Aquecimento
pode triplicar seca na Amazônia.
Seca em Silves (AM) em 2005. Foto: Ana Cintia Gazzelli/WWF.
Modelos de computador sugerem que leste amazônico,
que contém a maior parte da floresta, teria mais estiagens, incêndios e morte
de árvores, enquanto o oeste ficaria mais chuvoso.
As mudanças climáticas podem aumentar a frequência
tanto de secas quanto de chuvas extremas na Amazônia antes do meio do século,
compondo com o desmatamento para causar mortes maciças de árvores, incêndios e
emissões de carbono. A conclusão é de uma avaliação de 35 modelos climáticos
aplicados à região, feita por pesquisadores dos EUA e do Brasil.
Segundo o estudo, liderado por Philip Duffy, do
WHRC (Instituto de Pesquisas de Woods Hole, nos EUA) e da Universidade
Stanford, a área afetada por secas extremas no leste amazônico, região que
engloba a maior parte da Amazônia, pode triplicar até 2100. Paradoxalmente, a
frequência de períodos extremamente chuvosos e a área sujeita a chuvas extremas
tende a crescer em toda a região após 2040 – mesmo nos locais onde a
precipitação média anual diminuir.
Já o oeste amazônico, em especial o Peru e a
Colômbia, deve ter um aumento na precipitação média anual.
A mudança no regime de chuvas é um efeito há muito
teorizado do aquecimento global. Com mais energia na atmosfera e mais vapor
d’água, resultante da maior evaporação dos oceanos, a tendência é que os
extremos climáticos sejam amplificados. As estações chuvosas – na Amazônia, o
período de verão no hemisfério sul, chamado pelos moradores da região de
“inverno” ficam mais curtas, mas as chuvas caem com mais intensidade.
No entanto, a resposta da floresta essas mudanças
tem sido objeto de controvérsias entre os cientistas. Estudos da década de 1990
propuseram que a reação da Amazônia fosse ser uma ampla “savanização”, ou
mortandade de grandes árvores, e a transformação de vastas porções da selva
numa savana empobrecida.
Outros estudos, porém, apontaram que o calor e o
CO2 extra teriam o efeito oposto – o de fazer as árvores crescerem mais e
fixarem mais carbono, de modo a compensar eventuais perdas por seca. Na média,
portanto, o impacto do aquecimento global sobre a Amazônia seria relativamente
pequeno.
Ocorre que a própria Amazônia encarregou-se de dar
aos cientistas dicas de como reagiria. Em 2005, 2007 e 2010, a floresta passou
por secas históricas. O resultado foi ampla mortalidade de árvores e incêndios
em florestas primárias em mais de 85 mil quilômetros quadrados. O grupo de
Duffy, também integrado por Paulo Brando, do Ipam (Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia), aponta que de 1% a 2% do carbono da Amazônia foi
lançado na atmosfera em decorrência das secas da década de 2000. Brando e
colegas do Ipam também já haviam mostrado que a Amazônia está mais inflamável,
provavelmente devido aos efeitos combinados do clima e do desmatamento.
Os pesquisadores simularam o clima futuro da região
usando os modelos do chamado projeto CMIP5, usado pelo IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática) no seu último relatório de avaliação do clima global. Um
dos membros do grupo, Chris Field, de Stanford, foi um dos coordenadores do
relatório – foi também candidato à presidência do IPCC na eleição realizada na
semana passada, perdendo para o coreano Hoesung Lee.
Os modelos de computador foram testados no pior
cenário de emissões, o chamado RMP 8.5, no qual se assume que pouca coisa será
feita para controlar emissões de gases-estufa.
Eles não apenas captaram bem a influência das
temperaturas dos oceanos Atlântico e Pacífico sobre o padrão de chuvas na
Amazônia – diferenças entre os dois oceanos explicam por que o leste amazônico
ficará mais seco e o oeste, mais úmido –, como também mostraram nas simulações
de seca futura uma característica das secas recorde de 2005 e 2010: o extremo
norte da Amazônia teve grande aumento de chuvas enquanto o centro e o sul
estorricavam.
Segundo os pesquisadores, o estudo pode ser até
mesmo conservador, já que só levou em conta as variações de precipitação. “Por
exemplo, as chuvas no leste da Amazônia têm uma forte dependência da
evapotranspiração, então uma redução na cobertura de árvores poderia reduzir a
precipitação”, escreveram Duffy e Brando. “Isso sugere que, se os processos
relacionados a mudanças no uso da terra fossem mais bem representados nos
modelos do CMIP5, a intensidade das secas poderia ser maior do que a projetada
aqui.”
O estudo foi publicado na PNAS, a revista da
Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Fonte: Observatório do Clima
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