Nova espécie de peixe é
descoberta no Brasil.
por
Fundação Grupo Boticário
O Ituglanis boticario vive exclusivamente em
cavernas e já está ameaçado de extinção. Local da descoberta deve ser
transformado em unidade de conservação.
Uma nova espécie de peixe troglóbio,
isto é, que vive exclusivamente em ambientes subterrâneos (como cavernas), foi
descoberta na Gruta da Tarimba, em Mambaí (GO), a 500 km de Goiânia. O peixe
foi descrito oficialmente em artigo na
revista da Sociedade Brasileira de Zoologia e batizado de Ituglanis
boticario, em homenagem à Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza,
instituição que financiou o projeto no qual a espécie foi descoberta.
Fotos: Pedro Rizzato.
De acordo com a professora doutora Maria Elina
Bichuette, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), uma das responsáveis
pela pesquisa, a homenagem visa a valorizar o incentivo a projetos de
conservação da natureza, que é escasso no Brasil. “Nosso país tem uma
riqueza natural muito grande e temos ecossistemas que estão sendo destruídos
antes mesmo de serem conhecidos, por isso é extremamente importante incentivar
novas pesquisas”, conta. Ela destaca que o Brasil tem potencial para muitas
outras descobertas de espécies troglóbias. “Atualmente temos em torno
de 10 a 12 mil cavernas cadastradas, mas podemos chegar a mais de 100 mil”,
afirma.
A diretora executiva da Fundação Grupo Boticário,
Malu Nunes, acredita que o apoio a iniciativas de conservação da natureza
também auxilia na elaboração e melhoria das políticas públicas. “O levantamento
de dados relevantes oferece subsídios para que o governo possa tomar decisões
importantes para proteção da biodiversidade, como a definição do status de
conservação de espécies da fauna e da flora, a criação de Unidades de
Conservação e a gestão adequada dessas áreas”, ressalta Malu.
O projeto que descobriu
a nova espécie é um exemplo dessa integração entre pesquisa
científica e proposição de política pública. Pedro Pereira Rizzato, doutorando
da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da equipe de pesquisa, explica
que a região da Tarimba foi identificada como um hotspot de
fauna subterrânea brasileira. Os hotspots são áreas que
concentram alto nível de biodiversidade – com parcela significativa dela sendo
endêmica – e que já perderam mais de 75% de sua vegetação original. “Com a
análise que fizemos, percebemos a importância da conservação da região e
enviamos uma carta ao ICMBio propondo a criação de uma Unidade de Conservação
de Proteção Integral para proteger o local”, explica. O Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é o órgão do governo brasileiro
responsável pela gestão das unidades de conservação federais, como os parques
nacionais.
Ameaças à nova espécie
O novo peixe já pode ser considerado
ameaçado de extinção por conta não só do seu endemismo (ocorre apenas na região
da Gruta da Tarimba) como também por causa da degradação do ambiente no entorno
da caverna, que vem sendo explorado recentemente para dar lugar a pastagens. “A
deterioração diminui a capacidade desse ambiente de drenar a água para dentro
da caverna, o que reduz a quantidade de alimento disponível no seu interior,
prejudicando as espécies que vivem ali”, afirma Maria Elina. Além
disso, a urina do gado aumenta a concentração de ureia e amônia na água, o que
pode chegar até a matar os peixes.
A pesquisadora destaca ainda que o Ituglanis
boticario possui papel biológico muito importante na caverna por ser
um predador de topo de cadeia. “Ele é carnívoro, alimentando-se de
invertebrados como larvas e besouros. Se você retira-lo da caverna, criará
grande desequilíbrio, pois eles exercem controle populacional de
diversasespécies”, explica. Segundo a pesquisadora, nas duas grutas onde foi
encontrada a novaespécie (Tarimba e Nova Esperança), o
peixe reina soberano. “Não existem outros tipos de peixes ali, por isso se
o Ituglanis não for conservado, todo o ecossistema estará em
risco e poderá será perdido”, conclui.
Características da nova espécie
O Ituglanis boticário, que não
passa dos 10 centímetros, possui bigodes alongados, olhos pequenos e pouca
pigmentação, sendo que seu corpo geralmente apresenta cores mais claras. Uma
característica bem própria da espécie é a presença de odontoides,
pequenos dentes bem desenvolvidos localizados próximos às brânquias e que são
utilizados para a fixação do animal, evitando que seja levado em correntezas.
A nova espécie pertence ao
gênero Ituglanis, o qual concentra peixes que vivem apenas em
cavernas. Diferente dos peixes que ocorrem em regiões abertas, como rios e mares,
que procuram ficar mais entocados, o Ituglanis boticario, assim
como as demaisespécies do gênero, está sempre em atividade, explorando o
ambiente em que vive. “Isso acontece por terem menos alimento dentro das
cavernas, então eles precisam procurar mais”, explica Rizzato. Além disso, a
visão dos peixes desse gênero é menos desenvolvida do que em
outras espécies. Por outro lado, os peixes desse gênero, incluindo
a nova espécie, têm compensação sensorial, percebendo melhor cheiros
e possuem canais sensoriais na pele que permitem estar alertas para qualquer
distúrbio na água.
Fonte: Fundação
Grupo Boticário
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