As cinco perguntas que a Sabesp
se recusa a responder.
por
Redação da Carta Capital
Governo
Alckmin mantém contratos especiais com empresas que mais consomem água em São
Paulo, mas se nega a dar detalhes
O governador Geraldo Alckmin visita obra da Sabesp;
a estatal é a responsável pela captação e distribuição de água no estado de São
Paulo. Foto: Diogo Moreira/ A2 FOTOGRAFIA (18/02/2015).
Enquanto milhares de pessoas enfrentam racionamento
e outras mudam seus hábitos para economizar água, diante da crise hídrica em
São Paulo e dos alertas divulgados em cadeia de rádio e televisão, a Sabesp
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) se nega a divulgar
informações de interesse público sobre os maiores consumidores do produto no
Estado.
Responsável por 40% do gasto com água em São Paulo,
indústrias e empresas têm desconto especial e pagam um valor menor por litro do
que os consumidores comuns. Mas, mesmo diante de uma situação de calamidade
pública, o governo Geraldo Alckmin se recusa a divulgar detalhes e a lista
completa dos 500 beneficiados pelos contratos “premium”.
Diante das revelações feitas pelo El País e a
Agência Pública, a reportagem de CartaCapital procurou a Sabesp para entender
qual a atual situação dos contratos firmados entre o governo e os maiores
‘gastadores’ de água em São Paulo. Segundo a versão brasileira do jornal
espanhol, o contrato vigente com os grandes consumidores premia o consumo, pois
quanto mais água usar, menor será o preço pago por litro de água. No documento revelado pela
publicação aparecem 294 clientes, com o respectivo consumo e tarifas pagas, mas
não constam na lista as indústrias.
Clientes como os shoppings Eldorado, Pátio
Higienópolis e Villa Lobos, a TV Globo e os clubes Pinheiros e Hebraica, todos
membros desse grupo privilegiado, têm um desconto de 55% no valor pago por cada
mil litros de água (R$ 6,27). Já os clientes comerciais sem o contrato especial
e toda a população abastecida pela empresa pagam mais do que dobro disso, ou
seja, R$ 13,97 a cada mil litros. Para a Agência Pública, que solicitou a lista
completa por meio da Lei de Acesso à Informação, a Sabesp respondeu que adotou
essa política para proteger o “segredo industrial” e o “direito à privacidade e
intimidade” das empresas e indústrias.
O Shopping Eldorado é beneficiado pela Sabesp com
um desconto superior a 50%.
Questionada se ainda mantém os contratos vigentes e
denunciados na imprensa, a Sabesp admitiu a CartaCapital que existem 500
contratos de “Demanda Firme”, como são chamados, na região metropolitana de São
Paulo. Mas afirmou que, desde de fevereiro de 2014, os grandes clientes foram
“liberados do consumo mínimo e incentivados a buscar fontes alternativas”. Isso
porque até então, para terem acesso às tarifas especiais, as empresas tinham
que gastar uma quantidade mínima de água, estipulada em contrato. Quem usava
mais que esse volume, pagava menos. Essa situação acontecia até um ano atrás,
quando a possibilidade de falta de água já era uma realidade, amplamente
divulgada nos meios de comunicação.
Se as empresas não precisam mais gastar um grande
volume de água para ter direito à tarifa mais barata, os beneficiados por esses
contratos continuam pagando preço inferior ao cobrado de residências? A Sabesp
não responde. Assim, como também não informa quais são as indústrias que são
beneficiadas por esse tipo de acordo ou ainda se a empresa estatal tenta
renegociar ou encerrar esse tipo de contrato, tendo em vista a gravidade da
atual situação. Estas e outras questões foram enviadas pela reportagem de
CartaCapital ao órgão sob comando do governo tucano, mas a assessoria de
imprensa informou que não serão respondidas.
Abaixo, as cinco questões que o governo Alckmin,
por meio da Sabesp, se recusa a responder:
1. A Sabesp tem 500 empresas com contratos de
Demanda Firme. São empresas como o Shopping Eldorado, que sozinho consome o
mesmo volume de água do que 2.500 famílias de 4 pessoas. Esses contratos
preveem descontos que podem chegar a 75%. Esses descontos continuam valendo
mesmo com a ameaça de racionamento?
2. Quais as 500 empresas que possuem contrato de
Demanda Firme e quanto cada uma delas consome de água?
3. Se os contratos de Demanda Firme continuam
vigentes, por que a Sabesp não os renegocia, dada a gravidade da situação?
4. Quais incentivos ou cobranças a Sabesp está
utilizando para as grandes empresas buscarem fontes alternativas de consumo de
água?
5. O ônus para as empresas que aumentarem o consumo
é o mesmo aplicado sobre a população ou também possui taxas de multa
diferenciadas? Quantas já foram autuadas desta forma desde fevereiro de 2014?
Até o momento, só é de conhecimento público o nome
de 294 empresas que possuem algum tipo de acordo para consumo de água com a
Sabesp. Como mostrou a Agência Pública em janeiro
deste ano, esse tipo de contrato começou a ser usado em 2002 pela Sabesp como
forma de “fidelizar” clientes do comércio ou indústria que têm grande consumo
de água. O governo terá, no entanto, até dia 28 de fevereiro para divulgar a
lista completa já que o pedido da Agência Pública foi feito com base na Lei de
Acesso à Informação.
Os 20 primeiros da lista parcial de maiores
clientes da Sabesp:
1 – Manikraft
2 – Agro Nippo Produtos Alimentícios
3 – Tinturaria Pari
4 – Viscofan
5 – Hospital Albert Einstein
6 – SPTrans
7 – Santa Constância Tecelagem
8 – Shopping Eldorado
9 – Colgate Palmolive
10 – Avon
11 – CPTM
12 – Cenuhilton
13 – Eli Lilly
14 – Condomínio W. Torre JK
15 – Shopping Higienópolis
16 – Shopping Villa-Lobos
17 – Procter e Gamble
18 – Brookfield Brasil Shopping
19 – Clube Hebraica
20 – Esporte Clube Pinheiros
Fonte: Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário