O todo é o meio ambiente.
por
Marcus Eduardo de Oliveira*
Faz-se necessário buscar um “novo modelo econômico”
capaz de assegurar a preservação do espaço ecológico que responde pela
continuidade da vida humana em bases mais sustentáveis. Foto: Shutterstock.
Escreve Andrei Cechin, em A Natureza como Limite da
Economia, que “se a economia capta recursos de qualidade de uma fonte natural e
devolve resíduos sem qualidade para a natureza, então não é possível tratar a
economia como um ciclo isolado”. Pelo pressuposto, a economia é apenas uma
parte de um todo; o todo é o meio ambiente. Logo, não há como escapar da
seguinte ponderação: à medida que acontece o crescimento econômico exponencial
se dilapidam as bases da natureza, resultando em sensível diminuição do meio
ambiente, agravando substancialmente os fundamentos naturais da vida.
Reforça-se assim a prerrogativa de que mais
crescimento significa menos meio ambiente, tendo em vista que a biosfera é
finita, não cresce (e jamais irá crescer), além de ser fechada (com exceção do
constante afluxo de energia solar) funcionando regiamente sob as leis da
termodinâmica.
Sintomaticamente, mais crescimento econômico
responde pela exaustão dos recursos naturais e energéticos e pela depredação
dos serviços ecossistêmicos.
Assim, é limitada a capacidade de o ecossistema terrestre
suportar as pressões advindas do crescimento econômico. Os limites biofísicos
constrangem o sistema econômico que, por sua vez, irrompe-se com força
destrutiva, expondo o meio ambiente em constante degradação, comprometendo a
capacidade de a vida humana prosperar com o equilíbrio desejável.
É necessário, por oportuno, não perder de vista que
os recursos naturais são, essencialmente, um conjunto de matéria e energia de
qualidade atuando (entrando) no processo econômico.
Na saída desse “cano econômico”, para usar aqui uma
expressão do professor Clóvis Cavalcanti, sobra resíduo, poluição, calor e
matéria dissipada. Do ponto de vista físico, o processo econômico não cria
matéria e energia.
A questão ecológica mais preocupante está
justamente no impacto dessa ação (a retirada de recursos naturais e a entrega
de resíduos pós-produção) gerada pela atividade econômica.
Esse resíduo gerado deteriora o ambiente de várias
maneiras: quimicamente, como no caso do mercúrio ou da chuva ácida;
nuclearmente, como o lixo radioativo; ou fisicamente, como a acumulação de CO2
na atmosfera.
Razão pela qual o crescimento econômico – pelas
bases da expansão da capacidade produtiva – entendido como condição para
satisfazer as necessidades humanas, precisa urgentemente ser repensado, até
mesmo porque o crescimento, per si, não atende em linhas gerais aos desejos
ilimitados das pessoas.
Seguindo essa linha, o desenvolvimento humano
(melhoria da qualidade de vida) dependerá, pois, da retração econômica, e não
de seu crescimento. Ademais, qualquer subsistema – como é o caso da economia -,
em algum momento necessariamente deve parar de crescer e adaptar-se a uma taxa
de equilíbrio natural.
Posto isto, a economia tradicional precisa aceitar
um fato inexorável: é impossível um crescimento ilimitado num sistema que
depende da existência de recursos naturais finitos. Funda-se nesse argumento um
fato imperioso: parar de crescer não significa parar de se desenvolver. É
perfeitamente possível prosperar (se desenvolver) sem crescer; é factível,
pois, avançar economicamente sem agredir o meio ambiente.
Por sinal, prosperidade econômica, em seu
significado mais elementar, deve ser entendida como sinônimo de bem-estar, e
não pode haver prosperidade – portanto, melhoria substancial na qualidade de vida
das pessoas -, em ambientes constantemente expostos à degradação, reduzidos,
por exemplo, à poluição decorrente da expansão produtiva que esgota o
patrimônio natural (biomassa da floresta, fertilização do solo, disponibilidade
de água, solo arável etc).
Decorre disso a necessidade de se promover a troca
da busca incessante do crescimento (expansão quantitativa) pelo desenvolvimento
(melhoria qualitativa).
Faz-se necessário, contudo, buscar um “novo modelo
econômico” capaz de assegurar a preservação do espaço ecológico que responde
pela continuidade da vida humana em bases mais sustentáveis, estando em
conformidade com o conjunto teórico que embasa a Ciência Econômica – porém, com
uma nova roupagem – voltada às ordens ecológicas, não às mercadológicas.
Para alcançar esse objetivo, é imprescindível
condenar a busca pelo crescimento econômico exponencial que “passeia
livremente” sobre as ruínas do capital natural (ar, floresta, solo, água)
promovendo em seu rastro a mais agressiva destruição dos elementares serviços
ecossistêmicos.
Faz-se oportuno ponderar que no linguajar dos
economistas ecológicos crescimento econômico vai só até certo “ponto”
(desconhecido). Uma vez ultrapassado esse “ponto” não há melhorias, mas sim
perdas significativas (crescimento deseconômico), começando pela qualidade do
ar que respiramos e pela completa destruição do espaço natural, afetando
substancialmente o que se convenciona entender por qualidade de vida nas
cidades, uma vez que os serviços ecossistêmicos são expostos à dilapidação.
Crescimento além dos limites é sinônimo de vida
degradada, de ambiente natural destruído. Que fique claro: todo e qualquer
crescimento que se expande de forma incontrolável gera consequentemente
desequilíbrios ao meio ambiente.
A expansão da atividade econômica, usada como
paradigma de ascensão (progresso econômico) no modo de consumir das pessoas,
alimentada pela ideologia da propaganda “compre mais”, consubstanciada na
obsolescência programada (desgaste dos produtos de forma induzida cujo único objetivo
é acelerar o tempo de rotação do capital “forçando” assim novas vendas), tem
produzido muito estrago no tocante aos serviços prestados pela natureza,
configurando na expressão máxima: mais economia significa menos meio ambiente.
Já passou da hora de abandonar esse modelo.
* Marcus Eduardo de Oliveira é economista e
professor, com pós-graduação em Política Internacional e mestrado em Integração
da América Latina (USP).
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br.
Fonte: EcoD
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