quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Jovens do Caribe prontos para assumir liderança climática.
por Desmond Brown, da IPS
Membros da Rede Ambiental de Jovens do Caribe retiram escombros de um rio em Trinidad e Tobago. Foto: Desmond Brown/IPS.

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 22/1/2015 – Em seus 24 anos de vida o guianês Stefan Knights nunca duvidou da severidade da mudança climática e de seu impacto sobre os países insulares do Caribe. Ter experimentado eventos meteorológicos extremos em primeira mão fortaleceu sua determinação de educar seus pares sobre a mudança climática, “para que façam certas coisas que reduzem as emissões” contaminantes, afirmou à IPS.

Desde setembro de 2013, Knights vive em Trinidad e Tobago, onde estuda direito na Escola de Direito Hugh Wooding. O jovem recordou sua primeira semana no país, quando voltou ao seu apartamento e encontrou a televisão e a geladeira boiando, e todas as suas roupas ensopadas, depois de intensas chuvas que não duraram mais de uma hora.

“Quando temos inundações, secas ou mesmo furacões, o fornecimento hídrico é afetado, as pessoas perdem seus empregos e suas casas e, por fim, se prejudica o direito à água, à moradia, ao emprego e inclusive, às vezes, à vida”, apontou Knights à IPS. “Sou um grande defensor dos direitos humanos, e vejo que a mudança climática tem um impacto significativo sobre a população do Caribe” e envolve também esse aspecto, acrescentou.

Knights lamentou que os jovens da América Latina e do Caribe não tenham oportunidades adequadas para participarem das principais reuniões internacionais sobre a mudança climática que acontecem anualmente. “Essas pessoas são mais afetadas (pelo aquecimento global) do que qualquer outra, mas quando realizam essas reuniões há pouquíssimos jovens dessas regiões”, afirmou.

“Além disso, nessas instâncias não se ouve as vozes de habitantes de países da região que não são independentes, como Porto Rico, que ainda é um território dos Estados Unidos, ou Montserrat e as Ilhas Virgens da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos”, acrescentou Knights. Ele, que também é membro ativo da Rede Ambiental de Jovens do Caribe (Cyen), afirmou que os jovens estão prontos para assumir um papel de liderança no combate à mudança climática. “Estão liderando no mundo ao proporem soluções a desafios na área do desenvolvimento sustentável”, explicou.

“Por exemplo, a Cyen vem investigando e educando a sociedade em matéria de manejo integrado de recursos hídricos, centrando-se particularmente nos vínculos entre mudança climática, perda de biodiversidade e eliminação não regulada de lixo”, afirmou o jovem.

A Associação Mundial da Água reconheceu formalmente a Cyen como um de seus sócios mais destacados no Caribe. Em dezembro de 2014, vários membros dessa organização de todo o Caribe participaram de um painel de meios de comunicação sobre segurança hídrica e resiliência climática realizado em Porto Espanha, capital de Trinidad e Tobago.
A Cyen participa ativamente de reuniões políticas sobre manejo de recursos hídricos e organiza atividades práticas baseadas na comunidade em colaboração com autoridades locais. Sua coordenadora nacional, Rianna Gonzales, apontou à IPS que uma maneira de os jovens de Trinidad e Tobago ajudarem a combater a mudança climática e criar resiliência é por meio do programa Adote um Rio, administrado pela Autoridade Nacional de Água e Saneamento.

“Essa é uma iniciativa para dar participação às comunidades e entidades corporativas na melhoria das bacias de Trinidad e Tobago de um modo sustentável, integral e coordenado”, destacou Gonzales. “O objetivo do Adote um Rio é criar consciência sobre os problemas vinculados às bacias locais e facilitar a participação de entidades públicas e privadas em projetos sustentáveis e integrados para melhorar a situação de rios e bacias em Trinidad e Tobago”, acrescentou.

Do fornecimento de água potável do país, 60% procede de fontes superficiais, como rios e correntes, e se prevê que a demanda hídrica total praticamente terá duplicado entre 1997 e 2025.

Enquanto os prognósticos indicam que Trinidad e Tobago se tornará mais quente e seco, estima-se que em 2010 a disponibilidade hídrica do país foi de 1.477 metros cúbicos por ano, o que significa redução de mil metros cúbicos anuais desde 1998. O desmatamento para dar espaço a moradias, agricultura e projetos viários também aumentou a sedimentação de rios e as inundações severas. “O desafio da água em Trinidad e Tobago tem a ver tanto com a qualidade quanto com a quantidade”, pontuou Gonzales.

“Nosso vital fornecimento de água está ameaçado pelas atividades industriais, agrícolas e residenciais. O lançamento indiscriminado de dejetos industriais nos cursos hídricos, o bombeamento excessivo de fontes de água subterrânea e a contaminação de rios com esgoto doméstico e comercial estão prejudicando a sustentabilidade dos recursos hídricos”, acrescentou, ressaltando que, “dessa forma, há uma necessidade urgente de adotar um enfoque mais coordenado para proteger e manejar nosso recurso mais crucial e finito”.

O ministro das Relações Exteriores do país, Winston Dookeran, afirmou que é necessário proteger com urgência a dignidade humana e aliviar os que sofrem por culpa da mudança climática. Não é possível que se continue fazendo as coisas como até agora, prosseguiu, já que a nação caribenha não faz o necessário para impedir que o aquecimento global não supere os dois graus. Cientistas climáticos assinalam que, superado esse limite, os efeitos serão catastróficos.

“Portanto, é absolutamente necessário implantar ações urgentes e ambiciosas para reduzir as emissões de gases-estufa na atmosfera”, ressaltou Dookeran à IPS. “Não há desculpas para não agir”, acrescentou, pois já existem opções econômicas e tecnologicamente viáveis para potencializar de modo significativo os esforços para abordar a mudança climática.

Segundo Dookeran, “mesmo com um aumento inferior a dois graus nas temperaturas mundiais médias em relação aos níveis pré-industriais, pequenos Estados insulares como Trinidad e Tobago já estão experimentando eventos meteorológicos extremos mais frequentes e intensos devido à mudança climática”.

O chanceler também afirmou que no primeiro trimestre deste ano serão implantadas mais medidas de mitigação do que as originalmente previstas. “Embora nossa contribuição em relação a esse problema mundial seja menor, estamos adotando um enfoque proativo, guiados pelo reconhecimento de nossa vulnerabilidade e pela tremenda responsabilidade de salvaguardar o futuro de nossa população”, enfatizou Dookeran.

Trinidad e Tobago entende que abordar a mudança climática é crucial para seu desenvolvimento, por isso o governo aposta na transição para uma economia baixa em carbono e no trabalho para expandir o uso de fontes renováveis na matriz energética nacional, acrescentou o chanceler.


Fonte: ENVOLVERDE

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