O mar não está pra peixe.
por Redação da Carta
Capital
Vida marinha corre o risco de extinção em
massa, dizem pesquisadores da Califórnia.
Os transtornos climatológicos e os desastres
ambientais acabam de produzir mais uma péssima notícia: os oceanos
encaminham-se rapidamente para a extinção em massa de grande parte da vida
marinha. O alarme chegou esta semana com a credencial incontestável da revista
Science, com base em pesquisa pilotada por Douglas J. McCauley, ecologista
ligado à Universidade da Califórnia em Santa Bárbara.
“Certas espécies estão sendo dizimadas pela pesca
sem restrições, mas também porque estão perdendo seus hábitats naturais”, diz o
ecologista. As fazendas de peixes – áreas de exploração com recursos
tecnológicos bem distantes da pesca artesanal – arriscam a eliminar espécies
inteiras em menos de 20 anos.
Em todo o mundo, os recifes de corais já perderam
40% de sua superfície, obrigando os habitantes nativos a buscar novos ares,
quer dizer, novos espaços. O aquecimento provocado pelas mudanças climáticas
acelera as migrações para águas mais frias. Nem todos, porém, conseguem
sobreviver à súbita mudança.
O black sea bass (Centropristis striata), cuja
semelhança com a nossa garoupa fica apenas na aparência, começou a se mudar de
seu hábitat na costa sul dos Estados Unidos para o norte (New Jersey e além). A
espécie fragilizou-se; jamais haverá um black sea bass semelhante àquele, de
200 quilos e 5,4 metros, que um pescador californiano pescou décadas atrás –
feito testemunhado em foto exposta na Biblioteca do Congresso.
Os mares também viraram alvo da cupidez
financeira e o desastre é semelhante ao que a exploração comercial sem freios
produz na terra, adverte Loren McClenachan, do Colby College, do Maine – estado
em que a pesca é importante atividade, haja vista a lendária lagosta do Maine.
A exploração submarina de metais na costa da América já avança por mais de 1
milhão de quilômetros quadrados (em 2000, era igual a zero). “O dano aos
ecossistemas é brutal”, lamenta a doutora McClenachan.
As baleias ilustram uma triste ironia: entidades
protetoras dos animais conseguiram não faz muito tempo sensibilizar a opinião
pública e as autoridades em defesa da espécie, dizimada por ferozes caçadores
do mar. A pesca foi praticamente abolida. Hoje, as baleias sofrem as
consequências do tráfego de navios de transporte de contêineres. Desavisadas,
muitas delas costumam colidir fatalmente com as pesadas barcaças.
As emissões de carbono na atmosfera – reafirma a
pesquisa da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara – estão alterando
perigosamente a química da água marítima. “Se você aumenta a temperatura de um
aquário doméstico e jogar algum ácido lá dentro, seu peixinho não ficará muito
feliz”, compara o doutor Malin L. Pinsky, biólogo da Universidade de Rutgers em
New Jersey e autor do relatório com o doutor McCauley. “É o que estamos fazendo
com os oceanos.”
Os assustados pesquisadores lembram que,
contrariando o que se pensava, espécies marinhas são historicamente tão
indefesas ante a ação devastadora do homem quanto a fauna terrestre. Pássaros
que sobrevivem à beira do mar, em especial, sofrem as consequências.
O estudo é alarmante, mas, ainda assim, os
pesquisadores não entraram em pânico. “Dá tempo de reverter a situação”,
convenceu-se Pinsky. “A saúde dos oceanos está abalada, mas a cura é possível.”
A cura implica mudar a atitude dos homens e dos governos em relação ao
ambiente. Eis aí um desafio que, além do saber da ciência, há de exigir muita
fé.
Fonte: Carta
Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário