O futuro
dos ganhos sociais na América Latina.
Um camponês mostra sua produção na aldeia aymara de
Nasa Q’ara, também conhecida como Nazacara, no departamento de La Paz, na
Bolívia. Foto: Jessica Belmont/Fonplata.
Por Juan Notaro*
Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, 6/10/2015 – Em um
momento em que as maiores economias da América Latina se encontram em recessão
ou em franco processo de paralisia, e os dados do desemprego vão lentamente
aumentando, muitos se perguntam o que acontecerá com os ganhos sociais que a
região soube gerar nos últimos 15 anos. Algo mais alentador espera-se de países
de porte pequeno e médio com Bolívia, Paraguai e Uruguai, que continuarão
crescendo, inclusive o primeiro acima dos 4%, o que agrega um elemento de
moderado otimismo ao quadro regional.
Segundo a Comissão Econômica para a América Latina
e o Caribe (Cepal) e o Banco Mundial, apesar de 80 milhões de latino-americanos
terem conseguido fugir da pobreza e a classe média ultrapassar os 150 milhões
de pessoas em 2013, cerca de 40% dos latino-americanos vivem em situação de
vulnerabilidade. São os que têm renda entre US$ 4 e US$ 10 diários, e que, em
caso de um choque econômico, podem retornar a uma posição precária.
Há quem prognostique uma tempestade perfeita,
devido à queda dos preços das matérias-primas incluindo o petróleo, a
descendente demanda chinesa diante da desaceleração parcial de sua economia, o
potencial aumento das taxas de juros (novamente adiado) por parte do Federal
Reserve norte-americano e ao fato de que, com exceção dos Estados Unidos, os
países industrializados ainda registram um magro progresso econômico.
Argumentam que “a festa acabou”, que a bonança da última década foi produto de
uma mera conjuntura internacional favorável e nada mais.
Desconhecem que a região, especialmente os países
com os quais trabalho diretamente no Fonplata (Fundo Financeiro para o
Desenvolvimento dos Países da Bacia do Prata) – que são Argentina, Bolívia,
Brasil, Paraguai e Uruguai –, instrumentou um processo de renovação tecnológica
na produção agropecuária e mineradora, que lhes permitiu captar a demanda
crescente e fazê-lo de forma competitiva no mercado global. Também se esquecem
de que, embora ainda insuficiente para os níveis exigidos, o investimento em
infraestrutura viária teve um significativo crescimento.
Juan Notaro, presidente-executivo da Fonplata.
Foto: Fonplata.
Segundo dados da Direção Nacional Viária argentina,
por exemplo, só em 2011 foram investidos US$ 3,065 bilhões na construção de
novas autopistas e estradas concessionadas nesse país. A Bolívia, porém,
destinou US$ 7,8 bilhões a investimentos em infraestrutura – principalmente
viária – entre 2011 e 2015, segundo fontes oficiais.
Naturalmente que há necessidade de diversificar
mais a produção e os mercados e investir mais em inovação e adequação da
educação pública aos desafios do mundo em que vivemos. Agregar valor à produção
de matérias-primas é algo desejado. Porém, são processos de longo prazo, que
requerem um ajuste nas cadeias de comércio internacional e implicam uma série
de reformas internas nos países em vários setores, desde a educação, passando
pelas alianças público-privadas, até a eficiência na gestão do Estado.
No entanto, como evitar um retorno da pobreza e o
aumento da desigualdade? Os bancos de desenvolvimento que trabalham na região
aportam uma média de US$ 35 bilhões anuais em apoio aos setores público e
privado regionais.
Nessa conjuntura é duplamente crítica a assistência
desses organismos em áreas com claro impacto social, particularmente na
manutenção e geração de emprego, bem como em preservar os progressos de
inclusão conseguidos na última década. O Fonplata trabalha nessa direção,
porque se foca nas áreas rurais e de fronteira com maior risco social e
econômico. Continuar o apoio às redes de proteção social e eventualmente
aumentá-lo é essencial e também é um custo eficiente.
De acordo com um recente informe do Banco Mundial,
os programas de proteção social bem desenhados, como é a maioria dos de nossa
região, são eficazes em relação aos custos, pois só representam entre 1,5% e
1,9% do produto interno bruto (PIB), uma cifra muito inferior ao gasto da
maioria dos governos em subvenções aos combustíveis.
Em condições de maior dificuldade econômica, a
capacidade das famílias de gerar renda é como estar montanha acima, já que
aumentam as desigualdades em matéria de oportunidades, os riscos e as deficiências
do mercado crescem, e explicam porque algumas pessoas conseguem acumular mais
ativos produtivos e outros todo o contrário.
Por isso, a contribuição dos bancos de
desenvolvimento é essencial para diminuir essa brecha de oportunidades e gerar
um muro de proteção social que contribua para relançar o ciclo econômico.
* Juan Notaro é presidente-executivo do
Fundo Financeiro para o Desenvolvimento dos Países da Bacia do Prata
(Fonplata).
Fonte: ENVOLVERDE
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