Colonização e proximidade das
estradas aumentaram desmatamento em Rondônia
Levantamento feito em fragmentos de florestas
revelam as ameaças à biodiversidade e à qualidade das águas.
Pesquisa realizada na Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, constata que no
estado de Rondônia as proximidade das estradas é o principal fator que estimula
o desmatamento. O estudo também analisou como a fragmentação da floresta
influenciou a extinção local de espécies de mamíferos de médio e grande porte,
e alterações na qualidade da água dos riachos locais.
As análises e levantamentos compõem a tese de
doutorado do ecólogo Rodrigo Anzolin Begotti. “Ao todo foram cerca de quatro
anos e meio de estudos e análises de uma área de aproximadamente 55 mil
quilômetros quadrados, por meio de imagens de satélite da família Landsat
referentes ao período de 1975 a 2011”, conta. A área estudada, segundo o
cientista, representa cerca de 23% de todo o estado de Rondônia. Ali existem
mais de 12 mil quilômetros de estradas de terra e pavimentadas. “Vale lembrar
que o desmatamento de florestas tropicais é uma das principais fontes de
emissão de gases do efeito estufa”, ressalta.
Begotti também avaliou como o que restou da
floresta influenciou na qualidade da água dos riachos. “Neste caso, analisamos
21 parâmetros físico-químicos da água relacionando-os com a dinâmica do
desmatamento, o arranjo espacial e a quantidade de floresta remanescente, além
de características físicas das áreas drenadas por esses corpos d’água”,
descreve. As análises laboratoriais foram realizadas no Centro de Energia
Nuclear na Agricultura (CENA), em Piracicaba.
Com esses dados, o pesquisador
conseguiu constatar, por exemplo, que a proporção de floresta até a distância
de 100 metros dos riachos contribuiu para reduzir as concentrações de alumínio,
fosfato, nitrogênio e sedimentos em suspensão, principalmente na estação
chuvosa. Esse resultado tem implicações importantes com relação às modificações
realizadas recentemente no Código Florestal no que diz respeito à manutenção de
vegetação na beira de rios, lagos e nascentes.
Desmatamento histórico
A colonização do estado de Rondônia, como explica o pesquisador, foi marcada o pelos incentivos do governo federal, sobretudo nas década de 1970 e 1980, por meio da concessão de lotes para pequenos agricultores. “Isso levou ao desmatamento de grandes áreas, por parte de milhares de assentados, a maioria vindos das regiões sul e sudeste”, conta. Além disso, ele lembra que àquela época, a derrubada da floresta era condição para que os assentados garantissem a posse de seus lotes, sendo que a caça era a única fonte de alimentação. A coordenação e execução dos projetos de assentamento foi realizada pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), utilizando inclusive financiamento do Banco Mundial.
Imagens de satélite da família Landsat revelam a
expansão do desmatamento entre os anos de 1975 e 2011.
Anos mais tarde, já nas décadas de 1990 e 2000, os
agentes do desmatamento mudaram, com a abertura de estradas e de grandes áreas
para criação de gado. “Os lucros da produção da carne motivam a abertura de
novas áreas e novos desmatamentos”, enfatiza o pesquisador. Begotti conta que o
estado de Rondônia possui o sétimo maior rebanho do País com cerca de 12
milhões de cabeças de gado, segundo dados do IBGE. Com a situação incerta no
que diz respeito à questão fundiária em algumas localidades, existem até hoje
focos de conflito com posseiros e invasores de terras públicas que desmataram
uma quantidade de floresta considerável dentro e nas imediações da Floresta
Nacional do Bom Futuro, por exemplo.
Ele descreve que, ao longo de 36 anos de
monitoramento houve uma perda de floresta da ordem de 24.826 quilômetros
quadrados (km²) relacionada, dentre outros fatores, à expansão da malha viária
de 3.158 km para 12.863 km de extensão. “Embora a extensão da malha viária não
tenha variado de modo significativo quando comparamos as áreas desmatadas
recentemente com aquelas do início da colonização de Rondônia, o processo de
fragmentação da floresta desmatada nos últimos anos tem sido mais intenso”,
lembra o ecólogo.
Entrevistas
As informações sobre as espécies de mamíferos foram coletadas em entrevistas junto a proprietários da região, tendo como referência os fragmentos de florestas dentro de suas propriedades. “Além disso, também visitamos Unidades de Conservação como e Reservas Eextrativistas (RESEX)”, conta o pesquisador. Ao todo, foram examinados cerca de 110 fragmentos de florestas sendo que, em cada um deles foi realizada uma ou duas entrevistas. O estudo compreendeu a região centro norte de Rondônia, englobando cerca de 10 municípios.
Ainda há as espécies que persistem e resistem,
mesmo em áreas cujo habitat florestal foi reduzido.
De acordo com o levantamento, as espécies que estão
em maior risco de extinção local nos fragmentos são o tatu-canastra, a
onça-pintada, a anta e o tamanduá-bandeira, entre outros, corroborando
resultados de outros estudos na Mata Atlântica e na própria Amazônia. “Mas há
as espécies de hábitos generalistas que persistem e resistem mesmo em áreas
cujo habitat florestal foi extremamente reduzido, como o macaco prego, a paca,
a irara e o tatu-galinha”, lembra o pesquisador, ressaltando que “algumas
dessas espécies como a paca e o tatu-galinha ainda são caçadas, mesmo nos
fragmentos”.
A pesquisa de doutorado O papel dos
remanescentes florestais na retenção da biodiversidade e conservação da água em
uma paisagem fragmentada na região central de Rondônia foi financiada pela
FAPESP por meio de auxílio-pesquisa e bolsa regular. O estudo teve início em
2009 e foi concluído em 2014, no Departamento de Ciências Florestais da Esalq,
sob orientação do professor Sílvio Frosini de Barros Ferraz.
Fotos: Rodrigo Anzolin Begotti
Fonte: Agência
USP de Notícias
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