Discriminação e desigualdade
fomentam o HIV/aids no Caribe.
por
Desmond Brown, da IPS
O pintor Edison Liburd, em Saint John, capital de
Antiga e Barbuda. Foto: Desmond Brown/IPS.
Saint John, Antiga e Barbuda, 13/02/2014 – Aos 49
anos, Edison Liburd é um dos pintores mais reconhecidos de Antiga e Barbuda.
Mas nem sempre foi centro de atenção. Na verdade, se poderia dizer que era um
homem refugiado na clandestinidade. “Estive infectado com o vírus HIV (causador
da aids) durante aproximadamente 24 anos. O primeiro exame que fiz foi em
fevereiro de 1993, no hospital Allen Pavilion, de Manhattan, em Nova York”,
contou à IPS. “Posso recordar esse dia muito claramente. Senti como se a terra
desaparecesse debaixo dos meus pés quando recebi o resultado do exame”,
acrescentou.
O HIV (síndrome da imunodeficiência adquirida)
surgiu pela primeira vez na década de 1980, e agora, mais de 30 anos depois,
persiste o estigma associado à enfermidade. Esse foi o principal motivo que
levou Liburd a esconder sua condição. “Escondi meu estado por anos da minha
família. Contei a alguns amigos, mas a maioria das pessoas nada sabia sobre
minha saúde. Era o medo do ostracismo que me impedia de revelá-la”, destacou.
Os soropositivos em Antiga “ainda sofrem
insegurança no trabalho. São os primeiros demitidos e os últimos contratados. O
estigma e a discriminação continuam altos porque muitos ainda se consideram
superiores aos infectados”, pontuou Liburd. “Creio que, quando as pessoas
infectadas se empoderam ao assumir as rédeas de sua saúde, desferem um golpe
enorme na discriminação. As pessoas começam a vê-las de maneira diferente”,
ressaltou.
O Caribe é uma das regiões do mundo mais afetadas
por essa doença, com prevalência de HIV de 1% acima das demais regiões fora da
África subsaariana. No Caribe, o vírus se concentra sobretudo no entorno social
dos homens que praticam sexo com homens, mas a discriminação manteve essa
situação oculta e sem reconhecimento. Também existe uma forte incidência entre
os usuários de drogas injetáveis, trabalhadores e trabalhadoras sexuais e seus
clientes.
O principal modo de transmissão no Caribe é o coito
heterossexual sem proteção, mediante pagamento, ou não. Também se acredita que
as relações sexuais entre homens são um fator importante em vários países,
embora isso seja negado devido ao estigma social. A discriminação que sofrem as
pessoas infectadas pelo vírus na região leva à ocultação da pandemia, o que
dificulta o acesso de muitos setores da população.
Depois de enfrentar o pior de seus medos, e de
ficar internado próximo à morte, Liburd decidiu “lutar contra a discriminação
ao incrementar sua capacidade de ajudar os demais em todos os sentidos, com o
dom da minha arte e da minha voz nos meios de comunicação, na igreja e outros
lugares. Fiquei mais seguro e audacioso na hora de enfrentar oposição”. O
artista acrescentou que “fui e continuo sendo, mais do que nunca, uma fonte de
inspiração e estímulo para muitos que ouvem minha história”.
A diretora da Rede de HIV/aids de Antiga e Barbuda
(Abhan), Eleanor Frederick, afirmou que as pessoas soropositivas têm muitas
dificuldades, como, por exemplo, falta de moradia, e, em alguns casos, abandono
pelas suas famílias. Também os afetam “estigma, discriminação, escassez de
recursos e a marginalização social”, dependendo da comunidade com a qual se
identifiquem, como as de trabalhadoras e trabalhadores do sexo, homens que têm
sexo com homens, consumidores de drogas ou presos.
“Muita gente reluta em iniciar o tratamento devido
aos mitos que existem sobre HIV e aids. Os provedores de saúde, seus
companheiros e seus assessores no tratamento podem ajudá-los a entender as
barreiras e a superá-las”, ressaltou Frederick à IPS.
A Abhan tem um programa de companheiros que
recrutam, supervisionam e mantêm os pacientes no tratamento e se asseguram que
cumpram o regime que este implica. Também oferece um pacote completo de
serviços, que inclui gestão de cada caso e que busca limitar a conduta sexual
de risco e melhorar o funcionamento do sistema imunológico e da saúde em geral.
“O programa oferece serviços de apoio direto de
estudantes voluntários especialmente treinados pela Abhan e pela Universidade
Americana da Faculdade de Medicina de Antiga, sob a forma de interação social,
apoio emocional e supervisão no cumprimento da medicação dos que vivem com
HIV/aids”, explicou Frederick. Os países caribenhos têm leis que abordam
especificamente o tratamento dos trabalhadores soropositivos, mas estas nem
sempre são cumpridas, apontou.
“Em 2012, foi aplicado um programa-piloto. A
intenção era fomentar a aplicação e o cumprimento das normas estabelecidas no
código de prática da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre HIV/aids
e o mundo do trabalho”, afirmou Frederick. Também “a recomendação 200 da OIT,
bem como a Política Nacional Tripartite de Antiga e Barbuda, baseada nas normas
universais de direitos humanos aplicáveis ao HIV e ao mundo do trabalho”,
acrescentou.
“Gostaria de animar todos no sentido de ajudarem a
melhorar a qualidade de vida das pessoas com HIV e aids e aumentar a compaixão
por elas e seus entes queridos mediante a prestação de serviços humanos vitais
para as pessoas necessitadas, com base em uma filosofia de apoio sem
julgamentos, como a praticada pela Abhan”, enfatizou.
Fonte: ENVOLVERDE
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