Existe um
mundo para criança e um para adultos?
Teve início, nesta quarta-feira (8/10), a terceira
edição do Fórum do Espaço de Leitura,
no Parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo. Partindo do tema “Ler é
possível – Sobre pedras, percursos e potências na educação”, o evento reúne
educadores e escritores para discutir sobre o processo de escrita e a formação
de leitores.
A primeira roda de conversa trouxe os autores e
ilustradores Roger Mello e Eva Furnari. Representantes de gerações distintas da
literatura infantil brasileira, eles tiveram que se debruçar sobre uma questão
fundamental: existe um mundo para crianças e um para adultos?
Capa do livro Problemas Boborildos
Para abrir os trabalhos, cada um leu para o público
uma obra sua que exemplificasse a questão. Furnari, que tem mais de 30 anos de
carreira e dezenas de livros publicados, escolheu “Problemas boborildos” e
Mello, vencedor do prêmio Andersen em 2014, foi de “Inês”, sua última
publicação.
Em “Inês”, lançado pela Companhia das Letras, é
recontada, na voz de uma criança, a história de Inês de Castro, assassinada por
um rei por ser amante do princípe e que, depois de morta, foi coroada rainha. A
lenda, popular no imaginário português, não parece ser de fácil digestão para o
público infantil. Mas faz sentido separar os assuntos de leitura por público?
Imaginar o outro
“Nós temos essa noção de infância que tenta
preservar a criança de algo que ela não foi pediu pra ser preservada. A gente
não tem esse direito”, acredita o ilustrador. “Se for ver, as crianças adoram
histórias de terror, porque elas experimentam o susto, o espanto, o oculto”.
Para ele, a literatura não tem uma função de salvamento ou remédio, mas de
mostrar o que é possível imaginar outras realidades.
Para Furnari, a faculdade da imaginação é importante
neste momento em que vivemos, que ela enxerga como uma época de crise. “Nossa
sociedade está mudando, viemos de um longo período absolutista para uma
vivência democrática. E isso deixa todo mundo perdido. A literatura, pelo
menos, de uma certa maneira, ajuda as crianças a organizaram sua psiquê, ajuda
a mostrar o outro, a importância do respeito. Não é possível poupar alguém do
real”, defende.
Trecho do livro Inês, que narra a história de Inês
de Castro para famílias. Foto: Reprodução.
A escritora também julga que hoje temos uma
produção de qualidade no campo da literatura infantil.
“Claro que tem coisa
ruim, que estereotipa, feita em massa só para vender. Mas hoje temos livros
bonitos, com ilustrações magníficas, histórias envolventes”, pondera.
“Um livro infantil bom o é pela mesma razão que uma
grande obra da literatura. É algo que te faz imaginar, pensar que ‘nossa, as
coisas poderiam ser diferentes, outro mundo é possível’, criar um êxtase ou te
deixar consciente de si. E, para isso, não há uma idade certa”, conclui Mello.
Fonte: Portal Aprendiz
Nenhum comentário:
Postar um comentário