Tão
longe, tão perto. Até onde chegaremos?
Por
Washington Novaes*
Em meio às crises econômica, social e política em
toda parte e à falta de soluções à vista para os dramas, principalmente nas
megacidades – com a violência, a poluição do ar, os racionamentos de água, etc.
–, muita gente começa a devanear até com a possibilidade de vida fora Terra,
tantas têm sido as descobertas de cientistas, como tem mostrado este jornal nos
últimos meses.
A mais recente dessas descobertas, a partir de
uma espaçonave da Nasa, é a da presença de água salgada que flui durante meses
do verão em Marte e pode demonstrar, segundo cientistas, que o solo ali não
seja árido e suporte vida como na Terra, talvez tenha vida microbiana debaixo
de sua crosta radiativa. “Não é o planeta seco e árido que pensávamos no
passado”, disse John Grunsfeld, da Nasa. Tanto que os mapas químicos
encontraram indicadores de canais que só se formam na presença de água nas
paredes de penhascos.
Certamente muita gente torcerá o nariz, lembrando
que Marte está a mais de 56 milhões de quilômetros da Terra, sua temperatura
média é de 63 graus negativos, chega a menos 140 graus Celsius. Ainda assim, já
há planos na Holanda de mandar gente para lá, mas sem fixar volta: moraria em
espaçonaves que ficariam por lá; e a cada quatro anos iriam novos grupos de
quatro pessoas. O Massachusetts Institute of Technology diz que morreriam em
pouco mais de dois meses (FP, 20/3).
Em julho outra sonda da Nasa, a New Horizon,
registrou formação “parecida com um coração” em Plutão, provavelmente uma
planície composta em grande parte de monóxido de carbono (O Globo, 18/7), com
muitos poços ou buracos. Muito longe da Terra também, mais de 3 bilhões de
milhas, que a espaçonave levou nove anos e meio para cobrir.
Cientistas brasileiros estão entre os do
Observatório Europeu do Sul que descobriram um planeta semelhante a Júpiter
orbitando uma estrela semelhante ao Sol – e à mesma distância que a da Terra a
ele (Efe, 16/7). E um grupo de norte-americanos, trabalhando na Antártida,
detectou sinais “que remontam à primeira fração de segundo da existência do
Universo” – eles indicariam que este “passou por uma expansão numa velocidade
maior que a da luz em seus momentos iniciais” (FP, 18/3).
A excitação no mundo da ciência cresceu ainda
mais quando se anunciou que fora descoberto o “planeta-irmão da Terra”, o
Kepler 452b, numa zona considerada “habitável”, próxima a uma estrela quase
idêntica ao Sol, conforme a Nasa. Para esta, “é um marco na busca por uma nova
Terra” (Estado, 24/7). E a localização indicaria ser possível ali a ocorrência
de água líquida na superfície. O observatório que fez a descoberta foi lançado
em 2006 e registrou que esse planeta-irmão está a 150 milhões de quilômetros do
Sol, próximo a uma estrela quase idêntica a ele. Além desse, a Nasa anunciou
mais 11 pequenos planetas. Com diâmetro 60% maior que o da Terra, o Kepler 452b
é classificado como “super Terra”, diz Fábio de Castro neste jornal. Embora
esteja a 1.400 anos-luz de nós, esse primo-irmão mais velho da Terra tem todos
os ingredientes e condições necessários para a existência de vida”, segundo
cientistas que participam da pesquisa.
Tem mais. Diz a revista Nature, reproduzida neste
jornal em 26/2, que uma equipe de astrônomos na Universidade Nacional da
Austrália descobriu um buraco negro gigantesco, com massa mais de 12 bilhões de
vezes maior que a do Sol. Emite energia um quatrilhão de vezes maior que a dele
(!).
A lua Ganimedes, de Júpiter, por sua vez, tem
vasto oceano sob sua superfície congelada (FP, 14/3). Já em Saturno, dados da
sonda Cassini indicam que há fontes hidrotermais sob o oceano oculto de
Encéfalo, uma lua de 500 quilômetros de diâmetro. E muitos cientistas entendem
que foi em fossas hidrotermais que a vida surgiu na Terra.
São muitas informações, muitas possibilidades. A ponto de o respeitadíssimo físico Stephen Hawking perguntar: “O universo é realmente infinito ou apenas enorme? Ele é eterno ou apenas tem uma longa vida?” Ele mesmo não acredita que a vida tenha surgido espontaneamente na Terra; “deve ser possível que tenha aparecido em outros planetas apropriados, os quais aparentam existir em grande quantidade na galáxia” (Ecológico, março 2015). Para ele, podem ser formatos “mais avançados ou muito mais primitivos”. E “se quisermos continuar muito além, nosso futuro está no espaço”. Categoricamente.
Quem pensar que também está no terreno do
devaneio, convém lembrar que a Assembleia-Geral da ONU aprovou já em 2013 a
criação do Grupo Internacional de Alertas sobre Asteroides, tantos têm sido os
temores. Um desses asteroides, o Chelyabinsk, explodiu sobre a região desse
nome, na Rússia, naquele mesmo ano. Aqui mesmo, no Brasil, em maio o Senado
aprovou acordo de adesão ao Observatório Europeu do Sul, que, com vários
telescópios operados nos Andes chilenos por cientistas de 14 países, seguirá
com buscas no espaço (Estado, 16/5).
Na revista New Scientist (29/7), seu articulista
Jacob Aron argumenta que nossa existência (dos humanos) “é altamente
improvável”. Para que ela acontecesse, “para que você nascesse, um
espermatozoide específico fertilizou um óvulo, dando origem à sequência
específica que você é.
Senão, alguém estaria lendo este texto em seu lugar.
Somos únicos, mas não somos especiais: há outros 7 bilhões de pessoas. Com os
planetas pode ser a mesma coisa”.
Segue ele lembrando que já foram identificados 2
mil exoplanetas – o que “coloca nesse contexto o nosso planeta”. Num “mundo de
rochas, se tiver atmosfera, pode haver água na superfície”. E não parará por
aqui: assim continuará acontecendo por bilhões de anos. Quantas outras
civilizações podem ou poderão existir?
Algum humano chegará a uma delas? Se a ciência
localizar alguma, se novas tecnologias permitirem a humanos chegar lá…
* Washington Novaes
é jornalista (e-mail: wlrnovaes@uol.br).
Fonte: O
Estado de S. Paulo
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