A
importância da polinização para a segurança alimentar.
Algodão: As flores polinizadas por abelhas
apresentaram um aumento de 12% a 16% no peso da fibra e um incremento de 17% de
sementes por fruto. Foto: Viviane C Pires.
Apesar de a polinização prestar serviços gratuitos
estimados, somente no Brasil, em mais US$ 12 bilhões por ano, pesquisa inédita
realizada pelo IBOPE mostra que 78% da população brasileira desconhece o
seu papel para garantir a segurança alimentar. O projeto Polinizadores do
Brasil, coordenado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e pelo Ministério
do Meio Ambiente, fomentou, entre 2010 e 2015, uma rede de pesquisas sobre
polinizadores em culturas agrícolas que, em alguns casos, podem aumentar em até
70% a produtividade.
São Paulo, outubro de 2015 – Cerca de 75% da alimentação
humana depende direta ou indiretamente de plantas polinizadas ou beneficiadas
pela polinização animal. Realizado de forma gratuita, principalmente por
insetos, o serviço de transportar células reprodutivas masculinas de plantas
para o seu receptor feminino é estimado pela Universidade de São Paulo, somente
nas principais culturas produzidas no Brasil, em US$ 12 bilhões por ano. Apesar
da sua importância para garantir alimentos de qualidade na mesa do brasileiro,
aumentar a produção agrícola e, consequentemente, o lucro do agricultor, uma
pesquisa inédita realizada pelo IBOPE, encomendada pelo projeto Polinizadores
do Brasil, constatou que 78% da população adulta brasileira desconhece ou nunca
ouviu falar no termo polinização.
Para divulgar a importância do papel dos polinizadores
na produção de alimentos e a necessidade de promover a conservação e o uso
sustentável desses animais, o projeto Polinizadores do Brasil, coordenado pelo
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e pelo Ministério do Meio
Ambiente, formou uma rede nacional de pesquisa que, entre 2010 e 2015, estudou
a polinização de culturas agrícolas brasileiras, produziu uma série de planos
de manejo com recomendações para agricultores e observou o comportamento de
diferentes espécies de polinizadores, identificando, inclusive, nove novas
espécies de abelhas, das quais três já foram publicadas.
“O projeto Polinizadores do Brasil é a maior
iniciativa já realizada no país sobre o assunto e reforça a importância da
polinização para a segurança alimentar. É um grande trabalho de pesquisa e
análise de dados, que envolveu quase 60 bolsistas de 18 instituições de
pesquisa em mais de quinze estados brasileiros. Ele também é parte de um
esforço global para entender, conhecer e reconhecer o papel dos agentes polinizadores
na produção agrícola, cujo serviço prestado mundialmente é estimado em US$ 350
bilhões”, afirma a secretária-geral do Funbio, Rosa Lemos de Sá, citando que
foram investidos pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em
inglês) aproximadamente US$ 3,3 milhões para a execução do projeto no Brasil.
Sob a coordenação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO, na sigla em inglês), com apoio do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), a iniciativa também acontece na África do Sul,
Gana, Índia, Nepal, Paquistão e Quênia.
Dentre as quase 310 mil espécies de plantas
conhecidas atualmente, 87% delas dependem, em algum grau, de polinizadores
animais. Entre os agentes polinizadores estão aves, morcegos, mamíferos não
voadores, répteis, moscas, besouros, abelhas, entre outros. Sendo as abelhas
responsáveis por mais de 70% das polinizações e também consideradas os agentes
mais eficientes. No entanto, apesar da relevância, de acordo com a pesquisa
IBOPE encomendada pelo projeto, entre os 22% dos brasileiros que afirmam
conhecer o termo polinização, somente 8% dizem que é o processo de transporte
do pólen de uma flor para a outra, 43% sabem que a polinização ocorre a partir
da ação de animais e poucos conhecem outros meios de polinização como ar e
água.
Dentre os animais, as abelhas são os principais
polinizadores da flora do planeta. Foto Viviane C Pires.
Práticas amigáveis aos polinizadores – Em parceria com instituições como
a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Universidade de São Paulo
(USP) e diversas outras universidades, a rede de pesquisa fomentada pelo projeto
Polinizadores do Brasil coletou informações sobre o comportamento de agentes
polinizadores em sete culturas agrícolas nacionais: algodão, caju, canola,
castanha-do-brasil, melão, maçã e tomate.
O trabalho rendeu ao todo mais de 40 publicações,
incluindo um plano de manejo para cada cultura estudada, com recomendações de
práticas amigáveis aos polinizadores. Entre as conclusões, que comprovam a
importância da polinização para o aumento da produção e a melhoria da qualidade
final da colheita, vale destacar:
- Algodão:
As flores polinizadas por abelhas apresentaram um aumento de 12% a 16% no
peso da fibra e um incremento de 17% de sementes por fruto;
- Caju:
Áreas de plantio distantes no máximo 1 km de reservas de matas, com maior
visitação de polinizadores, apresentaram produtividade superior às áreas
distantes mais que 2,5 km;
- Castanha-do-brasil:
Apenas 2,7% das flores manipuladas manualmente pelos pesquisadores geraram
frutos, com índice de 75% de rejeição, enquanto as polinizadas por agentes
naturais frutificaram em 10% com nenhuma rejeição observada após 70 dias;
- Canola:
A visitação de abelhas aumenta a produção de canola de 17% a
30%;
- Maçã:
O uso de abelhas sem ferrão (Melipona quadrifasciata), em conjunto
com as abelhas-africanizadas (Apis mellifera), registrou um aumento
de 44% na produção de frutas e de 67% na produção de sementes;
- Melão:
Nos testes realizados com a polinização adequada (uma colmeia de abelhas
para cada 3 mil plantas) se constatou aumento de até 150% no número de
visitas às flores, com um crescimento de até 15% na produtividade e 50% na
qualidade do fruto;
- Tomate:
Os tomateiros podem se autopolinizar, mas, com a visita de abelhas, a
frutificação subiu até 12%, os tomates pesam até 41% a mais e geram 11% a
mais de sementes.
