

Especialmente nas grandes cidades, a qualidade do ar e as dificuldades respiratórias são um sinal de alarme geral.

Na China existe acesso suficiente às informações e, portanto, um debate aberto sobre as questões ambientais?

– As pessoas têm acesso às informações dadas pelo governo. Isso, porém, não é visto como uma limitação, uma vez que a questão ambiental é muito delicada e as escolhas técnicas não podem ser entendidas por todos. Também é verdade que todos os comentários negativos são bloqueados e que o governo não permite que sejam lidos. No entanto, o acordo firmado foi apreciado tanto dentro como fora da China, de forma que não há problemas desse ponto de vista.

Então, existe envolvimento e interesse da população sobre as questões ambientais?

– Certamente. Nossas cidades estão muito poluídas, em algumas há excesso de poluição durante a maior parte do ano, as pessoas lutam para respirar e há doenças claramente relacionados à poluição. Dessa forma, a atenção de pessoas a isso é muito alta. Precisamente por isso, a maioria acolheu com entusiasmo esse primeiro compromisso do governo, apesar ser ainda muito pouco para alguns. Mas pelo menos é um começo.

Qual é o envolvimento dos jovens nas questões ambientais? 

– Para começar, há uma grande rede: a China Youth Climate Action Network, que lida com as mudanças climáticas e que faz parte da Climate Action Network. Além disso, são muitas as associações de Low Carbon Action, dedicadas à redução das emissões, que têm contatos também com diversas universidades chinesas. Há também muitas organizações que lidam com o ambiente e a natureza, outras que são especializadas em clima. Organizam-se atividades culturais, palestras de especialistas sobre como proteger o meio ambiente e, mais genericamente, sobre a situação das alterações climáticas. Há também uma ampla rede de ativistas que apoia os intercâmbios e organiza deslocamentos para eventos como a COP20. Aqui, por exemplo, estão presentes 20 estudantes chineses enviados para serem embaixadores do clima e levarem à China uma maior consciência internacional. Há também várias parcerias entre os EUA e a China. Resumindo, as iniciativas não faltam!

E a educação nas escolas?

– Nas escolas primárias do Estado não se organiza nada de relevante, enquanto nas particulares há programas para sensibilizar os alunos sobre as questões ambientais. Algumas das associações que trabalham com o ambiente organizam reuniões nas escolas para plantar árvores, realizar fóruns e reuniões sobre as questões. Além disso, há as associações de estudantes para promover a consciência ambiental.

Existem mecanismos, como incentivos, que estimulem o investimento privado para a eficiência energética e a utilização de energias alternativas?

– Sim, existem alguns mecanismos de incentivo, como a redução de impostos no caso de certos tipos de investimento, mas isso ainda não é muito difuso. Estão sendo priorizadas mais as indústrias e o mercado de carbono, ou a cobrança de um possível aumento das emissões, comprando essa possibilidade no mercado de carbono. Mas será preciso tempo para consolidar esses mecanismos, pois ainda não estão maduros. Concluindo, ainda há muito a fazer, mas eu acredito que a China esteja na direção certa.

* Alice Tomaselli e Silvia Debiasi são repórteres da Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação. Todo o conteúdo produzido pela agência durante a COP20 será publicado pela Envolverde neste espaço. Acompanhe! 


Fonte: ENVOLVERDE

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