O que o acordo Índia-EUA sobre
energias renováveis tem a dizer para o Brasil?
por Delcio Rodrigues*
O presidente norte-americano Barack Obama e o
primeiro ministro indiano Narendra Modi firmaram um documento histórico para o
combate às mudanças climáticas. Os EUA participarão de um megaempreendimento
indiano de energia limpa. Não se trata apenas de um grande negócio: os números
provam que este será um grande salto para que a Índia chegue a 2030 com 46% de
seu setor elétrico movido pelas novas renováveis solar e eólica (36%) e pela
hidroeletricidade (10%).
Para termos uma ideia do tamanho do salto Indiano
para as energias limpas e renováveis: os 160 GW de energia renovável que a
Índia quer instalar nos próximos sete anos são 1,2 vezes mais que toda a
capacidade de geração elétrica que o Brasil tem instalada a partir de várias
fontes de energia nas suas 3.599 usinas.
Respeitando as proporções entre as populações e
as capacidades dos setores elétricos da Índia e do Brasil, o exemplo do
primeiro-ministro-empreendedor indiano deveria inspirar os planejadores
brasileiros do setor de energia.
Índia e Brasil são dissemelhantes em muitos
aspectos, inclusive no tamanho, no crescimento recente e na participação das
energias renováveis em seus setores elétricos: enquanto a capacidade de geração
de eletricidade da Índia mais que dobrou nos últimos dez anos, atingindo 234,6
GW, no Brasil aumentou muito menos, 48%, atingindo 134 GW. Enquanto a
hidroeletricidade somada às novas energias renováveis (solar e eólica)
representam na Índia somente 13% da capacidade total, no Brasil a
hidroeletricidade e a energia dos ventos (ainda quase não temos solar) somam
quase 70% da capacidade total de geração.
Pelo acordo com a Índia, os EUA garantem metade
dos US$ 200 bilhões necessários nos próximos 7 anos para instalar 100 gigawatts
(GW) de energia solar e 60 GW de energia eólica até 2022.
E o Brasil, o que precisa e quer fazer?
Certamente o Brasil precisa diversificar suas fontes de geração de
eletricidade. Contar com a regularidade dos rios pode ser arriscado nestes
tempos de mudanças climáticas, como tem mostrado a seca que o Sudeste tem
atravessado nos últimos tempos. Extremos climáticos como este devem ser cada
vez mais frequentes nos próximos anos.
A alternativa tradicional das termelétricas que
queimam combustíveis fósseis é muito cara, como ficou claro nos preços
praticados nos últimos meses no mercado livre de energia. Além disso, vai na
contramão da necessária redução das emissões globais de gases de efeito estufa
responsáveis pelo aquecimento global. Não nos iludamos, o Brasil vai ter que
reduzir mais e mais suas emissões, assim como precisarão fazer todos os países
emergentes e industrializados nos próximos anos.
O aproveitamento da energia dos ventos tem
crescido bastante no país. Partindo praticamente do zero em 1997, o Brasil tem
hoje 6 GW instalados e deve chegar a 15 GW em 2018. Mas isto ainda é pouco
perto do que a energia eólica pode contribuir com o desenvolvimento econômico
sustentável do país: nosso potencial chega a 143 GW e podemos aproveitá-lo em
grande parte em prazo relativamente curto. As empresas do setor estão prontas
para isto, e para criar muito mais empregos por unidade de energia do que
indústrias capital-intensivas como a do petróleo, da energia nuclear e outras.
Começamos tarde com o aproveitamento da energia
solar. Somente no segundo semestre do ano passado esta fonte renovável e
sustentável de energia conseguiu participar de um leilão de compra da
Eletrobrás, no qual foram contratados pouco mais de 1 GW. E a meta de médio
prazo da Empresa de Planejamento Energético do governo federal é modesta, 3,5
GW até 2023. O Brasil tem um enorme potencial de geração de energia solar, e
boas condições para construir um novo setor industrial importante, começando
por contratar nos próximos anos pelo menos 1 GW solar por ano.
A exemplo do primeiro ministro Modi, o governo
federal brasileiro deve apostar forte nestas alternativas porque elas ajudarão
o país a afastar no futuro o risco de novos apagões por crises hídricas e
contribuirão para reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor
elétrico, gerando, ao mesmo tempo, muitos empregos de qualidade.
Que os BRICS nos inspirem!
* Délcio Rodrigues
é físico e vice-presidente do Instituto Vitae Civilis.
Fonte: Mercado
Ético
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