Jovens do Caribe prontos para
assumir liderança climática.
por
Desmond Brown, da IPS
Membros da Rede Ambiental de Jovens do Caribe
retiram escombros de um rio em Trinidad e Tobago. Foto: Desmond Brown/IPS.
Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 22/1/2015 – Em
seus 24 anos de vida o guianês Stefan Knights nunca duvidou da severidade da
mudança climática e de seu impacto sobre os países insulares do Caribe. Ter
experimentado eventos meteorológicos extremos em primeira mão fortaleceu sua
determinação de educar seus pares sobre a mudança climática, “para que façam
certas coisas que reduzem as emissões” contaminantes, afirmou à IPS.
Desde setembro de 2013, Knights vive em Trinidad e
Tobago, onde estuda direito na Escola de Direito Hugh Wooding. O jovem recordou
sua primeira semana no país, quando voltou ao seu apartamento e encontrou a
televisão e a geladeira boiando, e todas as suas roupas ensopadas, depois de
intensas chuvas que não duraram mais de uma hora.
“Quando temos inundações, secas ou mesmo furacões,
o fornecimento hídrico é afetado, as pessoas perdem seus empregos e suas casas
e, por fim, se prejudica o direito à água, à moradia, ao emprego e inclusive,
às vezes, à vida”, apontou Knights à IPS. “Sou um grande defensor dos direitos
humanos, e vejo que a mudança climática tem um impacto significativo sobre a
população do Caribe” e envolve também esse aspecto, acrescentou.
Knights lamentou que os jovens da América Latina e
do Caribe não tenham oportunidades adequadas para participarem das principais
reuniões internacionais sobre a mudança climática que acontecem anualmente.
“Essas pessoas são mais afetadas (pelo aquecimento global) do que qualquer
outra, mas quando realizam essas reuniões há pouquíssimos jovens dessas
regiões”, afirmou.
“Além disso, nessas instâncias não se ouve as vozes
de habitantes de países da região que não são independentes, como Porto Rico,
que ainda é um território dos Estados Unidos, ou Montserrat e as Ilhas Virgens
da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos”, acrescentou Knights. Ele, que também é
membro ativo da Rede Ambiental de Jovens do Caribe (Cyen), afirmou que os
jovens estão prontos para assumir um papel de liderança no combate à mudança
climática. “Estão liderando no mundo ao proporem soluções a desafios na área do
desenvolvimento sustentável”, explicou.
“Por exemplo, a Cyen vem investigando e educando a
sociedade em matéria de manejo integrado de recursos hídricos, centrando-se
particularmente nos vínculos entre mudança climática, perda de biodiversidade e
eliminação não regulada de lixo”, afirmou o jovem.
A Associação Mundial da Água reconheceu formalmente
a Cyen como um de seus sócios mais destacados no Caribe. Em dezembro de 2014,
vários membros dessa organização de todo o Caribe participaram de um painel de
meios de comunicação sobre segurança hídrica e resiliência climática realizado
em Porto Espanha, capital de Trinidad e Tobago.
A Cyen participa ativamente de reuniões políticas
sobre manejo de recursos hídricos e organiza atividades práticas baseadas na
comunidade em colaboração com autoridades locais. Sua coordenadora nacional,
Rianna Gonzales, apontou à IPS que uma maneira de os jovens de Trinidad e
Tobago ajudarem a combater a mudança climática e criar resiliência é por meio
do programa Adote um Rio, administrado pela Autoridade Nacional de Água e
Saneamento.
“Essa é uma iniciativa para dar participação às comunidades
e entidades corporativas na melhoria das bacias de Trinidad e Tobago de um modo
sustentável, integral e coordenado”, destacou Gonzales. “O objetivo do Adote um
Rio é criar consciência sobre os problemas vinculados às bacias locais e
facilitar a participação de entidades públicas e privadas em projetos
sustentáveis e integrados para melhorar a situação de rios e bacias em Trinidad
e Tobago”, acrescentou.
Do fornecimento de água potável do país, 60%
procede de fontes superficiais, como rios e correntes, e se prevê que a demanda
hídrica total praticamente terá duplicado entre 1997 e 2025.
Enquanto os prognósticos indicam que Trinidad e
Tobago se tornará mais quente e seco, estima-se que em 2010 a disponibilidade
hídrica do país foi de 1.477 metros cúbicos por ano, o que significa redução de
mil metros cúbicos anuais desde 1998. O desmatamento para dar espaço a
moradias, agricultura e projetos viários também aumentou a sedimentação de rios
e as inundações severas. “O desafio da água em Trinidad e Tobago tem a ver
tanto com a qualidade quanto com a quantidade”, pontuou Gonzales.
“Nosso vital fornecimento de água está ameaçado
pelas atividades industriais, agrícolas e residenciais. O lançamento
indiscriminado de dejetos industriais nos cursos hídricos, o bombeamento
excessivo de fontes de água subterrânea e a contaminação de rios com esgoto
doméstico e comercial estão prejudicando a sustentabilidade dos recursos
hídricos”, acrescentou, ressaltando que, “dessa forma, há uma necessidade
urgente de adotar um enfoque mais coordenado para proteger e manejar nosso
recurso mais crucial e finito”.
O ministro das Relações Exteriores do país, Winston
Dookeran, afirmou que é necessário proteger com urgência a dignidade humana e
aliviar os que sofrem por culpa da mudança climática. Não é possível que se
continue fazendo as coisas como até agora, prosseguiu, já que a nação caribenha
não faz o necessário para impedir que o aquecimento global não supere os dois
graus. Cientistas climáticos assinalam que, superado esse limite, os efeitos
serão catastróficos.
“Portanto, é absolutamente necessário implantar
ações urgentes e ambiciosas para reduzir as emissões de gases-estufa na
atmosfera”, ressaltou Dookeran à IPS. “Não há desculpas para não agir”,
acrescentou, pois já existem opções econômicas e tecnologicamente viáveis para
potencializar de modo significativo os esforços para abordar a mudança
climática.
Segundo Dookeran, “mesmo com um aumento inferior a
dois graus nas temperaturas mundiais médias em relação aos níveis pré-industriais,
pequenos Estados insulares como Trinidad e Tobago já estão experimentando
eventos meteorológicos extremos mais frequentes e intensos devido à mudança
climática”.
O chanceler também afirmou que no primeiro
trimestre deste ano serão implantadas mais medidas de mitigação do que as
originalmente previstas. “Embora nossa contribuição em relação a esse problema
mundial seja menor, estamos adotando um enfoque proativo, guiados pelo
reconhecimento de nossa vulnerabilidade e pela tremenda responsabilidade de
salvaguardar o futuro de nossa população”, enfatizou Dookeran.
Trinidad e Tobago entende que abordar a mudança
climática é crucial para seu desenvolvimento, por isso o governo aposta na
transição para uma economia baixa em carbono e no trabalho para expandir o uso
de fontes renováveis na matriz energética nacional, acrescentou o chanceler.
Fonte: ENVOLVERDE
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