Domingo pode virar dia de passeio
na Avenida Paulista.
por
Danilo Mekari, do Portal Aprendiz
Em um momento propício e efervescente para a
discussão sobre o futuro de São Paulo e de seus espaços públicos – como o
desmonte ou a criação de um parque no Minhocão e a longa disputa pelo espaço do
Parque Augusta –, um dos maiores cartões postais da cidade também entrou na
baila das reivindicações populares por mais áreas de lazer e convivência
cidadã: a Avenida Paulista.
Em parceria com a plataforma Minha Sampa, o
coletivo SampaPé está realizando a campanha “Se a Paulista fosse nossa”, que
pede o fechamento de um trecho da via aos domingos, das 7h às 16h, para livre
circulação de pessoas. Um abaixo-assinado circula pela internet e, até agora,
coletou 1.470 assinaturas.
Casal participa de campanha pelo fechamento da Av.
Paulista aos domingos.Casal participa de campanha pelo fechamento da Av.
Paulista aos domingos. Foto: Letícia Sabino
“Além de ser um símbolo da cidade, a Avenida
Paulista reúne artistas de rua, espaços culturais e turistas e é um lugar comum
para todas as tribos de São Paulo. Portanto, nada melhor do que as pessoas
terem mais espaço para se encontrar aos domingos”, acredita Letícia Sabino, do
SampaPé.
Desejo
de convivência
De fato, a Avenida Paulista é a via mais
movimentada de São Paulo – recebe em torno de 1,5 milhão de pedestres por dia –
e é raro encontrar sequer um banco para tanta gente descansar ou uma praça para
esse batalhão interagir. Para além das buzinas e do intenso tráfego de veículos
motorizados, é comum os pedestres andarem a passos rápidos e largos para não
perderem o semáforo verde nas inúmeras esquinas e cruzamentos da região.
“Não propiciamos o encontro na cidade. Temos muita
demanda de espaço público e por isso acontecem conflitos nos poucos que temos,
como na praça Roosevelt e no vão livre do MASP. É preciso desafogar o desejo
das pessoas conviverem”, afirma Letícia.
Para defender a proposta, a ativista cita ainda
benefícios de saúde ao estimular caminhadas e exercícios físicos e,
principalmente, o “despertar da cidadania” em muitas pessoas. “Fechar a
Paulista significa potencializar a vivência da cidade. Quem anda a pé se
preocupa mais com a qualidade do espaço público”, argumenta. “É na rua que as
pessoas encontram aquilo que é diferente.”
Apropriação do espaço
Para viabilizar a ideia, o coletivo procurou a
Prefeitura de São Paulo e explicou a proposta. De acordo com Letícia, o tema
tem sido deixado de lado, pois o poder público avalia que já foi grande a
polêmica causada pela construção da ciclovia na avenida (a ser inaugurada no
próximo dia 5/1).
Além disso, Prefeitura e Ministério Público firmaram
um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que limita o fechamento da via a três
momentos: a Parada Gay, a corrida de São Silvestre e a festa de virada do ano.
Qualquer outro evento que feche a avenida obriga o poder público a pagar uma
multa ao MP.
“Pedimos para a Secretaria Municipal de Transportes
(SMT) rever o acordo. Para ser viabilizada, a nossa proposta precisa de uma
sinalização de desvio do tráfego de veículos; de resto, o espaço simplesmente
seria liberado para as pessoas se apropriarem à vontade”, explica Letícia.
Brasília, Rio de Janeiro, Campinas, Sorocaba e
Recife são exemplos de cidades que possuem grandes vias fechadas para a
população se divertir aos domingos.
E eles não se restringem ao Brasil: na Cidade do
México, uma avenida de 14 quilômetros fica liberada para pessoas, e Bogotá
(Colômbia) totaliza 340 quilômetros de ruas fechadas aos domingos. “Isso muda a
lógica da cidade, que normalmente vive em função do carro”, avalia Letícia.
Teste no aniversário de SP
O secretário dos Transportes de São Paulo, Jilmar
Tatto, se mostrou favorável ao projeto. Ele concorda com a demanda do coletivo
– priorizar o transporte não motorizado e, aos domingos, fechar algumas vias
para realizar o convívio social –, mas sugere que a proposta seja levada para o
Conselho Municipal de Transporte e Trânsito. “Quanto mais agentes esse debate
envolver, mais chances da medida ficar para sempre”, diz Tatto.
Quando participou do Conselho, o coletivo SampaPé
levou a proposta em aberto – inclusive pontuando os pontos negativos da ideia,
como o acesso aos hospitais da região. Mas não houve retorno do órgão público.
“Agora vamos levar a proposta para a Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação.
Se tudo der certo, pretendemos testar a viabilidade do projeto no dia 25/1,
aniversário de 460 anos de São Paulo”, revela Letícia.
Por outro lado, Tatto afirma que a proposta precisa
ser oficializada para que seja analisada tecnicamente pela SMT. “A ideia de não
fechar a Paulista toda ajuda em um momento de avaliação. Temos que garantir a
segurança de todos e, ao mesmo tempo, estudar alternativas para a circulação de
ônibus e carros no local.”
Fonte: Portal Aprendiz
Nenhum comentário:
Postar um comentário