A amanuense Dilma, o PMDB e a reforma fiscal.
Getty Images - Reeleita, Dilma terá um 2015
atribulado com aliados, corrupção e a Petrobras.
Estimativas indicam que dez por cento de nosso
Congresso (hoje com 513 deputados) está contaminado com a corrupção do
Petrolão.
Baixemos, a título de ensaio aleatório, os 53
deputados supostamente infectados para, digamos, 40.
Ao contrário de seus sucessores tucanos (Serra e
Alckmin, apagados politicamente nos primeiros quatro anos de Lula na
Presidência), Aécio é uma liderança ativa, expressiva, que por menos de 4
milhões de votos não fincou os pés lá. O que ele decidir pode se cumprir como
palavra de um “vieux combatant”.
Mas como Dilma e Aécio vão lidar com os deputados
imundos, inundados pelo óleo sujo do Petrolão? Vão negociar com tais
lideranças? Vão condená-los ao opróbrio? Um vai negociar e o outro vai
guilhotiná-los?
Lula e FHC eram caudilhos, no seguinte senso do
termo: gostam de poder, seja pelo sacrossanto atalho do voto, seja por
“jeitinhos” –como foi a compra de votos pela emenda de reeleição de FHC, seja
pelo Mensalão de Lula.
Dilma não: é uma amanuense. O termo vem do latim
amanuensis, derivado da expressão latina "ab manu" (à mão).
Considera-se amanuense o escriturário duma repartição pública ou estatal, que
manualmente registra documentos ou os copia.
Amanuense é aquele funcionário público cumpridor de ordens, que quase sempre te trata mal, e segue cegamente as regras, mesmo que estas representem o colapso do sistema (em medicina isso se chama de “efeito iatrogênico, o do mal gerado pelo remédio que se propôs a uma cura).
Amanuense é aquele funcionário público cumpridor de ordens, que quase sempre te trata mal, e segue cegamente as regras, mesmo que estas representem o colapso do sistema (em medicina isso se chama de “efeito iatrogênico, o do mal gerado pelo remédio que se propôs a uma cura).
Cientificamente amanuense, Dilma repeliu o
investimento externo no Brasil porque segue sendo a velha comunista
nacionalista. Agora promete consertar isso, em seu segundo mandato.
Cientificamente amanuense, Dilma disse sim a que o
conselho da Petrobrás passasse a processar Gabrielli, (queridinho de Lula e
ex-presidente da Petrobrás) pela compra superfaturada de Pasadena.
A amanuense Dilma agora está sozinha, com suas
regras e calundus (acessos seriados de mau humor).
A amanuense Dilma pode ficar ainda mais sozinha se
mandar metralhar os deputados contaminados. Pode com isso afundar atirando:
como um galeão holandês. Se não fizer nada, e negociar politicamente os
perdões, vai levar sobras e fazer água por todas as juntas, igualmente.
Difícil, não?
Ajuste fiscal
Mas os nossos problemas não são a Dilma. Todos eles
nascem do clientelismo político gerado pelo nosso modelo fiscal.
Nossa Constituição de 1891 imitava o modelo de
união dos estados, como nos EUA. Vejamos: a fortuna de impostos coletada pela
Califórnia só é remetida para a União em 50%. Com a metade restante, faz seu
caixa estadual.
Até a Constituição de 1967, éramos assim. Foi nessa
carta magna que fomos convertidos de República dos Estado Unidos do Brasil a
República Federativa do Brasil.
Com esse modelo (o mesmo da Federação Russa de Putin) São Paulo, por exemplo, manda 90 % do que arrecada para a União.
Com esse modelo (o mesmo da Federação Russa de Putin) São Paulo, por exemplo, manda 90 % do que arrecada para a União.
Com isso, a grana arrecadada nos estados acaba indo
irrigar os dólares nas cuecas, os mensalões (mineiro e petista), as Alstoms da
vida, os Petrolões.
Os estados passam 90% do que arrecadam para a
União. E, quando vão rolar as suas dívidas, precisam de caudilhos locais que
vão a Brasília pedir favores e oferecer votos em troca -- de resto, esse é o
sistema que sempre manteve em pé as oligarquias do nordeste…
Caudilhos como Lula e FHC querem poder: lutam até o fim para nele se manterem. Dilma não: quer assinar papéis e metralhar os inimigos. Não tem jogo de cintura (nem isso seria fisicamente possível, não?).
Caudilhos como Lula e FHC querem poder: lutam até o fim para nele se manterem. Dilma não: quer assinar papéis e metralhar os inimigos. Não tem jogo de cintura (nem isso seria fisicamente possível, não?).
Qual o quadro do Brasil na América Latina?
Estamos no grau C de catarse e colapso. O grau A
são Venezuela e Bolívia: no poder um cobrador de ônibus que tortura a população
e um índio fantasiado de comunista.
O grau B são Argentina e Equador: a primeira só se mantem ainda porque Cristina não mexeu com as 20 famílias mais ricas do país... e no Equador a indústria pesqueira não foi atacada pelo governo.
O grau B são Argentina e Equador: a primeira só se mantem ainda porque Cristina não mexeu com as 20 famílias mais ricas do país... e no Equador a indústria pesqueira não foi atacada pelo governo.
No grau C estamos nós.
E neste grau, bem abaixo da linha de colapso
institucional, quem vai segurar a peruca é o PMDB, a quem todos julgavam morto:
o peso municipalista (lembrem-se que Quércia foi quem inventou as frentes
municipalistas) fez do partido o mais forte do Brasil (Luiz Fernando de Souza,
o Pezão, o mais novo arauto do municipalismo, vem de uma terra carioca de
ninguém, obscuro município de Piraí).
O PMDB aprendeu a resistir na ditadura e a
gerenciar o poder depois que ela acabou.
Se o PMDB lutar pela reforma fiscal, Dilma for “impichada” e Temer segurar a peruca, o partido não sai mais do poder.
Se o PMDB lutar pela reforma fiscal, Dilma for “impichada” e Temer segurar a peruca, o partido não sai mais do poder.
Lembre-se: o PMDB saiu das eleições de 2014 como o
maior partido do país em Estados administrados. Dispõe também possui o maior
número de municípios e de parlamentares no Congresso Nacional : emplacou sete
governadores, a maior quantidade entre as nove legendas que elegeram
governantes neste ano. Em 2012, lembre-se também, o PMDB fez o maior número de
prefeitos (1.019 ao todo).
Esta é a equação de 2015.
Claudio Julio Tognolli é jornalista há 35 anos e já
passou por “Veja”, “Jornal da Tarde”, “Caros Amigos”, “Joyce Pascowitch”,
“Rolling Stone”, “Galileu”, “Consultor Jurídico”, rádios CBN, Eldorado e Jovem
Pan e “Folha de S. Paulo”. Ganhou prêmios de jornalismo e literatura como Esso
e Jabuti. É diretor-fundador da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo) e membro do ICIJ (International Consortium of Investigative
Journalism). Professor da ECA-USP, escreveu 12 livros. Ele escreve regularmente
em
seu blog no Yahoo.
Fonte: YAHOO!
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