Santos
pode se tornar mais suscetível a inundações.
Nível do mar na cidade litorânea paulista aumentará
entre 18 e 30 centímetros até 2050, tornando as marés mais altas, estima estudo
internacional com participação de pesquisadores de São Paulo. Foto: Wikimedia
Commons.
O nível do mar na cidade de Santos, no litoral sul
paulista, pode aumentar entre 18 e 30 centímetros até 2050.
A combinação dessa elevação do nível do mar com
tempestades extremas – previstas para ocorrer com maior frequência e
intensidade na região em razão das mudanças climáticas – pode fazer com que as
marés induzidas pelas fases da lua se tornem mais altas. Com isso, as
inundações causadas pelo avanço do mar na zona costeira da cidade podem ser
mais graves e causar maiores prejuízos econômicos.
As projeções são de um estudo internacional,
realizado por pesquisadores do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais
(Cemaden), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade de
São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com colegas da
University of South Florida, dos Estados Unidos, do King’s College London, da
Inglaterra, e técnicos da Prefeitura Municipal de Santos.
Os resultados do estudo, que fazem parte do projeto
“Uma estrutura integrada para analisar tomada de decisão local e capacidade
adaptativa para mudança ambiental de grande escala: estudos de casos de
comunidades no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos”, apoiado pela FAPESP, no
âmbito de um acordo de cooperação com o Belmont Forum, serão apresentados nesta
quarta-feira (30/09) a representantes da sociedade civil de Santos.
Durante o encontro, os pesquisadores mostrarão às
autoridades e lideranças locais projeções de elevação do nível do mar e de
impactos econômicos nas regiões sudeste e noroeste de Santos, que já têm sido
impactadas pelo aumento do nível do mar. A ideia é que os participantes apontem
possíveis medidas de adaptação para minimizar os riscos.
“O estudo é inédito por apontar não só como
determinadas áreas de Santos poderão ser afetadas por inundações causadas pelo
aumento do nível do mar nas próximas décadas, mas também estimar as perdas
econômicas”, disse José Marengo, pesquisador titular do Cemaden e coordenador
do projeto do lado do Brasil, à Agência FAPESP.
Para fazer as projeções, os pesquisadores usaram
uma plataforma, chamada COAST (sigla de Coastal Adaptation to Sea Level Rise
Tool), desenvolvida por uma empresa americana.
A plataforma é capaz de fazer previsões de danos a
ativos econômicos – como, por exemplo, imóveis –, ao longo de um determinado
período de tempo, causados por inundações provocadas pela combinação da
elevação do nível do mar com a ocorrência de tempestades.
Além disso, pode ser usada para calcular os
benefícios e custos de diferentes estratégias de adaptação para determinar qual
seria a mais indicada.
“A plataforma COAST também está sendo utilizada
durante o projeto para fazer projeções de aumento do nível do mar e inundações
em Broward, na Flórida, em razão dos furacões que atingem a zona costeira da
região, e em Selsey, na Inglaterra, que pode sofrer inundações causadas por tempestades”,
disse Marengo.
No Brasil, a cidade de Santos, onde está localizado
o maior porto da América Latina, foi escolhida devido a sua importância
econômica estratégica para o Estado de São Paulo e para o país, e em razão da
disponibilidade de dados necessários para a plataforma COAST fazer as
projeções.
“Há muitos municípios costeiros no Brasil que não
dispõem de informações sobre mudanças do nível do mar em séries temporais como
temos em Santos”, disse Luci Hidalgo Nunes, professora da Unicamp e uma das
pesquisadoras participantes do projeto.
Integração de dados
Para fazer as projeções em Santos, a plataforma
COAST integra dados de mudanças no nível do mar, temperatura, frequência de
tempestades e outras variáveis meteorológicas com projeções de alta resolução
para cenários climáticos da cidade até 2100.
Os dados sobre mudanças no nível do mar em Santos
foram obtidos por marégrafos na região, no período entre 1945 e 1990, e por
altimetria de satélite, entre 1993 e 2013.
As análises dos dados indicaram que no período de
1993 a 2013 o nível do mar em Santos aumentou, em média, 3 milímetros por ano.
No período entre 1993 e 2003 o mar na região subiu
2,7 milímetros por ano. Já entre 2003 e 2013, o aumento foi de 3,6 milímetros
por ano, apontaram as análises.
“Essa elevação do nível do mar na costa de Santos
está próxima da média global indicada pela altimetria de satélite para todos os
oceanos”, disse Joseph Harari, professor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP
e um dos pesquisadores do projeto.
Já a modelagem de eventos extremos no futuro foi
feita por meio de modelos regionais do Inpe, rodados com cenários dos modelos
do IPCC para fazer projeções de curto, médio e longo prazo para a Baixada
Santista.
Com base na combinação desses dados, a plataforma
COAST estimou a altura que as marés poderão atingir em Santos em 2050 e 2100,
em um cenário mais otimista ou pessimista.
“Esse tipo de informação era inédita no Brasil. É a
primeira vez que esses dados são obtidos”, afirmou Nunes.
A fim de calcular os possíveis impactos econômicos
causados pelas inundações provocadas pelo aumento da altura das marés por meio
da plataforma COAST, os pesquisadores selecionaram as zonas noroeste e sudeste
de Santos.
A região sudeste, por exemplo – que vai do
Boqueirão até a Ponta da Praia –, tem sofrido desde o começo da década de 1940,
com a construção da avenida à beira-mar, de erosão costeira (perda de faixa de
praia que protege de inundações).
Já a região noroeste experimenta inundações durante
as marés de sigízia – quando as marés ficam mais altas influenciadas pela
atração gravitacional –, especialmente no verão, quando aumenta a frequência de
chuvas.
“São duas áreas com processos hidrometeorológicos,
riscos, usos do solo, respostas geológicas e geomorfológicas e populações diferentes.
Portanto, as medidas de adaptação também serão diferentes”, disse Célia Regina
de Gouveia Souza, pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo.
Os dados para estimar as perdas econômicas nas duas
regiões, como danos estruturais em edifícios causados pela elevação do nível do
mar, foram fornecidos pela prefeitura de Santos, por meio das secretarias de
Finanças, Infraestrutura e edificação, Desenvolvimento Urbano, Meio Ambiente e
Defesa Civil.
“A participação do poder público é fundamental em
um projeto como esse e a prefeitura foi uma grande parceira. Como contrapartida
por terem nos fornecido os dados e colaborar conosco no projeto, eles receberão
um instrumento de planejamento para gestão costeira muito robusto”, avaliou
Souza.
Fonte: Agência Fapesp
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