Tapajós, um rio em disputa.
por
Marcio Isensee e Sá, da Agência Pública
Às vésperas de perderem suas terras para mais uma
megausina hidrelétrica estratégica para o governo federal, comunidades do Rio
Tapajós, um dos mais preservados do país, preparam-se para defender o que é
seu. Assista ao documentário produzido pela Agência Pública.
O Tapajós, no Pará, realmente é um rio mágico.
Cheio de nuances, contrastes, luzes e cores. À primeira vista, águas calmas que
correm sempre em frente; depois de 25 dias de imersão se sobrepõem as
corredeiras, cachoeiras, banzeiros, redemunhos, espocos e rebojos. Todas as
imagens, que apreendi junto ao povo local, refletem a atual situação de
conflito. As sete usinas hidrelétricas previstas pelo governo federal para a
bacia do Tapajós ainda nem saíram do papel e a vida dos ribeirinhos e indígenas
já foi afetada profundamente.
Depois de duas idas ao Tapajós desde 2013, muita
coisa me chamou atenção positivamente no oeste do Pará. Gente hospitaleira,
comida boa, fartura de água. Nos ribeirinhos e indígenas, também me
impressionou a disposição em correr atrás de seus direitos. Aos seus olhos, o
governo federal é uma “entidade”, distante, que quer porque quer fazer as
usinas. De fato, falta informação, falta diálogo e sobram denúncias de
desrespeito às leis e aos direitos dos moradores.
Foi numa daquelas tardes calorentas, sobre uma
canoa de pesca, que o neto do pescador “Tatá” interrompeu, sem cerimônia, nossa
entrevista. “O que o povo faz?”, perguntou ao avô, que durante toda a travessia
reclamara do descaso “desse povo”. “Não, meu filho, eles querem fazer uma
barragem aqui . Aí nós vamos sair daqui, vamos embora não sei pra onde”. O
menino de cerca de 5 anos mora na bonita Vila de Pimental, que será alagada
pela usina de São Luiz do Tapajós se os planos atuais forem levados adiante.
Foi assim que ele soube que seu mundo pode desaparecer.
Fonte: Agência Pública
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