Água e
saneamento não podem esperar.
Os poços se deterioram por falta de manutenção no
sul da Suazilândia e muitos deixam de ser úteis. Foto: Mantoe Phakathi/IPS.
Por Geeta Rao Gupta*
Nações Unidas, 15/10/2015 – Os novos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), acordados em setembro pelos membros da
Organização das Nações Unidas (ONU), estão todos inter-relacionados, como já
foi dito reiteradamente. Mas é no objetivo 6 – garantir a disponibilidade e a
gestão sustentável da água e do saneamento para todos – que é mais evidente.
A água flui em toda a agenda de desenvolvimento
para 2030, e o saneamento e a higiene sustentam todo possível êxito derivado do
acesso à água. Se não cumprirmos o objetivo 6, não concretizaremos os outros 16
objetivos e as 169 metas. Os avanços em educação, saúde, desigualdade e pobreza
extrema dependem de como agirmos em matéria de água e saneamento.
Há alguns anos a ONU declarou que o acesso a água e
saneamento é um direito humano básico. Mas atualmente 663 milhões de pessoas
carecem de acesso adequado a água potável e 2,4 bilhões não têm latrinas. No
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estamos particularmente
preocupados com as meninas e os meninos, afetados de forma desproporcional pela
falta de acesso a esses serviços básicos.
Afeta sua saúde. As doenças derivadas da água e da
falta de saneamento estão entre as principais causas de morte em menores de
cinco anos. Sem latrinas, centenas deles adoecem e morrem todos os dias por
causas evitáveis, especialmente por diarreia e outras enfermidades transmitidas
por via fecal-oral.
Afeta sua educação. Em muitas comunidades as
meninas não vão à escola porque são as encarregadas de buscar água, porque não
contam com um espaço seguro para usar quando estão menstruadas, porque têm de
ajudar suas mães a cuidar dos doentes, frequentemente em razão da água
contaminada.
Afeta sua situação nutricional e seu
desenvolvimento. Há cada vez mais provas dos vínculos diretos entre a falta de
água potável e saneamento e a má nutrição crônica. Cerca de 159 milhões de
crianças no mundo apresentam atraso no crescimento (baixa estatura para a
idade), uma condição que causa danos físicos e cognitivos irreversíveis.
As consequências do atraso no crescimento não
incidem apenas na pessoa afetada, mas podem reduzir significativamente a
capacidade de aprendizado e as possibilidades futuras de várias gerações
ganharem a vida e assim prejudicar a economia local e nacional.
Geeta Rao Gupta. Foto: Cortesia da autora
Afeta a igualdade e a equidade. Uma das principais
metas dos novos ODS é a de reduzir as desigualdades. Nova evidência do Banco
Mundial mostra que investir em água e saneamento para 20% da população mais
pobre gera grandes créditos econômicos, mais do que investir em outros setores
e, assim, tem a capacidade de reduzir as desigualdades sociais.
Nossos dados dos 45 países em desenvolvimento
mostram que, em sete de cada dez famílias, o peso de ir buscar água recai sobre
as mulheres e as meninas, por isso que melhorar o acesso ao recurso contribuirá
para a igualdade de gênero.
Uma reunião realizada por ocasião do 70º período de
sessões da Assembleia Geral da ONU, organizada pelos governos de Holanda,
África do Sul, Hungria e Bangladesh, concluiu que focar nos setores mais pobres
e mais marginalizados exigirá uma enorme mudança de mentalidade por parte dos
governos. Mas precisa ser feito.
Porém, não se pode fazer sem fortalecer as
intuições nem melhorar a responsabilidade dos governos e dos provedores de
serviços. E não se fará sem envolver os que têm mais em jogo, os pobres, as
mulheres e os adolescentes, no planejamento e monitoramento dos serviços. Sua influência
já se fez sentir no objetivo 6, a respeito do qual se chegou mais rapidamente a
um acordo.
Não é coincidência que se consiga resultados
trabalhando em estreita colaboração com as pessoas diretamente afetadas.
Associar-se a elas não é “algo lindo de fazer”, mas é algo que “se deve fazer”.
Definitivamente, o acesso a água e saneamento não é só uma questão de dignidade
e de direitos humanos, mas é fundamental para se conseguir qualquer dos
objetivos que os governos do mundo acabam de adotar.
Devemos começar já a trabalhar no objetivo 6, mas
não pode ser mais do mesmo. Temos que começar pelas pessoas mais desfavorecidas
ou corrermos o risco de perder os êxitos que laboriosamente conseguimos nos
últimos 15 anos e colocar em perigo o futuro. Não há tempo a perder.
* Geeta Rao Gupta é subdiretora-executiva do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Fonte: ENVOLVERDE
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