segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Colapso hídrico ganha status de desastre natural.
por Júlio Ottoboni*
Estiagem afeta o rio Paraíba do Sul na cidade de Barra do Piraí, no estado do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil.

A crise hídrica, já entendida como um colapso, ganhou novo status para os órgãos governamentais. O quadro é o pior possível. O cientista e secretário de políticas e programas de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, deu uma alerta geral para todo o Sudeste do país na última segunda-feira, num encontro de prefeitos do Vale do Paraíba com finalidade a discutir a falta de água. O criador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) e do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), além dos mais respeitados pesquisadores da área de meteorologia, definiu o quadro como ‘desastre natural’.

“A crise hídrica não terminará em 2015, ela vai se prolongar para 2016. Essa crise se tornou um desastre natural. No momento tanto no sistema Cantareira como agora no Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte, todas essas regiões e cidades estão passando por um momento de crise hídrica. O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em conjunto, monitoram diariamente as chuvas e toda semana há um mapa que indica as precipitações e as previsões para que os gestores e prefeitos tenham uma real visão do quadro”, observou.

Órgãos das Nações Unidos que acompanham catástrofes ambientais estão monitorando a estiagem no Sudeste brasileiro com grande preocupação. Os temporais registrados nos últimos dias e pontualmente localizados estão longe de garantir um prazo maior para o colapso total das represas do Estado de São Paulo. O que pode levar a um processo de convulsão social sem precedentes na região mais rica do país.

As chuvas continuam abaixo da média histórica e com isso o sistema Cantareira pode secar já no começo do segundo semestre deste ano. O reservatório, principal que abastece a Grande São Paulo e que atinge diretamente mais de 6 milhões de pessoas, opera com 6,1% de sua capacidade total nesta terça-feira (10).

O CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) e o Cemaden criaram três cenários distintos. No primeiro, mais real, o índice pluviométrico ficaria 50% abaixo do esperado e com isso o segundo volume morto se esgotaria em julho. No segundo cenário, com chuvas dentro da média histórica, o volume subiria para 13% em setembro. O último quadro, o mais improvável, com 50% de precipitação acima da média, o reservatório teria 38% em setembro.

Prefeitos e representantes de 33 cidades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba criaram uma frente para combater o colapso hídrico. O encontro ocorreu em São José dos Campos e debateu a atual situação das águas. O encontro foi promovido pela Prefeitura de São José e resultou na criação de um grupo de trabalho em defesa da Bacia do Paraíba do Sul.

Ainda houve a participação de representantes do Ministério de Ciência e Tecnologia, da ANA (Agência Nacional de Águas), Sabesp, DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), Agevap (Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul), CBH-OS (Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul), entre outras entidades.

Denominada como Frente de Prefeitos em Defesa da Bacia do Paraíba terá um documento nos próximos dias, pois as propostas apresentadas no encontro serão organizadas pelo prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci (PPS), para ser discutida no próximo dia 26 de fevereiro, também em São José dos Campos.

Nesta nova ocasião, os prefeitos finalizam o documento para nortear as ações do grupo junto aos os governos de São Paulo e Rio de Janeiro e órgãos de gestão dos recursos hídricos. O prefeito de Natividade da Serra, Benedito Carlos de Campos Silva (PSDB), disse estar confiante nas ações a serem desenvolvidos pelos municípios.

“A seca está gerando impacto socioeconômico muito grande. Com a baixa no reservatório, logo o nosso sistema de captação também estará comprometido”, avaliou o político. A Frente de Prefeitos estudará projetos que possam contribuir com a redução do consumo de água nos municípios. Outra proposta é captar mais recursos para programas que colaborem com a produção de água.


Fonte: ENVOLVERDE

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