No Peru, arte é usada para
conscientização ambiental.
por
Fernanda Kalena, do Porvir
Coletivo de artistas cria cartilhas com atividades
e processos formativos para trabalhar questões de sustentabilidade.
Cerca de dez anos atrás, o escultor peruano Carlos
Pedreros vivia um conflito. Trabalhava fazendo esculturas de madeira, mas o
entendimento de que árvores morriam para que seu trabalho fosse concretizado o
incomodava. “Percebi que a mais bonita escultura de madeira não é tão bonita
quanto a mais feia das árvores. Então pesquisei materiais para trabalhar que
não prejudicassem o meio ambiente”, conta ao Porvir durante o Development and
Climate Days, evento paralelo a Cop20 (Conferência Climática das Nações
Unidas), realizado nos dias 6 e 7 de dezembro, em Lima, Peru.
Foi por causa deste sentimento que ele decidiu
então se aprofundar em temas ambientais e de sustentabilidade e passou a
realizar seu trabalho com papel reciclado. Durante esse processo, Pedreros
passou alguns meses trabalhando em escolas de comunidades da floresta amazônica
peruana, onde teve a oportunidade de entender a importância desse ambiente para
seus moradores e a relação dos jovens com aquela terra.
Foto: Aradaphotography / Fotolia.com
Essas escolas possuem salas de aula multisseriadas
e uma única professora para trabalhar com estudantes de quatro a 16 anos. O
escultor servia como auxiliar dessa professora e introduzia a arte aos alunos,
ensinando-os técnicas de desenho.
“Os mais jovens não sabiam e não queriam desenhar.
Eles queriam usar a câmera fotográfica que eu tinha comigo. Os ensinei a usá-la
e no fim do projeto tínhamos desenhos bons, fotos ótimas e eles me deram uma
aula sobre animais e plantas que eles retrataram que eu nunca tinha visto
antes”, relembra o artista. Ele também conta que a professora da turma, em um
primeiro momento, ficou incomodada com a atividade, pois as aulas não estavam
seguindo o planejamento. E foi a reação dela que o levou a entender melhor o
que queria fazer: aproximar as questões ambientais da educação, e não só de
estudantes, mas de qualquer pessoa.
Escola de soluções
O sonho de Pedreros virou realidade este ano,
quando se aproximou de outros artistas locais através do coletivo Escuela de
Soluciones al Paso (algo como escola de soluções a caminho, em livre tradução).
Juntos, eles desenvolvem manuais interdisciplinares que buscam desenvolver
novas metodologias de aprendizado centradas na relação do cidadão com seu
entorno.
O mais recente é o chamado Caderno Ecológico que,
além de abordar temas como consumo consciente e reciclagem, ensina como fazer e
cultivar uma horta em caixas de madeira – que normalmente são jogadas fora – em
casa, na escola e até mesmo em jardins comunitários. Seu propósito é vincular
atividades artísticas a processos de formação. “Além de ensinar a micro
agricultura, mostrar para as pessoas que eles podem cultivar sua própria comida
muda os valores e a relação com o meio”, afirma o artista que completa: “Ao
compartilhar essas técnicas e ideias, encorajamos as pessoas a pensar em termos
ecológicos e ampliamos a consciência sobre as questões ambientais”.
Essas cartilhas estão disponíveis na página do coletivo no Facebook
e são gratuitas para quem quiser utilizá-las, mas o interesse de educadores
pelo material tem chamado a atenção. “A maioria dos que estão fazendo uso disso
são professores. Eles querem conhecer novas estratégias de como levar esse
debate para suas salas de aula. Isso nos incentiva a continuar produzindo
materiais, para que mais pessoas tenham contato e se envolvam com a causa”,
explica Pedreros.
Escultura coletiva
Carlos Pedreros também foi um dos responsáveis pela
execução de uma performance experimental, idealizada pelo artista Tomas
Saraceno, que consistia em juntar sacolas plásticas para fazer uma espécie de
balão, com seis metros de altura por cinco de largura – ela foi construída com
a ajuda de estudantes peruanos e voluntários da Cruz Vermelha.
Chamada de Intiñan, significa caminho do sol no
dialeto indígena Quechua e teve como objetivo trazer para o debate o uso do
plástico e o que pode ser feito para reaproveitar esse material, já que
naturalmente sua decomposição demora mais de cem anos.
Foto: Fernanda Kalena / Porvir
O Development and Climate Days teve como objetivo
organizar uma agenda comum entre diferentes nações e organizações para
erradicar em conjunto tanto as emissões de gases de efeito estufa quanto a
pobreza e foi realizado em conjunto pelo Red Crescent Climate Centre da Cruz
Vermelha, pelo International Institute for Environment and Development, pelo
Overseas Development Institute e também pelo Climate and Development Knowledge
Network.
* A jornalista viajou ao Peru por convite do
Overseas Development Institute.
Fonte: Porvir
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