Qualidade da água dos rios está
comprometida, artigo de Mauro Banderali.
Não dá para culpar somente a seca. A má qualidade
da água dos rios brasileiros é um dos principais problemas enfrentados pelas
grandes cidades, há décadas. A falta de planejamento e de investimentos no
setor de saneamento está “matando” os mananciais e o alto nível de urbanização
das cidades brasileiras causa um impacto significativo aos rios que as
atravessam. Contudo, em 2014, o Estado de São Paulo entrou na pior crise de
abastecimento de sua história, que está atingindo 17 milhões de pessoas nas
regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, agravando ainda mais a
qualidade de suas águas superficiais.
Ao mesmo tempo em que o Brasil é considerado uma
potência hídrica aos olhos do mundo, pois temos cerca de 13% da água doce do
planeta, degradamos nossos rios e córregos com esgoto não tratado, alto grau de
assoreamento e não contribuímos com a proteção das margens destes mananciais. O
despejo de esgoto, a poluição e agora a seca comprometem a qualidade das águas,
pois não há tratamento de efluentes urbanos para uma grande parte da população,
cerca de 140 milhões de brasileiros. Faltam investimentos para retirar as águas
residuais dos rios, o que faria com que estes voltassem a ter vida, mas a
melhor ação quanto à recuperação da qualidade das águas ainda é a de prevenção
e o cuidado para que poluentes não sejam lançados no ambiente sem o tratamento
adequado.
As águas dos rios e barragens, quando
contaminadas, trazem consigo uma carga de substâncias tóxicas, muitas vezes não
monitoradas pelos laboratórios das empresas de abastecimento. Tais substâncias
podem atingir até 80 mil diferentes organismos ou moléculas químicas
originárias de processos industriais, dos agroquímicos, da indústria de
fármacos, entre outros. Por isso, questões que comprometem a biologia aquática
e a disponibilidade de água para o abastecimento público devem ser eliminadas
através de políticas públicas eficientes, aplicação de tecnologias,
monitoramento e remediação das contaminações dos recursos hídricos. Além disso,
o Brasil necessita que a água seja inserida clara e objetivamente na agenda
política do país. Somente com a implementação de políticas públicas urgentes em
grande parte do território brasileiro, com investimentos pesados de recuperação
de nossos cursos d’água, fundamentalmente nas áreas de mananciais, é que de
médio a longo prazos poderemos alterar este processo de descaso com os recursos
hídricos em grande parte do país.
*Mauro Banderali é especialista em
instrumentação hidrometeorológica da Ag Solve
Fonte: EcoDebate
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