Brasil
tem menos de 13% do seu território em áreas protegidas.
George Schaller. Foto: Fundação Grupo Boticário
O papel das unidades de conservação na economia
mundial e no futuro da sociedade foi discutido durante a palestra do biólogo
George Schaller, durante evento internacional que está reunindo ambientalistas
de todo o mundo, em Curitiba (PR).
George Schaller, biólogo naturalizado americano que
é referência no estudo de espécies emblemáticas como os gorilas-de-montanhas e
os pandas, participou nesta terça-feira (22) da oitava edição do Congresso Brasileiro
de Unidades de Conservação (VIII CBUC). O pesquisador falou sobre o papel das
áreas protegidas na economia mundial, no futuro da sociedade e,
principalmente, na conservação da natureza. Dados do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), mostram que o Brasil possui pouco mais de um milhão de km2 de
áreas naturais protegidas, equivalente a apenas 12,8% de toda extensão do
território nacional.
Aos 82 anos de idade e com mais de
seis décadas de experiência em pesquisa nos seis continentes, o
conservacionista veio ao Brasil especialmente para o evento que acontece
até sexta-feira (25) – em Curitiba (PR)
– e é promovido pela Fundação Grupo Boticário de
Proteção à Natureza, em comemoração aos 25 anos da ONG. Segundo
Schaller, asáreas protegidas são essenciais para o futuro porque se forem
realmente conservadas, elas irão garantir que as pessoas tenham um futuro
equilibrado. “Se analisarmos por que São Paulo, por exemplo, está sofrendo com
a crise da água? Porque não existem florestas suficientes nos arredores dos
mananciais para produzir água. Tudo que queremos e precisamos vem da natureza e
muitas vezes nos esquecemos disso”, afirma.
George Schaller, que também é vice-presidente da
ONG Panthera, que tem sede em Nova Iorque e trabalha para a conservação dos
felinos do mundo, explica que é preciso garantir a conservação efetiva
dessas áreas e, para atingir esse objetivo, é necessário o envolvimento da
comunidade o que é um ponto crítico. “Como nós podemos convencer a sociedade a
proteger o seu próprio futuro? Como nós podemos conseguir benefícios econômicos
com isso? Quais benefícios? São perguntas importantes que precisam ser
respondidas agora e para isso precisamos de políticos que se interessem pela
causa”, ressalta.
Ao ser questionado como as áreas protegidas podem
melhorar a vida das pessoas, George Schaller é categórico: “essa é a pergunta
mais difícil em conservação. Todos querem mais desenvolvimento, mas quanto mais
se tem desenvolvimento, menos se está inclinado a melhorar a vida das pessoas
em longo prazo, porque esse crescimento não é sustentável”. Segundo ele, é
preciso encontrar formas pelas quais a comunidade entenda que ela depende
dessas áreas protegidas, pois elas oferecem os chamados serviços ambientais,
como a produção de água, a regulação do microclima, a purificação do ar e
fertilização do solo. “Uma forma bem simples e simplista de explicar é que se
nós destruirmos as florestas e, por consequência os mananciais, iremos destruir
a nós mesmos”, conclui.
Em sua palestra, o biólogo destacou que a
sociedade tem agido como se o planeta fosse um grande supermercado, como se os
recursos fossem infinitos. “Nós usamos mais recursos da Terra
nos últimos 50 anos do que em todo o resto da história humana. Como
será o futuro que estamos criando? Então, precisamos que um esforço
coletivo seja feito para atingir um equilíbrio entre o desenvolvimento e a
conservação, aliando a participação da comunidade e dos políticos”, comenta.
E o Brasil?
George Schaller visitou o país pela primeira vez
nos anos 70 e afirma que desde então o Brasil cresceu bastante em ações de
conservação, com reservas criadas, profissionais capacitados e milhares de
pesquisas realizadas. “Mas normalmente ainda enfrenta-se o problema da falta de
investimento em conservação e estímulo à agropecuária desequilibrada”,
ressalta.
Ele exemplifica com a situação do Cerrado que já
perdeu 80% da sua cobertura original e hoje tem apenas 8,2% do seu território
protegido. “E para quê? Para plantar soja que futuramente será usada para
alimentar os porcos da China. Será que essa é a maior preocupação do Brasil?”,
comenta triste.
George Schaller finaliza afirmando que todos têm
responsabilidade na conservação da natureza. “Não existe quem não possa
contribuir de alguma forma, desde crianças pequenas até idosos. Seja separando
o lixo e destinando adequadamente, protegendo mananciais ou engajando-se em
ações para proteger a comunidade”, conclui.
Livro compartilha histórias
O biólogo também lançou o livro ‘Um Naturalista e
Outros Animais: Histórias de uma vida em Campo’. A obra é uma compilação de 19
pequenos textos sobre suas viagens e descobertas nos últimos 50 anos. Um dos
destaques da publicação são as experiências pessoais de Schaller e a inclusão
de inúmeras de suas fotos, sozinho ou com sua família, além de imagens
incríveis dos animais de sua pesquisa.
Sobre o Congresso Brasileiro de Unidades de
Conservação (CBUC) – O Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação é promovido
periodicamente pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A oitava
edição do CBUC acontece de 21 a 25 de setembro de 2015 no ExpoUnimed
(PR). Os patrocinadores desta oitava edição são: Instituto Ambiental do
Paraná (IAP), Conservação Internacional do Brasil e Votorantim. A primeira
edição do CBUC aconteceu em 1997 em Curitiba (PR); em 2000 foi realizada em
Campo Grande (MS); em 2002 em Fortaleza (CE); em 2004 em Curitiba (PR); em 2007
em Foz do Iguaçu (PR); em 2009, aconteceu novamente em Curitiba (PR); e, em
2012 em Natal (RN). Mais de 10 mil pessoas já participaram do evento.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário