Vence o prazo para negociar um
tratado sobre águas de alto mar.
por
Thalif Deen, da IPS
Um barco pesqueiro no estreito de Johnstone, no
Canadá. A contaminação, a pesca excessiva, a mineração, a geoengenharia e a
mudança climática fazem com que seja mais importante do que nunca um tratado
internacional que proteja as águas internacionais. Foto: Winky/cc by 2.0.
Nações Unidas, 22/1/2015 – A Organização das Nações
Unidas (ONU) fará sua terceira e talvez última tentativa de iniciar negociações
com vistas a um tratado internacional que proteja a biodiversidade em alto mar.
Espera-se que o Grupo de Trabalho Especial da ONU adote uma decisão antes do
dia 23, para começar antes de setembro deste ano as negociações do tratado
proposto.
“Esta é a última reunião programada na qual
esperamos que se concretize a decisão de lançar as negociações”, disse à IPS
Sofia Tsenikli, assessora de políticas oceânicas do Greenpeace Internacional.
Quanto à data final do tratado, “depende, na realidade, dos temas que serão
propostos nas negociações”, acrescentou.
As águas de alto mar são uma área que representa
quase dois terços dos oceanos e cerca de 50% da superfície do planeta que
atualmente está fora da jurisdição internacional dos países, informou a Aliança
de Alto Mar, uma coalizão de grupos ambientalistas, em um comunicado divulgado
no dia 19. “Isso significa que é a maior região da Terra sem proteção nem
leis”, destacou a entidade.
Entre os temas a serem tratados estão as áreas
marinhas protegidas e avaliações de impacto ambiental nas zonas fora das
jurisdições nacionais, bem como a divisão dos benefícios dos recursos genéticos
marinhos, o desenvolvimento de capacidades e a transferência de tecnologia
marinha.
Ao mesmo tempo, as ameaças da atividade humana,
como contaminação, pesca excessiva, mineração, geoengenharia e mudança
climática fazem com que seja mais importante do que nunca um tratado
internacional que proteja essas águas, afirma a Aliança. “As águas
internacionais do mundo, ou de alto mar, são uma versão moderna do oeste
selvagem, com normas frágeis e poucos xerifes”, afirmou Lisa Speer, diretora do
programa de oceanos internacionais do Conselho para a Defesa de Recursos
Naturais.
Os Estados membros da ONU têm a oportunidade
histórica de iniciar as negociações para um tratado mundial que proteja,
conserve e mantenha quase 50% do planeta que está fora das fronteiras
nacionais, afirmou Kristina M. Gjerde, assessora da União Internacional para a
Conservação da Natureza (UICN).
Segundo Gjerde, o processo da ONU, iniciado na
cúpula Rio+20, realizada em 2012 no Rio de Janeiro, explorou o âmbito, os
parâmetros e a viabilidade de um novo instrumento internacional em virtude da
Convenção sobre o Direito do Mar (Unclos), de 1994. “Está claro que agora a
grande maioria dos Estados a apoia de forma esmagadora”, acrescentou.
Embora restem alguns temas pendentes, a UICN
acredita que, uma vez iniciadas as negociações, se possa avançar rapidamente
para conseguir um acordo efetivo e equitativo, pontuou Gjerde, lembrando que,
“com boa sorte, boa vontade e boa fé, as negociações, incluída a fase preparatória,
poderiam ser realizadas em apenas dois ou três anos”.
Na Rio+20, os Estados membros se comprometeram a
iniciar as negociações do novo tratado até o final da 69ª Assembleia Geral da
ONU, em setembro deste ano. A Assembleia Geral deverá “tomar uma decisão
histórica para desenvolver um acordo sob a Convenção da ONU sobre o Direito do
Mar, para a conservação e o uso sustentável da diversidade biológica marinha
fora da jurisdição dos Estados”, recomendou o Greenpeace em um documento
informativo divulgado no dia 19.
Lamentavelmente, uns poucos países, entre eles
Canadá, Estados Unidos, Islândia, Japão e Rússia, expressaram sua oposição ao
futuro tratado. Mas isso pode mudar, segundo o Greenpeace. A Noruega também se
opunha ao acordo, mas agora apoia a proposta em andamento de um acordo sobre a
biodiversidade em zonas fora das jurisdições nacionais.
Segundo o Greenpeace, para os Estados Unidos, em
particular, opor-se a um tratado da ONU que proporcionará um contexto para
criação de uma rede mundial de santuários oceânicos estaria em contradição com
a liderança de Washington em questões oceânicas, tais como o estabelecimento de
reservas marinhas nas zonas econômicas exclusivas e no Ártico, na Antártida e a
luta contra a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada.
Os grupos ambientalistas dizem que existe um apoio
esmagador a um tratado de implantação da Unclos por parte de países e
agrupações regionais em todo o mundo. Entre eles estão Comunidade do Caribe,
Grupo dos 77 países em desenvolvimento mais a China, União Africana, os 28
membros da União Europeia, além dos Estados individuais de África do Sul,
Austrália, Benin, Brasil, Costa Rica, Filipinas, Jamaica, México, Nova
Zelândia, Paquistão, Trinidad e Tobago, Uganda, Uruguai e muitos mais.
Karen Sack, diretora da organização humanitária The
Pew Charitable Trusts, disse que a próxima decisão poderá iniciar uma nova era
de cooperação internacional sobre as águas de alto mar. “Se os países puderem
se comprometer a trabalhar juntos na proteção legal da biodiversidade de alto
mar, poderemos fechar as brechas de gestão existentes e garantir um caminho
para o desenvolvimento sustentável e a recuperação dos ecossistemas”,
acrescentou.
Segundo a organização, as águas de alto mar são
definidas como o mar fora da zona econômica exclusiva de um país, que chega a
64% dos oceanos do mundo, e ao leito marinho que se encontra além da plataforma
continental dos países. Estas áreas representam quase 50% da superfície da
Terra e incluem alguns dos ecossistemas mais importantes para o ambiente, mais
ameaçados e menos protegidos do planeta.
Somente um tratado internacional sobre a
biodiversidade dos mares internacionais abordaria o marco legal e
institucional, insuficiente, fragmentado e mal implantado que, atualmente, não
protege os mares internacionais das numerosas ameaças que enfrentam no século
21.
Fonte: ENVOLVERDE
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