Entre as recomendações de boas práticas agrícolas
para a manutenção dos agentes polinizadores, algumas delas são comuns para
todas as culturas. “Manter a vegetação natural próxima às roças, ter plantios
consorciados com outras culturas, disponibilizar fontes de água para os
polinizadores e evitar práticas destrutivas aos seus ninhos são ações simples
que favorecem a visitação dos agentes”, afirma a coordenadora do projeto pelo
Funbio, Vanina Antunes, lembrando que também é importante ter cuidado com o uso
de agrotóxico, que em alguns casos pode reduzir em mais de 80% o número de
visitas dos agentes polinizadores às flores.
Novas espécies – Dentre os animais, as abelhas são os principais
polinizadores da flora do planeta. Elas respondem pela polinização de mais de
50% das plantas das florestas tropicais e no Cerrado podem chegar a polinizar
mais de 80% das espécies vegetais. Segundo a FAO, as abelhas seriam
responsáveis pela polinização de 73% das plantas cultivadas, que são utilizadas
de forma direta ou indireta na alimentação humana. Além disso, dentre as 57
espécies de plantas mais cultivadas em todo o mundo, 42% delas dependem das
abelhas nativas para a sua polinização.
Conhecer os polinizadores nativos – e monitorar
suas populações durante 3 anos – foi um dos objetivos das pesquisas realizadas
durante os cinco anos do projeto Polinizadores do Brasil. No período, foram
coletados um total de 16 mil abelhas, distribuídas em 214 espécies. Para se ter
uma ideia da diversidade de espécies de abelhas verificadas em cada uma das
culturas estudadas, o algodão listou 114 espécies, o caju 55, a canola 214, a
castanha-do-brasil 79, a maçã 158, o melão 52 e o tomate 79 – sendo muitas
espécies verificadas em mais de uma cultura.
Entre as abelhas coletadas, o projeto identificou
nove novas espécies: Melitoma sp. nov. (coletada pelas redes Maçã,
Castanha-do-brasil, Caju e Algodão); Scaptotrigona sp. nov. (coletada
pelas redes Caju e Melão); Bombus (Thoracobombus) sp. nov. (coletada
pelas redes Maçã e Algodão); Ptilothrix sp. nov. (coletada pelas
redes Maçã e Algodão); Ancyloscelis sp. nov. (coletada pela rede
Algodão); Chlerogelloides nexosa (coletada no Pará durante o Curso
de Polinização promovido pelo projeto); Centris (Centris) byrsonimae;
Chilicola (Hylaeosoma) kevani (coletada pela rede Maçã) e Eulaema
sp. nov.(coletada pela rede Maçã). Também foram identificadas dezenas de
novas ocorrências para espécies de abelhas já conhecidas pela ciência, o que
prova a contribuição do projeto para a compreensão dos padrões de distribuição
geográfica das abelhas polinizadoras dessas culturas no Brasil.
As espécies mais comuns e presentes em quase todas
as culturas foram: Ancyloscelis apiformes (em todas, exceto canola), com
342 indivíduos; Exomalopsis analis (todas), com 282 indivíduos; Exomalopsis
auripilosa (todas, exceto caju e melão), com 696 indivíduos; Melitoma
segmentaria (todas), com 1206 indivíduos; Ptilothrix plumata (todas,
exceto caju e canola), com 78 indivíduos; e Trigona spinipes (todas,
exceto castanha-do-brasil), com 1449 indivíduos. A Apis mellifera (16%
das capturas) foi a única espécie não nativa coletada. Muito abundante nas
roças, ela é pouco observada em ambientes preservados, como as áreas de
vegetação nativa do cultivo de castanha-do-brasil, na Amazônia.
Um dos produtos finais do projeto Polinizadores do
Brasil é o “Guia ilustrado de abelhas polinizadoras no Brasil”, publicado pela
Universidade de São Paulo. Para conhecer as principais publicações e outros
resultados do projeto Polinizadores do Brasil clique aqui.
Sobre o Funbio
O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) é
uma associação civil sem fins lucrativos, que iniciou sua operação em 1996. É
um mecanismo financeiro inovador, criado para desenvolver estratégias que
contribuam para a implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)
no Brasil. Sua missão é aportar recursos estratégicos para a conservação da
biodiversidade, e ao longo de sua história de quase 20 anos, o Funbio atua como
parceiro estratégico do setor privado, de diferentes órgãos públicos estaduais
e federais e da sociedade civil organizada. Essas parcerias viabilizam os
investimentos socioambientais das empresas e a redução e mitigação de seus impactos,
bem como o cumprimento de suas obrigações legais. Na esfera pública, visam
consolidar políticas de conservação e viabilizar programas de financiamento
ambiental.
Referências
- C.
GIANNINI; G. D. CORDEIRO; B. M. FREITAS; A. M. SARAIVA, e V. L.
IMPERATRIZ-FONSECA 2015. The Dependence of
Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil;
LAUTENBACH et al 2012. Spatial
and Temporal Trends of Global Pollination Benefit;
KLEIN et al 2007. Importance
of pollinators in changing landscapes for world crops.
Fonte: ENVOLVERDE
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