Biodiversidade
marinha reduzida à metade.
Populações marinhas foram reduzidas em 49% nos
últimos 40 anos. Foto: © naturepl.com / David Fleetham.
Populações de peixes importantíssimas para a
segurança alimentar da humanidade estão em declínio no mundo inteiro, e sob
risco de colapso total, de acordo com um novo estudo divulgado pela Rede WWF. O
Living Blue Planet Report (“Relatório Planeta Azul Vivo”, em tradução
livre) mostra que muitas das atividades que ameaçam os oceanos podem ser
evitadas e que existem soluções para resolver este problema.
A mais recente versão do estudo de mamíferos
marinhos, aves, répteis e peixes mostra que essas populações foram reduzidas à
metade nas últimas quatro décadas, com algumas populações de peixes disponíveis
para consumo apresentando declínio de até 75%. As informações dão conta de que
este é um problema de todas as nações do mundo, com destaque especial para os
países em desenvolvimento.
Para reverter este quadro de declínio, os líderes
globais devem garantir que a recuperação dos oceanos e dos habitats costeiros seja
um assunto-chave na discussão sobre a implementação dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) das Nações Unidas, que serão formalmente
aprovados no final deste mês. As negociações para um novo acordo climático
global também são importantes oportunidades para “forçar” acordos e consensos
no auxílio à saúde dos oceanos.
Prejuízo
“Nós publicamos este estudo com urgência para
trazer a mais atualizada fotografia do estado dos oceanos”, disse o
diretor-geral do WWF Internacional, Marco Lambertini. “No espaço de uma única
geração, a atividade humana prejudicou seriamente os oceanos, pescando mais
rapidamente do que a velocidade de reprodução dos peixes, ao mesmo tempo em que
destruímos seus berçários. Precisamos de mudanças profundas para garantir vida
oceânica abundante para as futuras gerações”.
O relatório do WWF indica que espécies essenciais
para a pesca comercial e de subsistência – e, consequentemente, para o
suprimento de comida do planeta – estão sofrendo declínios acentuados. Além da
severa queda nos estoques de peixes comerciais, o relatório detalha a dramática
perda de 74% de indivíduos nos estoques de peixes que incluem atuns, cavalas e
bonitos.
“Nós estamos numa ‘corrida para pegar peixes’ que
pode acabar com pessoas famintas, sem uma fonte de alimento vital, impactando
uma engrenagem econômica muito importante. A sobrepesca, a destruição dos
habitats marinhos e as mudanças climáticas terão consequências para toda a
população humana, sendo que as comunidades mais pobres serão as mais afetadas.
O colapso dos ecossistemas oceânicos seria o estopim de um declínio econômico
seríssimo – e enfraqueceria a nossa luta para erradicar a pobreza e a
desnutrição”, disse Lambertini.
Certas populações de peixes apresentaram declínio
de até 75%, mostra estudo da Rede WWF. Foto: © naturepl.com / David Fleetham.
O relatório mostra o declínio de 49% das populações
marinhas entre 1970 e 2012. A análise monitorou 5.829 populações de 1.234
espécies, fazendo com que o conjunto de dados seja quase duas vezes maior que o
de estudos anteriores e trazendo uma fotografia mais clara e precisa da saúde
dos oceanos.
Os resultados são baseados no Living Planet
Index, uma base de dados mantida e analisada pelos pesquisadores da
Sociedade de Zoologia de Londres (ZSL, no original em inglês). Numa espécie de
“resposta” às estatísticas alarmantes do Living Planet Report, publicado pela
Rede WWF em 2014, este estudo analisa como a sobrepesca, os danos aos habitats
marinhos e as mudanças climáticas estão afetando a biodiversidade marinha.
Corais, manguezais e algas
Somando-se à crise da queda de populações de
peixes, o resultado mostra também uma queda abrupta em recifes de corais,
manguezais e algas marinhas, que ajudam na manutenção de populações de peixes.
Mais de um terço dos peixes monitorados pelo relatório dependem de recifes de
corais – que apresentaram um declínio perigoso de 34% em suas populações entre
1970 e 2010.
O relatório mostra ainda que os recifes de corais
podem ser considerados extintos por volta de 2050 devido às mudanças
climáticas. Com mais de 25% de todas as espécies marinhas vivendo nos recifes
de corais e cerca de 850 milhões de pessoas se beneficiando diretamente de seus
serviços econômicos, sociais e culturais, a perda dos recifes de corais seria
uma extinção catastrófica, com consequências dramáticas para a humanidade.
“O oceano é uma parte integral de nossas vidas. Nós
estamos vivos por conta do ar puro, da água e de outros serviços que ele
oferece. Mais que isso, nós estamos cercados pelo oceano e sua vida selvagem; e
podemos perceber isso seja numa viagem para o litoral, visitando um aquário ou
um zoológico. Este estudo sugere que bilhões de animais foram varridos dos
oceanos durante a minha vida. É um terrível e perigoso legado para deixar para
os nossos netos”, disse o Diretor de Ciências da ZSL, Ken Norris.
