Coreia do
Sul tem algo a ensinar.
Juan Reyes em sua propriedade de Cotorro. Foto:
Patricia Grogg/IPS.
Por Aruna Dutt e Valentina Ieri, da IPS
–
Nações Unidas, 2/10/2015 – As mais de 3,3 bilhões
de pessoas que vivem no campo fazem com que o desenvolvimento rural se torne
fundamental, se o desejo é que a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030,
“um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade”, se torne
realidade. No dia seguinte à adoção unânime dos 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), dia 27 de setembro, na sede da Organização das Nações Unidas
(ONU) em Nova York, houve um fórum de debates sobre diversas formas de se
alcançar os ODS nos países em desenvolvimento.
O encontro foi organizado pelo Centro para o
Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos
(OCDE), o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul e o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O eixo do painel foi o Novo
Paradigma de Desenvolvimento Rural e o Modelo de Novas Comunidades Inclusivas e
Sustentáveis, inspiradas no êxito da iniciativa Saemaul Undong, da Coreia do
Sul.
“Os governantes se comprometeram a criar uma vida
digna para todas as pessoas. Prometemos não deixar ninguém para trás, incluídas
as famílias rurais. Não haverá avanços no movimento global sem desenvolvimento
local”, recordou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que foi chanceler
sul-coreano de 2004 a 2006.
“O campo sul-coreano passou da pobreza à
prosperidade”, destacou Ban. A Saemaul Undong compartilha o fim último dos ODS.
Com base nos princípios de educação, diligência, cooperação mútua e autoajuda,
é uma estratégia que pode se constituir no novo paradigma de desenvolvimento
rural para uma prosperidade sustentável, destacou o secretário-geral.
Por sua vez, a presidente da Coreia do Sul, Park
Geun-hye, explicou: “A Saemaul Undong melhoraroui a Coreia e transformaram
nossa sociedade. Estávamos entre os países mais pobres do mundo. Agora estamos
entre as 50 maiores economias e entre os principais doadores da assistência
internacional.
Embora seja costume atribuir os êxitos sul-coreanos
ao auge da indústria nacional, o representante permanente junto à ONU,
Choonghee Hahn, acredita que a Saemaul Undong foi o fator fundamental do êxito
do país na década de 1970, e agora é uma inspiração para um futuro
desenvolvimento ambientalmente sustentável, em uma época de rápida urbanização
e industrialização.
Hahn disse à IPS que os principais aspectos da
estratégia sul-coreana foram incorporados, ou estão em processo de serem, a
projetos de desenvolvimento em 30 países, entre eles, Etiópia, Uganda, Ruanda,
Tanzânia, Afeganistão, Myanmar, Laos e Camboja. A iniciativa inclui estratégias
como inculcar um espírito de que “se pode”, uma percepção reveladora sobre a
igualdade de gênero e os direitos humanos.
Park Chung-hee, pai da atual presidente, iniciou o
movimento Saemaul Undong em 1970, distribuindo cimento e aço nas aldeias e
qualificando-as em função do uso que cada uma fizesse dos recursos. O Estado
entregou às que ficaram em melhor colocação mais recursos, criando um incentivo
e um sentido de unidade para trabalhar duro e competir com outras aldeias. O
programa propiciou ferramentas de motivação como bandeiras e hinos e
testemunhos espirituais, que elevaram o entusiasmo das pessoas.
A forte crença na autonomia, mediante agências
locais, a ideia de fazer o país menos dependente da ajuda estrangeira e, por
fim, do governo, foram estratégias essenciais de crescimento, segundo Hahn.
Também foram criados projetos mais sustentáveis, que, no início dos anos 1980,
eram financiados com recursos comunitários e outras alternativas, e não com
fundos do Estado.
O governo criou centros de capacitação que
vinculavam as autoridades centrais com as locais e os participantes dos
projetos, os quais incluíam capacitação em liderança para as mulheres em
institutos provinciais e centrais. De cada aldeia havia 12 delegados, e o
governo tornou obrigatória a presença de pelo menos uma mulher, o que promoveu
o empoderamento feminino.
Segundo o diretor do Centro para o Desenvolvimento
da OCDE, Mario Pezzini, a iniciativa sul-coreana pode perfeitamente ser
replicada em outros lugares. Cerca de 92% dos 3,3 bilhões de habitantes rurais
vivem nos países em desenvolvimento, e estima-se que continuarão aumentando até
2028. Daí ser indispensável usar a “lente rural” para implantar e conseguir os
ODS, acrescentou, em entrevista à IPS.
A maioria dos pobres se concentra em áreas rurais,
luta contra as crescentes desigualdades e está limitada pela incapacidade das
cidades em acolhê-la. “Devemos ter presente que o desenvolvimento rural não é sinônimo
de agricultura nem de declínio”, ressaltou Pezzini. A agricultura representa
uma parte crucial das economias rurais. Um aumento da produtividade da
agricultura causará o fim de setores de população rural, os quais não
necessariamente serão empregados pela própria agricultura, acrescentou, desde a
Itália.
Quando se fala de desenvolvimento rural, é
importante se referir a uma economia que seja local, o que inclui a
agricultura, mas vai além e compreende empregos não agrícolas, insistiu
Pezzini. Por isso, o desenvolvimento rural não necessariamente coincide com o
desenvolvimento agrícola nem coincidirá somente com o desenvolvimento
industrial.
O que deve implicar o novo modelo rural, baseado no
movimento Saemaul Undong, é um novo “tipo de desenvolvimento regional e local,
um desenvolvimento multissetorial, multiagente e multidimensional, que deve
levar em conta diferentes atividades”, explicou Pezzini. As novas agendas dos
governos devem se concentrar em diversos valores das zonas rurais, os quais exigem
diferentes tipos de intervenções, pontuou.
Quando os governos centrais atuam segundo programas
gerais e implantam políticas sem considerar a população rural e nem seus
conhecimentos, frequentemente fracassam. Para Pezzini, “um só ator não pode
consegui-lo. Mas, se o setor público quer ser eficaz, precisa incluir o setor
privado, os sindicatos e os cidadãos e as cidadãs. O ponto crucial aqui é como
avaliar recursos que não são usados”.
Fonte: ENVOLVERDE
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