Atuação coletiva fortalece
agroflorestas do litoral do Paraná.
Desde janeiro deste ano um amplo conjunto de
atividades em torno das agroflorestas está sendo efetivado no litoral do
Paraná. Trata-se da articulação de organizações governamentais,
não-governamentais, movimentos sociais, estudantes e acadêmicos, famílias
agricultoras e representantes de comunidades tradicionais, que estão
trabalhando juntos, em prol da irradiação dos sistemas agroflorestais (SAFs).
Na região, 40 famílias agricultoras distribuídas
nos municípios de Morretes, Antonina, Paranaguá e Serra Negra já atuam
efetivamente com os SAFs assessorados pela Cooperafloresta (Associação dos
Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo/SP e Adrianópolis /PR), por meio
do Projeto Agroflorestar, patrocinado pela Petrobras através do Programa
Petrobras Socioambiental.
“Mas ainda há muitas famílias agricultoras
distribuídas nos sete municípios do litoral que desejamos alcançar. Para tanto,
estamos fortalecendo ações para impulsionar um projeto em comum, o da
multiplicação das agroflorestas na região”, enfatiza Manoel Lesama, professor
doutor de Agroecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR / Litoral), que
integra a articulação que atua com sistemas agroflorestais no Litoral do
Paraná.
Arco de alianças em torno dos SAFs
Além do professor Lesama, o trabalho é
desempenhado pelos engenheiros agrônomos Luis Fernando Martin (Emater de
Antonina) e Carlos Eduardo Siole Soane (Embrapa Curitiba), pela Motirõ
Sociedade Cooperativa (composta por ex-alunos da UFPR), pela Cooperafloresta
(Projeto Agroflorestar), além de representantes de movimentos sociais, a
exemplo do Grupo Gralha Azul, do Assentamento Pantanal.
Litoral paranaense – onde a Floresta Atlântica e
manguezais ainda prevalecem
O litoral paranaense caracteriza-se como área
prioritária no que tange à conservação, já que a região configura-se como um
mosaico de unidades ambientais no qual há fragmentos representativos do bioma
Mata Atlântica bem preservados e extensas áreas cobertas de manguezais. Daí a
importância do apoio recebido da Petrobras para as ações socioambientais em
desenvolvimento através do Projeto Agroflorestar.
“Considero o resultado do trabalho que já pode
ser aferido no litoral paranaense uma imensa vitória do Projeto Agroflorestar.
Lá, além de fortalecer e expandir as agroflorestas, o Projeto somou esforços
com uma organização de instituições e pessoas atuando em prol dos SAFs, atuando
de forma articulada e complementar”, pontua Nelson Eduardo Corrêa Netto,
engenheiro agrônomo, coordenador do Projeto Agroflorestar e técnico da
Cooperafloresta.
“Lá, os Sistemas Agroflorestais são fundamentais,
já que as famílias agricultoras da região não tinham como produzir alimentos
diante da abundância ainda preservada da Mata Atlântica, dos manguezais. Então,
o cuidado com o meio ambiente nesta região exige o olhar, a concordância e os
esforços das autoridades de todas as esferas do governo e atores sociais. Além
de ser fundamental plantar, colher e viver dignamente, o cuidado com a
preservação dos recursos naturais deve ser redobrado”, finaliza o coordenador
do Projeto Agroflorestar.
Próximos Passos: fomento à produção
Luis Fernando Martin, da unidade municipal da
Emater de Antonina, há dez anos busca articular ferramentas de trabalho,
parcerias, recursos, para proliferar as agroflorestas. Aos poucos, foi
encontrando pessoas de vários âmbitos que atuavam em consonância, efetivando
metodologias e viabilizando recursos para apoiar e aumentar o número de
famílias agricultoras agroflorestais.
“Para tanto, os mutirões do Projeto Agroflorestar
são fundamentais. É a forma de propagação da informação e de capacitação mais
funcional que já trabalhamos. Depois de somarmos esforços com a Cooperafloresta
não temos mais problemas com a comercialização coletiva dos produtos aqui
produzidos. Agora, faltam produtos, logo, precisamos alcançar novas famílias
agricultoras para fomentar a produção. Muitas delas, ficam isoladas, são
ribeirinhas, caiçaras. Não têm recursos para sair de barco para fazer parte do
mutirão que ocorre, por exemplo, no acampamento José Lutzemberg, em Antonina.
Mas, ao lado da Cooperafloresta, através do Projeto Agroflorestar, temos a meta
de atingir mais 40 famílias agricultoras”, pontua.
O Programa Petrobras Socioambiental estimula o
processo participativo comunitário e a construção de autonomia e
sustentabilidade das propostas apoiadas. Neste sentido, a atuação dos agentes
multiplicadores é estratégica para a consolidação e continuidade das propostas,
pois, enquanto membros das comunidades locais, possuem vínculos e compromissos
que extrapolam o âmbito do projeto. Neste sentido, tem-se buscado capacitar as
organizações locais na perspectiva da sustentabilidade das ações, a exemplo da
oficina sobre elaboração de projetos, em Antonina, realizada pela
Cooperafloresta dentro do Projeto Agroflorestar.
Em sintonia com os demais integrantes dos Grupos
de Trabalho, Billidhol Oliveira Mateus, representante da Motirõ Sociedade
Cooperativa(http://www.motiro.org), enaltece a importância destaorganização em
torno dos SAFs no Litoral, em prol da sinergia entre diversas instituições.
“Somando esforços formamos um colegiado para organizar localmente as atividades
do projeto, definindo estratégias para expandirmos a Agrofloresta enquanto
modelo produtivo, adequado às condições da região”.
Billidhol aponta resultados práticos que já podem
ser conferidos para a geração de trabalho e renda no campo e para despertado o
interesse de muitos jovens filhos de agricultores. “Observamos, neste último
ano, que só na comunidade do Rio Pequeno, em Antonina, cinco jovens que haviam
saído da comunidade para estudar ou busca de trabalho, retornaram após o início
da comercialização dos produtos agroflorestais nos programas governamentais de
aquisição de alimentos”.
“Estas iniciativas do Projeto Agroflorestar são
essenciais para criarmos condições favoráveis para que as comunidades
desenvolvam suas autonomias”, sinaliza o professor Lesama. “Não podemos
trabalhar com intervenção momentânea e com ações localizadas. O indivíduo não
existe se não fizer parte da coletividade. Então, estamos tentando criar uma
organização centrada no coletivo e para o futuro”, finaliza.
“A Cooperafloresta trouxe uma nova vida para
todos nós. Está sendo uma experiência marcante, pois vemos, dia após dia, maior
diversidade de alimentos nas nossas mesas, nossos filhos dedicados a estudar
para dar continuidade às atividades no campo, as mulheres envolvidas na
transformação dos alimentos e nós, replicando nossos conhecimentos”, relata
Ademir Fernandes, articulador regional do Projeto Agroflorestar em Morretes.
Sobre a Cooperafloresta – http://cooperafloresta.com
A Cooperafloresta (Associação dos Agricultores
Agroflorestais de Barra do Turvo/SP e Adrianópolis /PR) nasceu em 1996. Em 2003
foi formalizada e hoje atua diretamente com 120 famílias agricultoras e
quilombolas de Adrianópolis (PR) e Barra do Turvo (SP). Também assessora 180
famílias agriculturas assentadas, distribuídas nos municípios de Morretes,
Antonina, Paranaguá, Serra Negra e Lapa (Paraná); Ribeirão Preto e Apiaí (São
Paulo).
Em todas as localidades promove o fortalecimento
da agricultura familiar e camponesa assessorando os processos de organização,
formação e capacitação das famílias agricultoras, planejamento dos sistemas
agroflorestais, além do beneficiamento, agroindustrialização, certificação
participativa e comercialização da produção.
Além do Projeto Agroflorestar, a Cooperafloresta
executou três outros projetos patrocinados pela Petrobras que tem se
configurado como uma parceira fundamental para a consolidação, qualificação e
multiplicação da prática agroflorestal, geração de renda e promoção da conservação
ambiental.
Em 2013, a prática agroflorestal desenvolvida
pela Cooperafloresta classificou-se em segundo lugar no Prêmio Tecnologia
Social promovido pela Fundação Banco do Brasil. A premiação teve 1.011 projetos
inscritos em cinco categorias distintas, e apenas 15 projetos premiados. A
tecnologia social em questão foi a ‘Agrofloresta baseada na estrutura, dinâmica
e biodiversidade florestal’, da categoria “Comunidades Tradicionais,
Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária”.
Sobre o Projeto Agroflorestar
O Projeto Agroflorestar – iniciativa que busca o
equilíbrio entre o desenvolvimento humano e o meio ambiente – está sendo
apoiado pela Petrobras dede 2010. Ao longo de sua execução vem conquistando
resultados importantes e muitos avanços, transformando a vida de centenas de
famílias agricultoras de diversas regiões do país ao mesmo tempo em que
recupera e conserva os recursos naturais.
Por Josi Basso
Fonte: EcoDebate
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