Sistema
humanitário está em quebra.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
perante à Assembleia Geral da ONU. Foto: Cia Pak/ONU.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 30/9/2015 – O planeta, politicamente
complicado, sofre falta de empatia, afirmou o secretário-geral da Organização
das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, em seu discurso na sessão inaugural do
debate de alto nível da Assembleia Geral, no dia 28. “Cem milhões de pessoas
precisam de assistência humanitária imediata”, ressaltou Ban aos delegados,
acrescentando que pelo menos 60 milhões foram obrigadas a abandonar seus lares
ou seus países.
A ONU pediu US$ 20 bilhões para enfrentar as
necessidades deste ano, seis vezes mais do que há uma década. Mas as exigências
continuam sendo maiores do que os fundos existentes, embora os Estados membros
tenham sido generosos, destacou Ban. Entretanto, acrescentou, o sistema
humanitário “está em quebra”. O secretário-geral afirmou que “não estamos
recebendo dinheiro suficiente para salvar suficientes vidas. Temos cerca de
metade do que precisamos para ajudar as pessoas no Iraque, Sudão do Sul e
Iêmen, e apenas um terço para as da Síria”.
No Iêmen, 21 milhões de pessoas (80% da população)
necessitam assistência humanitária. O plano de resposta das Nações Unidas para
a Ucrânia só está financiado em 39%, enquanto o pedido de fundos para Gâmbia,
onde uma em cada quatro crianças sofre de desnutrição crônica, foi respondido
com o silêncio.
Ainda assim, o mundo continua esbanjando milhares
de milhões de dólares em gastos com defesa. “Por que é mais fácil encontrar
dinheiro para destruir as pessoas e o planeta do que para protegê-las?”,
perguntou Ban aos delegados, entre eles representantes das cinco principais
potências militares do mundo: China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e
Rússia.
Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
em seu discurso de 45 minutos perante a Assembleia Geral, abrangeu diversos
temas. E sua presença na ONU coincidiu com a notícia de que Irã, Iraque, Rússia
e Síria formariam uma aliança para lutar contra o grupo extremista Estado
Islâmico (EI), apesar de uma coalizão ocidental também travar uma batalha
contra essa organização armada.
“Disse antes e repito. Não há espaço para abrigar
um culto apocalíptico como o EI, e os Estados Unidos não se desculpam por
empregar nossos militares, como parte de uma ampla coalizão, para ir atrás
dele”, advertiu Obama. “O fazemos com a determinação de garantir que jamais
exista um refúgio seguro para os terroristas que cometem esses crimes. E
demonstramos, ao longo de mais de uma década de perseguição incessante à (rede
armada) Al Qaeda, que os extremistas não nos sobreviverão”, acrescentou.
O poder armado é necessário, mas não basta para
resolver a situação na Síria, afirmou Obama. “A estabilidade duradoura só pode
ser garantia quando o povo sírio forjar um acordo para viver junto em paz”,
acrescentou, lembrando que os Estados Unidos estão preparados para trabalhar
com qualquer nação, inclusive Rússia e Irã, para resolver o conflito. Segundo
Obama, “devemos reconhecer que não pode haver, depois de tanto derramamento de
sangue, tanta carnificina, um retorno ao status quo anterior à guerra”.
Ray Offenheiser, presidente da Oxfam Estados
Unidos, apontou à IPS que Obama mostrou um renovado interesse em participar de
um processo de paz para a Síria, com inclusão de Irã e Rússia. “Temos a
esperança de que, quando voltar a Washington, seja com a intenção de continuar
participando pessoalmente de um processo de paz. Suas palavras são bem-vindas,
mas devem estar acompanhadas pela ação”, ressaltou.
Offenheiser enfatizou que “um destino pior do que a
morte” é como alguns dos quatro milhões de refugiados sírios descrevem o que se
sente ao ver seus povoados e suas cidades desmoronarem pelos ataques com
morteiros e bombas de barril. “É necessário com urgência um processo de paz
inclusivo, com pressão sobre as partes para que cessem os ataques
indiscriminados e permitam maior acesso à assistência humanitária”, recomendou.
“Nos alegra o recente anúncio de Obama de que os
Estados Unidos receberão mais refugiados, mas continuamos preocupados com a
possibilidade de o ritmo e a magnitude da resposta norte-americana não se
aproximar nem de longe. Exortamos Washington a receber ao menos cem mil
refugiados sírios no próximo ano fiscal”, afirmou Offenheiser. Os Estados
Unidos podem e devem fazer muito mais para oferecer refúgio e segurança aos
milhões de sírios deslocados pelo conflito, acrescentou o ativista.
A presidente Dilma Rousseff se referiu, em seu
discurso na Assembleia Geral, aos êxitos e fracassos da ONU em seus 70 anos de
trajetória. Afirmou que as Nações Unidas ampliaram suas iniciativas, ao
incorporar a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
incluídas questões relacionadas com o ambiente, a erradicação da pobreza, o
desenvolvimento social e o acesso a serviços de qualidade.
Questões como os desafios urbanos e as questões de
gênero e raça se converteram em uma prioridade, destacou Dilma. Entretanto, a
ONU não teve o mesmo êxito no tratamento da segurança coletiva, uma questão que
esteve presente nas origens do fórum mundial e que se mantém no centro de suas
preocupações, prosseguiu a presidente.
Segundo Dilma Rousseff, a proliferação dos
conflitos regionais – alguns com alto potencial destrutivo –, “bem como a
expansão do terrorismo – que mata homens, mulheres e crianças, destrói nosso
patrimônio comum e desloca milhões de pessoas de suas comunidades – demonstram
que a ONU está diante de um grande desafio. Não se pode ser complacente com
atos de barbárie como os cometidos pelo chamado EI e por outros grupos
associados”.
Essa situação explica, em grande parte, a crise dos
refugiados que a humanidade experimenta atualmente, pontuou a presidente. “Uma
parte considerável dos homens, mulheres e crianças, que se aventuram
perigosamente nas águas do Mediterrâneo e vagam dolorosamente pelos caminhos da
Europa, provêm do Oriente Médio e do norte da África, de países cujas
instituições estatais foram desestruturadas pela ação militar realizada,
contrariando o direito internacional, abrindo espaço para o terrorismo”,
destacou Dilma Rousseff.
Fonte: ENVOLVERDE
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