As mudanças climáticas é uma das ameaças à integridade dos ecossistemas
marinhos, assim como a poluição, a sobrepesca e a destruição de habitat. Foto:
© © naturepl.com / David Fleetham.
Mudanças climáticas
Enquanto a exploração predatória é identificada
como a maior ameaça para a biodiversidade do oceano, o estudo mostra que as
mudanças climáticas estão causando mudanças mais rápidas que em qualquer outro
período em milhões de anos. O aumento das temperaturas e do nível de acidez dos
oceanos, causado pelo dióxido de carbono emitido na atmosfera, agravam os
impactos negativos da sobrepesca e de outros problemas, como a degradação dos
habitats e a poluição.
Além do óbvio dano à natureza, as pressões aos
oceanos põem em risco uma economia global de U$ 2,5 trilhões, além de arriscar
uma base de ativos globais de pelo menos U$ 24 trilhões, de acordo com um
estudo anterior da Rede WWF.
Segundo o relatório, as decisões tomadas na
Conferência do Clima de Paris vão impactar diretamente o futuro da saúde dos
oceanos. Os compromissos internacionais assumidos até agora não foram capazes
de interromper o aumento dos níveis de aquecimento e acidificação que estão se
mostrando catastróficos para os ecossistemas oceânicos e todas as pessoas que
dependem deles.
“A boa noticia é que as soluções existem e nós
sabemos o que precisa ser feito. O oceano é um recurso renovável que pode estar
disponível às futuras gerações se lidarmos hoje com as pressões ambientais de
maneira adequada”, disse Lambertini. “Se vivermos dentro de limites
sustentáveis, o oceano vai contribuir com a segurança alimentar, a economia e
os nossos sistemas naturais. A equação é simples. Nós devemos pegar essa
oportunidade de ajudar os oceanos e reverter os danos enquanto podemos”.
Possíveis soluções
O Living Blue Planet Report detalha ainda as
oportunidades existentes para que governos, empresas e comunidades garantam um
oceano vivo e saudável. Medidas importantes para a conservação dos recursos
oceânicos incluem a priorização da sustentabilidade, conservação e recuperação
de capital marinho e consumo mais inteligente e responsável.
Este ano, um estudo do WWF atestou que cada dólar
investido na criação de áreas protegidas marinhas pode render o triplo na forma
de benefícios – por conta de fatores como empregos, proteção de litorais e
produção pesqueira. Essa análise mostrou que o crescimento da proteção de
habitats críticos poderia resultar em benefícios que podem variar entre U$ 490
e U$ 920 milhões acumulados no período 2015-2050.
Em setembro, os governantes assinarão a Agenda de
Desenvolvimento Sustentável para 2030 – cujas prioridades incluem a redução da
pobreza e o aumento da segurança alimentar, temas que tem ligação direta com a
saúde dos oceanos. É essencial que a implementação política e financeira da
agenda de desenvolvimento sustentável traga resoluções sobre destruição de
habitats, sobrepesca, pesca ilegal e poluição marinha.
No Brasil
Em junho deste ano, no Dia Mundial dos Oceanos, o
WWF-Brasil lançou seu Programa Marinho. A iniciativa contribuirá inicialmente
para a compreensão e o atendimento dos impactos de três áreas: sobrepesca,
turismo e poluição. O trabalho será desenvolvido a partir de quatro
estratégias: gestão da qualidade de destinos costeiros; valorização da pesca
sustentável; e fortalecimento e expansão das unidades de conservação (UC’s).
Com 10,8 mil km de extensão, a costa brasileira
percorre 395 cidades, em 17 estados. Uma imensidão azul que abriga ¼ da
população brasileira em um ecossistema único com 3 mil km de recifes de corais
e 12% dos manguezais do mundo. É também um habitat com alta relevância econômica
para o Brasil, tendo no turismo, na pesca e na exploração mineral seus
principais alicerces, mas também com grande potencial biotecnológico e
energético.
“Vivemos um momento crítico na conservação dos
recursos marinhos do Brasil, que sofrem com a pesca excessiva, fraca
fiscalização, poluição, exploração mineral, necessidade de políticas públicas
adequadas para o bioma, além da forte especulação imobiliária e consequente
ocupação desordenada das cidades costeiras. Nossa atuação nos mares brasileiros
visa chamar a atenção da sociedade para essa triste realidade, a importância da
saúde dos oceanos para nossas vidas e como podemos nos mobilizar para
protegê-los”, explica a coordenadora do Programa Marinho e Mata Atlântica, Anna
Carolina Lobo.
Apesar dos recentes avanços de sua conservação no
País, menos de 2% de toda essa biodiversidade está protegida. Preocupado com a
situação e motivado pela necessidade de mudança, o WWF-Brasil está ampliando
sua atuação para o bioma Marinho. Com ampla atuação em biomas como Amazônia,
Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica, a conservação da vida marinha fortalece e
amplia as atividades da organização na proteção do meio ambiente em diferentes
frentes.
Faça o download do documento (em inglês) aqui.
Fonte: WWF Brasil
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